Queda de preços do café robusta abre espaço ao conilon brasileiro

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Se o seu café instantâneo parece estar com um toque mais suave ultimamente, provavelmente isso é decorrência de uma mudança na dinâmica do mercado global da commodity agrícola.

Os preços do café robusta, frequentemente utilizado na produção da bebida instantânea, caíram 25% nos últimos 12 meses na bolsa de futuros de Londres, a ICE, graças em grande parte a um excesso na oferta de grãos brasileiros que foram vendidos com a recente desvalorização do real. Os futuros com vencimentos em três meses fecharam, na sexta-feira, a US$ 1.653 por tonelada.

Enquanto isso, os produtores de café no Vietnã, o segundo maior produtor mundial de café atrás do Brasil, também estão sentados em uma crescente pilha de grãos, esperando por uma recuperação nos preços antes de venderem o produto.

Os estoques de café robusta na bolsa de futuros ICE quase dobraram nos últimos 12 meses, principalmente devido ao influxo dos grãos brasileiros, conhecidos como conilon. O real enfraquecido tornou mais atraente para os produtores brasileiros vender o café do que estocá-lo. Diferentemente, as exportações de café do Vietnã – o maior produtor global de robusta – caíram 22% na safra 2014-15, encerrada em 30 de setembro.

Para os torrefadores de café, existe agora um enorme incentivo para usar o conilon brasileiro em vez da variedade vietnamita que está sendo vendida com um prêmio de mais de US$ 100 a tonelada, além dos custos com frete, em comparação ao preço à vista do produto brasileiro, segundo Carlos Mera, analista do Rabobank. 

Isso, por sua vez, pode afetar o gosto do café. O conilon tem um sabor menos intenso que o robusta do Vietnã, que os especialistas descrevem como mais terroso e um pouco viscoso.

"Não dá para trocar um tipo de café por outro, mesmo quando se tratam das mesmas espécies", diz Spencer Turner, vice-presidente do Coffee Analysts, um laboratório independente de testes café, no Estado americano de Vermont.

Uma grande dúvida existente hoje no mercado de café é por quanto tempo os produtores do Vietnã conseguirão segurar seus estoques.

Estimativas com relação ao montante do volume da safra passada que permanece nas mãos dos produtores variam muito. Grande parte do estoque é armazenada nas casas dos produtores – inclusive embaixo da cama, nos cantos da sala e também em armazéns privados – e é muito difícil de contabilizar. O café estocado no Vietnã pode chegar a cerca de 150 mil toneladas, segundo um operador de Cingapura. Outros acreditam que o volume é muito maior.

"Produtores e pequenos operadores no Vietnã ainda estão mantendo entre 400 mil e 500 mil toneladas de café da safra anterior", disse Tran Duc Tho, diretor-presidente da Duc Nguyen Coffee Co., empresa de negociação na província de Dak Lak, a maior região produtora de café do Vietnã. A safra de café no Vietnã começa em outubro, com a colheita atingindo seu auge até o fim de novembro.

O negociador de café Tong Teik, que opera no Vietnã, estima que os produtores estão segurando 182 mil toneladas, ante 11 mil toneladas no fim do ano-safra anterior, com cerca de 336 mil toneladas no total estocadas no país.

Do Kim Lien, produtor de café de Dak Lak, é um exemplo das atitudes tomadas por muitos produtores do Vietnã.

"Eu tenho cerca de quatro toneladas restantes da safra passada", diz ele. "Eu quero vendê-las, mas os preços estão muito baixos. Eu não vou vendê-las aos preços atuais." Embora alguns de seus vizinhos tenham começado a vender os estoques, Lien está segurando os grãos pelo menos até os preços atingirem em torno de 40 mil dongs vietnamitas (US$ 1,79) por quilo ante os atuais 35 mil dongs por quilo.

Essa não é a primeira vez que os pequenos produtores seguram o produto em busca de melhores preços. Mesmo em algumas partes das áreas produtoras de café mais remotas, os produtores podem checar os preços do café robusta em Londres instantaneamente através de telefones celulares, o que os habilita a saber o melhor momento para vender seus grãos.

Além da incerteza em relação aos níveis dos estoques, os operadores de café também estão preocupados com as condições climáticas deste ano em função do El Niño, que já está fazendo com que o clima fique mais seco no Vietnã, na Indonésia e na América do Sul, o que pode prejudicar as safras e levar a uma queda na oferta.

"Se o clima no Brasil não se firmar, ficaremos com muitos problemas" de oferta, diz um operador de café de Cingapura.

Fonte: Valor Econômico

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