Minas investe no cultivo de café para público sofisticado

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O aumento do poder aquisitivo e a exigência dos consumidores por produtos de maior qualidade têm impulsionado o consumo de cafés com sabor e aroma mais sofisticados, chamados gourmet e especial. No rastro da expansão do consumo da bebida, que saltou de 91% da população, em 2003, para 97%, em 2009, conforme a pesquisa “Tendências de consumo de café”, divulgada em fevereiro pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), produtores mineiros dedicam áreas maiores de seus cafezais tradicionais ao plantio de café especial. O grande atrativo é o preço da saca de 60 quilos, até 30% superior ao do produto comum.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) – sigla em inglês -, Tulio Henrique Rennó Junqueira, o volume de café especial produzido no país ainda é pequeno, de 200 mil a 300 mil sacas/ano, ante estimativa inicial da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o Brasil de 46 milhões a 48 milhões de sacas (arábica e conilon) para a safra 2010.

Em Minas Gerais, o café de qualidade, todo ele arábica, é plantado principalmente no Sul de Minas e no Cerrado, e responde por cerca de 80% da produção nacional. O produto tem destaque também na Bahia, com cerca de 10% do bolo, e aparece em menor quantidade em São Paulo e Espírito Santo.

Só é considerado produto especial pela BSCA o café com classificação acima de 80 pontos. Para alcançar essa exigência, o produtor necessita do aval da entidade, que leva em conta, no processo de classificação, características como aroma, sabor e retrogosto – aquele que permanece na boca após a ingestão da bebida. Rastreabilidade, com denominação de origem, e observação do código de conduta, que atende regras legais, ambientais e trabalhistas, também são fundamentais na obtenção da certificação. “Antigamente, o café era classificado pelos defeitos, entre eles a quantidade de pedras e pedaços de galhos misturados. Esse conceito mudou. Hoje é levado em conta a qualidade”, observa Junqueira.

Existem basicamente três tipos de café no mercado: o comum, o comercial de mais qualidade – onde se concentra parte do gourmet – e o especial. A saca do comum custa, em média, R$ 250. Já o comercial sobe para cerca de R$ 280 a R$ 300 e, o especial, de R$ 350/R$ 380 para cima. Em alguns casos, a saca chega a custar de R$ 800 a R$ 1 mil. No leilão internacional Cup of Excellence, por exemplo, realizado via Internet em janeiro de 2010, com produtores de ponta e selecionados por rigorosos critérios, o preço mínimo de abertura foi fixado em R$ 580 a saca. A média foi de R$ 1.713,87.

Não existe no segmento de café especial quem se dedique exclusivamente ao produto. Cafeicultor em Monte Belo, Sul de Minas, Adolfo Henrique Vieira Ferreira planta café comum desde jovem, e especial há 12 anos. Da produção total de 160 hectares, metade é do tipo fino, que tem como destinos principalmente países da Europa, Estados Unidos e Japão. Na média, o ágio da saca do café especial sobre o comum é de 20%. “Os preços estão estáveis lá fora. O problema é dólar baixo. De toda forma, ainda é um bom negócio. A gente gasta muito para implantar o sistema mas, depois, é só manutenção”, avalia.

De acordo com o também produtor José Renato Gonçalves Dias, do município de Botelhos, no Sul de Minas, para ter sucesso no negócio de café especial é preciso levar em conta várias questões, como investimento em equipamentos, altitude da fazenda, variedade e exposição solar das plantas, além de cuidados pós-colheita, que incluem secagem e armazenagem, entre outros.

O mercado, avalia, encontra-se em expansão. Aos poucos, cafeicultores tradicionais aumentam o espaço de plantio, apesar do alto custo da produção. “O consumo no mercado interno tem crescido bastante, em função principalmente da qualidade exigida pelo consumidor”, conta. Para ele, a tendência é o aumento gradativo da produção do café especial. “Com o alto custo da produção, quem não partir para a qualidade, que remunera melhor, vai ficar para trás”, opina o também diretor da BSCA.

Uma das principais torrefadoras de grãos gourmet e especiais do país, a Café do Centro, de São Paulo, que compra o produto para várias partes do Brasil, inclusive do Sul de Minas e do Cerrado, tem expandido seus negócios.

“Com o crescimento do setor, as vendas não se concentram só na matéria-prima, mas também na assistência direta aos clientes, consultorias e distribuição”, diz o diretor Rodrigo Branco Peres. Segundo a Abic, o mercado de gourmet cresce de 15% a 20% ao ano. Já a torrefadora obteve aumento de 40% nas vendas em 2009. 

* João Alberto Aguiar

Fonte: Hoje Em Dia

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