Brasil na liderança do fornecimento global de cafés sustentáveis, por Marcos Matos e Silvia Pizzol

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País é origem de 1/3 das compras de cafés de esquemas de sustentabilidade reconhecidos pela Plataforma Global do Café

Não é novidade que os critérios de governança socioambiental (ESG) vêm se consolidando como direcionadores dos fluxos de comércio e de investimentos globais. Nas cadeias de fornecimento agroalimentares, isso se reflete na cobrança por mais transparência quanto ao compliance aos direitos humanos e trabalhistas; posse da terra e respeito aos direitos dos povos indígenas e populações tradicionais; conservação dos recursos naturais, incluindo florestas, biodiversidade e água; mitigação e adaptação aos efeitos das mudanças climáticas; entre outros aspectos relacionados à sustentabilidade.

Além do comportamento dos consumidores – que valorizam cada vez mais o consumo responsável e querem se certificar que a satisfação de sua demanda não gera prejuízos ambientais e sociais localmente e globalmente –, os principais mercados de destino do café brasileiro vêm aprovando legislações que obrigam a realização
de devida diligência obrigatória ao longo das cadeias de fornecimento, visando assegurar que os produtos importados respeitam os critérios ESG.

Este é o caso do recém-aprovado regulamento europeu antidesmatamento, da proposta de diretiva europeia de diligência devida de sustentabilidade corporativa e da lei alemã de devida diligência em cadeias de fornecimento, vigente desde janeiro de 2023. Outros países, como Reino Unido, Suíça e Estados Unidos também possuem debates para novas regras ao comércio não ligado ao desmatamento e questões de responsabilidade social corporativa.

O segmento exportador, por meio dos seus diversos programas e protocolos, atua no campo há muitos anos para apoiar a melhoria contínua da sustentabilidade das diversas origens produtoras de café do Brasil. Por esses esforços e investimentos de longa data, os exportadores transformam o fornecimento sustentável em uma importante contribuição para a melhoria do bem-estar social, da qualidade de vida e da conservação dos recursos naturais nas origens produtoras.

O resultado desses esforços pode ser observado no recém-publicado relatório Snapshot 2022 de Compras de Café Sustentável, da Plataforma Global do Café (GCP), que torna público o volume de compras de cafés de esquemas de sustentabilidades reconhecidos pela GCP por oito empresas globais: JDE Peet’s, Keurig Dr Pepper, Melitta Group, Julius Meinl, Nestlé, SUPRACAFÉ, Tesco, Westrock Coff ee Company.

Entre os 34 países de origem das compras de cafés de esquemas de sustentabilidade reconhecidos pela GCP, o Brasil desponta como o principal fornecedor global de cafés sustentáveis, sendo responsável por 533.295 toneladas, ou 33% de todo o volume de compras sustentáveis declarado pelas empresas supracitadas, que foi de 1.606.909 toneladas.

Em relação ao Snapshot 2021, o volume declarado de compras de cafés sustentáveis do Brasil pelas empresas globais à GCP cresceu 49% – houve um significativo salto das 357.337 toneladas informadas no ano anterior para as 533.295 toneladas registradas no atual relatório.

Esses números indicam a capacidade das regiões produtoras do Brasil de atenderem ao crescimento da demanda global por cafés sustentáveis. Por outro lado, no relatório também é possível observar a grande variedade de esquemas de sustentabilidade e multicertificações que atualmente coexistem nas regiões produtoras, gerando um problema de aumento de custos operacionais e demandando muita dedicação e tempo dos cafeicultores para o atendimento das múltiplas exigências das auditorias e verificações e comprovação das multe equivalências.

O Cecafé, por meio de seu pilar de responsabilidade social e sustentabilidade, pretende trazer luz a essa necessária discussão, para que o setor avance em conceitos e ferramentas que reduzam os custos operacionais e a complexidade das verificações e comprovações do cumprimento dos parâmetros ESG ao longo da cadeia de abastecimento. Com a aplicação de tecnologia e conhecimento para a simplificação de processos, o Brasil se fortalecerá na liderança global do fornecimento de cafés sustentáveis.

* Por Marcos Matos – Diretor Geral do CECAFÉ e Silvia Pizzol Gestora de Sustentabilidade do CECAFÉ

Fonte: Cecafé | Via Notícias Agrícolas