Consumo de café dribla incertezas e volta a aumentar

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Apesar de todas as incertezas que cercaram a política e a economia no Brasil em 2018, o consumo de café no país deverá crescer de 3% a 3,5% em relação ao ano passado e somar 22,9 milhões de sacas, de acordo com projeção da Euromonitor International apresentada ontem durante o 26º Encontro Nacional das Indústrias de Café (Encafé), em Punta del Este, no Uruguai.

Segundo a empresa de pesquisas de mercados, o Brasil lidera a demanda global, com uma participação no volume total que gira em torno de 16%. Os números incluem as diferentes categorias de café (torrado e moído, grãos, cápsulas e solúvel), consumidas dentro e fora de casa. “Mesmo com a crise econômica, o consumo continuou forte. Enquanto todas as outras categorias [de bebidas] tiveram queda, o café foi resiliente”, disse Angelica Salado, analista sênior de bebidas da Euromonitor, no encontro promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

A demanda no mercado brasileiro representa um consumo médio anual per capita de 839 xícaras (de 40 ml), segundo a Euromonitor. Pelos números da empresa, que excluem as bebidas à base de café prontas para beber, o Brasil é o maior consumidor de café do mundo, à frente dos Estados Unidos. A Organização Internacional do Café (OIC), o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) e a Abic, que utilizam metodologias de cálculo diferentes, consideram que o país se mantém em segundo lugar.

Na visão de Angelica, os números mostram que o que foi determinante para o crescimento da demanda não foi o comportamento do PIB do país, nem os preços praticados. “Foi a capacidade da indústria de responder às mudanças de mercado que manteve a performance positiva do café”, afirmou. Segundo a analista, o lançamento de novos produtos e a diversificação de canais de distribuição é que permitiram a manutenção do avanço.

O volume de 22,9 milhões de sacas calculado pela Euromonitor equivale a 1,1 milhão de toneladas. A empresa utiliza para os cálculos uma saca de 48 quilos, pois após a torrefação e a moagem o café verde perde umidade.

Conforme Angelica, as empresas do segmento fizeram gestão de seu portfólio para manter as vendas na crise. E ela sugeriu que essa estratégia perdure para que o crescimento se mantenha. Ela acrescentou que o comportamento do consumidor sofreu mudanças em decorrência da crise – como a busca de produtos mais baratos da mesma marca. E que essas “mudanças devem se perpetuar mesmo com a recuperação da economia”. Por isso, disse, “buscar inovação para agregar valor é fundamental”.

O estudo apresentado pela Euromonitor mostra que o café torrado e moído vem perdendo participação para outras categorias nos últimos anos no consumo em geral no Brasil, com um volume de 895 mil toneladas em 2018. Isso representa pouco menos de 80% do total, e a fatia deve cair mais até 2023. Já o café em grão, cujo consumo alcançou 203 mil toneladas neste ano, ganha participação, que deve ficar mais perto de 20% em 2023.

Com o equivalente a 11 mil toneladas do total de consumo em 2018, as cápsulas estão crescendo em ritmo mais lento. Mas, segundo Angelica, até 2023 o avanço anual nessa frente deverá ser de 5% a 7%, dependendo da região do Brasil. A categoria representa 1,9% do volume total consumido. “Ainda existe para avanço”. Para a analistas, um dos fatores que podem continuar estimulando o crescimento é a entrada na categoria de companhias já tradicionais em torrado e moído – caso da alemã Melitta.

Conforme a Euromonitor, hoje no Brasil 8% dos lares têm máquinas para café em cápsulas. Eram 5% em 2015 e a fatia deverá alcançar 15% em cinco anos. Angelica também vê potencial para crescimento na categoria de café solúvel, cujo consumo é estimado a 27 mil toneladas. A categoria concorre com cápsulas e torrado e moído, e a analista vê possibilidade de avanço por meio da diferenciação do produto.

Fonte: Valor Econômico (Por Alda do Amaral Rocha – a jornalista viajou a convite da Associação Brasileira da Indústria do Café – Abic)

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