Café despolpado promete garantir mais mercado ao País

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O Brasil deve apostar no café despolpado para preencher a lacuna deixada pela Colômbia – concorrente direta brasileira na exportação de café, junto com Vietnã. É o que explica Gil Carlos Barabach, analista do grupo Safras & Mercado: "O café suave [colombiano] teve queda significativa na produção nos últimos dois anos e começa a ficar escasso no mercado externo". Segundo Barabach, as indústrias têm de buscar alternativas e, por isso, o Brasil aposta no café despolpado que é mais caro e passa por um processo diferente e que se assemelha aos cafés lavados do vizinho sul-americano.

Para Guilherme Braga, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CeCafé), o País ganha espaço com a baixa produtividade cafeeira na Colômbia. "A queda da produção deles abre uma oportunidade para o Brasil. De algum modo, a gente tem ocupado esse espaço", disse Braga. E completa: "O café despolpado é vendido ao mesmo preço ou até superior aos cafés da Colômbia. Ano passado, foi superior ao colombiano".

No entanto, o diretor admite que as constantes chuvas também prejudicaram os cafezais brasileiros, que passam por uma época de baixa produção. "Nós tivemos uma dificuldade na colheita devido ao excesso de chuvas. Isso comprometeu a qualidade da safra, embora o Brasil tivesse ocupado alguns mercados, a chuva tirou a condição de ser um competidor mais agressivo", contou Braga.

Embarques

Recentemente, o Escritório Geral de Estatísticas do Vietnã informou que as exportações de café do país devem cair em março 20% em termos de volume e 25% em valor na comparação com igual período de 2009. Ainda de acordo com o escritório, os embarques de café em março devem chegar a um total de 110 mil toneladas, ou 1,83 milhão de sacas de 60 quilos, avaliadas em US$ 149 milhões.

Em março de 2009, o Vietnã exportou 136 mil toneladas, somando US$ 199 milhões. Até o momento no atual ano-safra, que teve início em outubro do ano passado, o País embarcou 610 mil toneladas, ou 10,17 milhões de sacas de 60 quilos – uma queda de 8,3% frente ao mesmo intervalo do ano anterior.

Barabach atribui essa baixa às questões climáticas. "Tanto o Vietnã quanto os países da América central tiveram problemas. É um ano de questões climáticas e isso influenciou diretamente nas exportações", explicou o analista. Para se adaptar ao mercado, segundo Barabach, o consumidor também passou por uma mudança de comportamento. "O que houve na verdade é uma mudança de status, ou seja, aquele consumidor que procurava um café de melhor qualidade, passou a procurar café mais barato", afirmou o analista.

O Brasil também perdeu em exportações. Segundo a Secretaria de Comércio do Exterior (Secex), o embarque de julho de 2008 até fevereiro de 2009 caiu 5,7 %. No mesmo período, o País exportou 21,3 milhões de sacas de café, enquanto de julho de 2009 a fevereiro de 2010, foram embarcados 20 milhões de sacas, equivalente a 60 quilos de café verde e solúvel (comparado ao café verde).

A nova temporada do café, a safra 2010-2011, é considerada de alta produção e se inicia em julho. Para Guilherme Braga, é estimado para o novo ciclo uma produtividade que fique por volta de 50 milhões sacas. "Mas, claro, isso depende do clima para contar com um café mais apurado, com mais bala na agulha", afirmou.

Despolpado de caixa

O café que tem potencial para competir igualmente no mercado internacional com os cafés suaves colombianos no mercado internacional passa por um processo de produção diferente dos demais (arábica e conillon).

"O despolpado de caixa é selecionado ainda na lavoura. É a fruta madura de cor vermelha ou amarela", disse Clóvis Venâncio, degustador de café que faz parte do júri de cafés especiais do Brasil. Além da cuidadosa seleção desse grão, o processo na máquina também muda. Segundo o degustador, a fruta é espremida, mas, em vez ser colocada em um terreno para secar, ela vai para um tanque de repouso para fermentar. "Esse processo dura, geralmente, de dez a 12 horas. Só aí, o café é mandado ao terreiro para secagem", contou Venâncio.

O Brasil deve apostar no café despolpado para preencher a lacuna deixada por Colômbia e Vietnã. O despolpado é mais caro e passa por um processo semelhante ao dos cafés lavados do vizinho sul-americano.

* Diego Costa

Fonte: Diário Comércio Indústria e Serviços

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