Cresce o mercado de cafés especiais no Brasil, gerando muitas oportunidades

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Diante do crescimento do mercado de cafés especiais, um leque de novas oportunidades se abre para produtores, especialmente na área de gastroturismo.

O Brasil é o maior produtor e um dos maiores exportadores de café commodity do mundo, com 50,92 milhões de sacas do grão beneficiado colhidos em 2022. Mas outro segmento dentro da área que rapidamente cresce é o de cafés especiais.

Estima-se que cerca de 5% a 10% de todo o consumo brasileiro já seja de cafés especiais. Hoje em dia é muito mais fácil encontrá-los em cafeterias, restaurantes, hotéis, na internet e em diversos supermercados.

Todo esse crescimento abre um leque de novas oportunidades para o segmento, com cafeicultores podendo aumentar seus lucros e obter bons resultados com cafés de qualidade cada vez mais apreciados pelo consumidor.

Para falar sobre este mercado e as oportunidades que se apresentam ao segmento, a Agrishow Digital conversou com Vinicius Estrela, diretor executivo da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, sigla em inglês).

Ótima oportunidade para cafeicultores brasileiros

No Brasil, a produção de cafés especiais vem apresentando um rápido crescimento e tendo cada vez mais consumidores no mercado interno e no exterior.

Consequentemente, é um mercado que chama a atenção de muitos cafeicultores que pretendem entrar no segmento.

Para Vinicius Estrela, o mercado de cafés especiais é uma excelente oportunidade para cafeicultores por muitos motivos. “Esses cafés são mais valorizados pelo mercado, com os compradores pagando preços condizentes à qualidade, à origem controlada e à sustentabilidade que esse produto entrega”.

O diretor da BSCA explica que se paga por um café especial a partir de 50% a mais do que se paga por um café convencional, mas pode ser muito mais alto. “Quando pensamos na venda de cafés especiais vencedores de concursos, o céu passa a ser o limite”, afirma.

Para exemplificar, Estrela cita o leilão dos vencedores do Cup of Excellence 2023, cujo campeão teve cada saca de 60 kg de seu lote arrematada pelo equivalente a incríveis R$ 84,5 mil.

Além do fator preço, o segmento dos cafés especiais também cria relacionamentos leais, de médio e longo prazos. “Tal fidelidade proporciona aos produtores desse segmento certa “garantia” de compra do produto ao longo de várias safras futuras”, complementa Estrela.

Manejos específicos conferem a diferenciação do café especial

Tanto os manejos quanto o processamento dos cafés especiais são feitos de maneira que, em cada etapa, preserve-se ao máximo a qualidade potencial dos grãos.

Para o diretor da BSCA todo esse processo começa com o mapeamento de qualidade dos diferentes talhões dentro da fazenda. “Essa medida ajuda o produtor a identificar quais talhões têm potencial para produzir lotes de alta qualidade e que virão receber cuidados especiais durante a colheita e o processamento pós-colheita”.

Nesta etapa, vários experimentos podem ser feitos para decidir qual tipo de processamento será adotado para obter os melhores resultados para um determinado lote, como o processo de colheita natural, cereja descascado, lavado ou fermentado, por exemplo.

Com o processamento definido, o lote receberá cuidado meticuloso e monitoramento contínuo para garantir a qualidade desse café.

Vinicius Estrela ressalta também que a escala de processamento de café especial é pequena, facilitando o processamento. “Microlotes de cafés de altíssima qualidade podem ser de apenas uma saca e, mesmo lotes maiores, raramente enchem um contêiner inteiro (cerca de 320 sacas de 60 kg)”.

Essa é talvez a principal diferença do café convencional para os cafés especiais. “A produção de café commodity é voltada para volume e consistência. Com raras exceções, os produtores de cafés especiais produzem grandes quantidades de café convencional e, pelo mapeamento de qualidade, identificam quais talhões irão beneficiar para processamento especial”.

Por fim, os cafés de talhões de qualidade comercial são processados com todo o devido cuidado para produzir um bom café, mas sem os atributos que o classificam como especial.

Comercialização baseada em relacionamentos de longo prazo

De forma geral, o comércio de café especial considera o preço do mercado internacional, como ocorre com o café commodity. Mas, segundo Estrela, ele é muito mais baseado em relacionamentos de longo prazo.

“A venda de cafés especiais é baseada na aproximação do produtor com seu consumidor, em contar histórias e apresentar boas experiências”.

Além disso, o segmento de Direct trade, quando o produtor exporta diretamente para torrefações e cafeterias, é crescente e vem se tornando comum no mundo dos cafés especiais.

Os lotes comercializados são menores e, às vezes, os clientes compram apenas uma saca (ou menos). “Muitos lotes de cafés especiais são transportados em navios, em contêineres consolidados com outros lotes, mas o alto valor de alguns lotes viabiliza até mesmo transporte aéreo”, ressalta o diretor da BSCA.

Muitas vezes, os cafés especiais vêm de fazendas com certificações socioambientais de sustentabilidade e/ou boas práticas agrícolas e são certificados quanto à qualidade, baseada na avaliação sensorial de cafés especiais.

Expansão do mercado abre novas oportunidades

A expansão do mercado de cafés especiais tem contribuído para o surgimento de novas oportunidades para o segmento, inclusive com novos postos de trabalho. É crescente o número de pessoas que buscam qualificação para conquistar uma vaga no setor.

Baristas e torradores de café, por exemplo, têm ganhado campo com o aumento da produção e do consumo de cafés diferenciados.

Há também um crescimento das lojas virtuais e clubes de assinaturas, dadas as muitas facilidades que oferecem ao cliente, como a praticidade de comprar uma vez e receber em casa diferentes produtos conforme a periodicidade estabelecida.

Outra fórmula que já teve muito sucesso na região da Mantiqueira de Minas, e recentemente começou no Cerrado Mineiro, combina workshops educativos sobre o café com visitas a fazendas e degustações de cafés especiais de diversos perfis sensoriais.

“Essas duas regiões, ambas Indicações Geográficas (IGs) de Denominação de Origem, são pioneiras nessa experiência gastroturística e, sem dúvida, veremos muito mais opções de turismo de café especial no futuro breve”, afirma Vinicius Estrela.

Nessa última oportunidade, Estrela destaca que a BSCA e a Embratur possuem parceria para promover os roteiros turísticos de visita às regiões do país que possuem Indicação Geográfica (IG) de produção de café.

“Essa iniciativa realiza degustação do produto dessas origens produtoras e o storytelling do café e das regiões cafeeiras brasileiras como possíveis destinos turísticos com o objetivo de fomentar o turismo nas 16 IGs do país”, finaliza.

Fonte: Redação Agrishow