Verba curta ameaça pesquisas; inclusive de café

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A escassez de recursos enviados às universidades federais vem afetando não só a comunidade acadêmica como também trabalhos importantes de pesquisas científicas. Referência nacional em estudos no setor agrícola, a Universidade Federal de Lavras (Ufla) passa por um contingenciamento de cerca de R$ 30 milhões. Estudos em parceria com outras instituições estão sendo prejudicados. Carro-chefe da instituição, a área de pós-graduação tem hoje 51 cursos, mas sofrerá cortes. Segundo previsões não confirmadas, o ajuste no custeio de mestrados e doutorados pode chegar a 75%.

A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) é uma que tem trabalhos em conjunto com a Ufla e depende de recursos federais para pesquisas sobre o café. Segundo o chefe do centro de pesquisa da Epamig no Sul de Minas, Rogério Antônio Silva, o orçamento previsto para este ano gira em torno de R$ 1 milhão e não foi enviado pela União. “Era para termos recebido em abril, mas adiaram para outubro. Os projetos estão parados porque não está vindo recurso. Isso pode ocasionar atrasos nos resultados das pesquisas e até comprometer trabalhos feitos anteriormente”, afirmou Silva.

Ele explica que toda verba de pesquisa é importante porque o trabalho é feito por vários anos. No caso do café, cujo cultivo é longo, a cada ano é desenvolvida uma avaliação programada, levando em consideração o período e a influência do clima.

“Se você interrompe uma avaliação hoje, você pode prejudicar também o ano que vem. Esperamos que a verba seja liberada no segundo semestre para que ainda dê tempo de fazer alguma coisa neste ano”, destacou Silva. As pesquisas são voltadas para o melhoramento do café, para obter materiais resistentes a determinadas doenças, melhor qualidade e cafés especiais.

Teses. Muitos profissionais dependem dos resultados das pesquisas para concluir teses de mestrados e doutorados. O professor Marcelo de Carvalho Alves, da coordenação da pós-graduação em engenharia agrícola da Ufla, afirma que os recursos estão limitados e que isso impacta os prazos dos projetos. “Há recomendação de não viajar para encontros temáticos, as bancas com pessoas de fora estão sendo feitas por videoconferência porque não pode pagar a vinda do profissional para a universidade. Um equipamento que estragou no departamento que custa R$ 10 mil para arrumar não terá verba”, descreveu o professor.

Os professores aderiram à greve dos servidores técnico-administrativos e o sindicato da categoria afirma que uma das pautas é pela não privatização da universidade federal. “A instituição caminha para isso. Cerca de 50% dos trabalhadores da unidade já são terceirizados, porque os técnicos aposentam e não tem novo concurso”, afirmou Alves.

A Ufla possui atualmente 13 mil alunos. Nos últimos dez anos, houve uma expansão da oferta de cursos e o número de estudantes cresceu mais de 200%.

Entenda. Nesta quinta, O TEMPO mostrou a situação financeira e os impactos do arrocho em sete das 11 universidades federais mineiras.

As instituições tentam reverter a previsão de corte de 47% nos investimentos e 10% no custeio. Os reitores se reuniram com o Ministério da Educação (MEC) para debater prioridades, já que a União confirmou menos R$ 1,9 bilhão nos orçamentos.

Resposta
Silêncio
. Procurada, a direção da Ufla não se pronunciou. O Ministério da Educação afirma que as universidades têm autonomia e que só vai divulgar o valor dos cortes em agosto.

Saiba mais
Unifei.
A Universidade de Itajubá informou nesta quinta que está operando com restrições. Houve cortes na quantidade de bolsas ofertadas, e as bancas de defesa de tese estão acontecendo com uso de videoconferência, para reduzir os gastos com viagens. Como a instituição se encontra com várias intervenções em andamento, os maiores volumes de recursos pleiteados no MEC foram em capital, para obras, mas ainda não há retorno.

UFU. A Universidade Federal de Uberlândia informou que os repasses de verba têm sido de 40% a 50% das necessidades e há fornecedores sem receber. O déficit é de R$ 27 milhões. Segundo a UFU, contratos estão sendo refeitos, e apenas o essencial está sendo comprado para as atividades de ensino.

Fonte: O Tempo (Joana Suarez)

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