FOLHA TÉCNICA: Trigo intercalar em cafezais, nas regiões do Sul e Zona da Mata de Minas Gerais

Imprimir
A cultura do trigo pode ser uma alternativa viável para plantio intercalar em lavouras de café.

O trigo é uma cultura milenar, que vem, por séculos, fornecendo a matéria prima para o pão, as massas e tantos outros produtos, que alimentam muita gente. No Brasil o cultivo do trigo é tradicional na região Sul do país, por se tratar de zona com clima mais frio, porém, nas últimas décadas, em função das pesquisas realizadas, o trigo também vem sendo cultivado em áreas de cerrado, em altitudes mais elevadas, na maioria dos casos com uso de irrigação.

Nas lavouras de café o cultivo intercalar é indicado nas situações onde existe maior área livre nas ruas, como ocorre na fase de formação dos cafeeiros, em áreas podadas ou em ´cafezais atingidos por geadas. As culturas intercalares tradicionais em cafezais tem sido o feijão, o milho, o arroz e, ultimamente, também a soja.

O Brasil não é autossuficiente na produção de trigo, e, apesar dos esforços, visando aumentar as safras desse cereal, ainda se importa cerca de 40% do que se consume no país. Por isso, é importante criar novas alternativas de cultivo de trigo. Com o objetivo de estudar a viabilidade de cultivo de trigo, de forma intercalar, em lavouras de café, foram conduzidos 3 campos de teste, no ano de 2022, tendo em vista que não existem estudos para adaptação do trigo nessa condição.

Os trabalhos foram realizados nas regiões do Sul e da Zona da Mata, em Minas Gerais. No Sul de Minas os campos foram conduzidos nas Fazendas Experimentais de Varginha, a cerca de 1000 m de altitude, e em Boa Esperança, a cerca de 800m. As lavouras de café onde o trigo foi intercalado tinham espaçamento em renque e uma boa área livre nas ruas. O trigo foi plantado no espaçamento de 17 cm entre linhas, com 70 sementes por metro. Em Boa Esperança foram plantadas 5 linhas de trigo por rua do cafezal e em Varginha 7 linhas. A variedade plantada foi a BRS 264, cultivar adaptada para o cerrado e para cultivo de sequeiro. O plantio do trigo foi feito em final de março e meados de maio de 2022. Na Zona da Mata de MG foi implantado um teste de cultivo de trigo, cereal totalmente desconhecido na região, sob a forma de um campo de observação, com plantio efetuado em fins de maio/22, O campo foi conduzido no município de São Francisco do Glória, em altitude de 750 m. Foi feita uma adubação no sulco de plantio e uma cobertura nitrogenada, conforme indicação da Embrapa. Foi feita apenas uma aplicação preventiva de fungicida, visando o controle de doenças, porém nenhum problema de doença ou praga foi observado.

Os resultados obtidos, nesse trabalho inicial, mostraram que, apesar da pouca chuva neste ano, as plantas de trigo cresceram e vegetaram de forma satisfatória, o que resultou em produtividades de 1580 kg de grãos por há no ensaio de Boa Esperança e de 1800 kg /há em Varginha. Em Boa Esperança a chuva total no ciclo da cultura foi de105mm, e em Varginha de 36mm e em S. Francisco do Glória de apenas 32,8 mm, Não foram observadas pragas ou doenças, provavelmente por se tratar de regiões pioneiras, onde o trigo não é cultivado. O ciclo observado foi de 123 dias em Boa Esperança e 129 dias em Varginha. Na Zona da Mata a produtividade foi de 1100 kg por há e o ciclo aproximado de 120 dias.

Os resultados obtidos mostram que o cultivo intercalar do trigo em cafezais se mostra viável, indicando ser uma cultura pouco exigente em chuvas. Com regime hídrico mais normal nessas regiões, os resultados de produtividade podem melhorar mais. Verifica-se, ainda, que as condições de temperatura nas regiões cafeeiras do Sul e Zona da Mata de Minas são adequadas, pois as lavouras de arábica são cultivadas em altitudes entre 600 e 1200 m, sendo que as indicações da Embrapa, para o cultivo do trigo, em áreas novas, de cerrado, recomendam cultivo acima de 600 m de altitude. Como a época de cultivo coincide no inverno, a única restrição seria o maior risco em áreas muito sujeitas a geadas, pois a cobertura vegetal torna o ambiente mais frio dentro do cafezal.

Fonte: Fundação Procafé (Por J.B. Matiello e Lucas Bartelega- Engs Agrs e Alisson de Carli Souza – Estagiário, da Fundação Procafé e Claudio M. Barbosa – Técnico Consultor em cafeicultura)