Aumento de temperatura pode ser positivo para o café

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O aquecimento global é um fato que exige resposta tecnológica, na forma de desenvolvimento de variedades genéticas melhor adaptadas à transição climática, avalia o agrônomo Eduardo Assad, ex-secretário executivo do Programa de Recursos Naturais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), onde foi responsável também pela criação do laboratório de Biofísica Ambiental.

"Não estamos mais questionando se há aquecimento ou não, mas sim desenvolvendo pesquisas para adaptar as plantas, para que possam continuar crescendo num ambiente de temperatura maior", disse Assad, durante apresentação no Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (FEED 2010), promovido pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Ele apresentou tabulações das temperaturas locais em diferentes cidades brasileiras, como Pelotas (RS) e Governador Valadares (MG), que indicam que o fenômeno é perceptível nas diversas regiões brasileiras desde a década de 1960.

Segundo ele, o aumento de temperatura não significa apenas más notícias. "O risco de geadas está mais reduzido, o que é muito bom, por exemplo, para o café", disse. Em contrapartida, ainda tomando como exemplo o café, ele apresentou imagens de arábica – menos resistente ao aumento de temperatura – submetido a três dias seguidos de temperaturas entre 33 e 34 graus quando já estava florido. "Se há deficiência de água, o resultado é este", disse, mostrando os frutos calcinados pelo calor.

Se variedades mais resistentes não forem encontradas – Assad citou um possível "arabusta", em que a arábica adquiriria a maior afinidade ao calor da variedade robusta -, a tendência, diz o pesquisador, é de que o "café passe a ser produzido em altitudes maiores ou regiões mais amenas".

A mudança do zoneamento dos diferentes cultivos não se limitaria ao café. "Há um estudo em Santa Catarina que mostra que se houver um aumento de 2 graus na temperatura, a produção de maçãs se tornaria inviável. Mas já estão se preparando para que, se isso acontecer, haja a substituição por bananas caso não se consiga o melhoramento genético das maçãs", disse o pesquisador.

Assad considera que as Regiões Sul e Sudeste estão bem preparadas para a eventual adaptação à mudança climática, em virtude da prioridade dada à pesquisa de variedades de arroz, feijão, milho e soja. "Minha preocupação é com o Nordeste, onde não estão sendo estudados os cultivos locais, como umbu, seriguela ou cajá-manga. Qualquer esforço de adaptação no Nordeste vai levar no mínimo 15 anos."

Ainda que os desafios da mudança climática pareçam grandes, Assad acredita que a pesquisa agrícola é capaz de fornecer respostas à altura. "Em 1977, pesquisadores dos Estados Unidos diziam que seria impossível produzir soja em baixas latitudes. E hoje temos metade da soja produzida no Hemisfério Norte e metade no Hemisfério Sul."

Sobre a pecuária, o pesquisador disse que o setor tem condições, de adotar uma atitude menos "reativa" e mais "proativa", de abandonar a condição de "vilã" para assumir a de "protagonista" no combate ao aquecimento global. "Pastagens degradadas são emissoras, mas as pastagens bem manejadas são excelentes sequestradoras de carbono."

* A reportagem é de Luis Eduardo Leal para a Agência Estado, adaptada pela Equipe CaféPoint.

Fonte: CaféPoint

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