Negócios com café perdem espaço na bolsa brasileira

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Por muitos anos carro-chefe do mercado futuro agropecuário no Brasil, o café perde cada vez mais espaço na bolsa de São Paulo. Entre 2008 e 2012, o volume de contratos futuros e opções negociados na BM&FBovespa recuou 69,4%, de 838,6 mil para menos de 256,9 mil. No primeiro semestre de 2013, foram apenas 73,9 mil papéis.

A redução intensificou-se em 2011, quando o governo instituiu a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas operações com derivativos. A medida afugentou especuladores estrangeiros que, à época, detinham entre 35% e 40% das posições em aberto.

Com a saída de investidores, o mercado doméstico perdeu ainda mais relevância em relação ao da bolsa de Nova York, referência para os preços internacionais do café arábica. Em 2012, foram negociados 6,12 milhões só de contratos de café na bolsa americana – cerca de 25 vezes mais do que na BM&FBovespa.

Rodrigo Costa, diretor da Caturra Coffees, em Nova York, lembra que os especuladores sempre foram os agentes que deram liquidez a esse mercado. Depois, em menor escala, participam do mercado exportadores, importadores e torrefadores.

Recentemente, o governo suspendeu a cobrança do IOF, o que pode abrir caminho para uma recuperação. Fabiana Perobelli, gerente de produtos do agronegócio da BM&FBovespa, afirma que já é possível observar um retorno de estrangeiros ao mercado de opções, mas o movimento só deve amadurecer em alguns meses. "Entre o fim do ano e início de 2014 vamos voltar a ver mercado [para o café]".

Outro fator que pode ter colaborado para o esvaziamento do mercado futuro foi a queda no volume de transações com Cédulas do Produto Rural (CPR). O título, por meio do qual produtores e cooperativas captam recursos no mercado, é geralmente lastreado nos preços do café na BM&F.

O número de CPRs caiu significativamente de três anos para cá, segundo Henrique Sarto, da Costa Comissária de Café, de Varginha (MG). Segundo ele, a corretora negociava, em média, 200 mil sacas de café por mês via CPRs. Hoje, esse volume não chega a 50 mil sacas.

Sarto avalia que o mercado de café "ficou tumultuado" com a queda dos preços após o pico registrado em 2011. À época, quando o preço passou de R$ 500 por saca, produtores perderam o interesse em fazer operações com CPR, pois apostavam que o café iria subir ainda mais. Agora, estariam relutantes em emitir CPRs e travar sua receita com os preços do café abaixo de R$ 300 a saca.

De todo modo, a BM&FBovespa e a americana CME há meses discutem a possibilidade de criar um contrato futuro internacional, negociado em Chicago, para café brasileiro – embora o Brasil seja o maior produtor e exportador mundial de arábica, o contrato futuro negociado em Nova York (o "Coffee C") leva em consideração as especificidades do café colombiano e impõe descontos sobre o preço do café brasileiro.

Fabiana afirma que nada está definido em relação ao novo contrato. No mercado, a proposta é vista com ceticismo devido à grande liquidez do mercado nova-iorquino e ao fato de os exportadores já estarem acostumados a trabalhar com os diferenciais entre a ICE e a BM&FBovespa.

Valor Econômico
Por Carine Ferreira

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