Polpa de café vai virar fertilizante

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Daniela Fernandes | Para o Valor, de Paris

Uma startup franco-brasileira está desenvolvendo um projeto de alta tecnologia na área agrícola com apoio financeiro e logístico do governo francês: a empresa quer reciclar a polpa do café, jogada fora no processo produtivo, para transformá-la em carvão vegetal e usar o produto como fertilizante.

“No Brasil, 80% dos fertilizantes das lavouras de café são importados. Isso representa 25% do custo de produção”, afirma Emmanuel Thiéry, cofundador da startup Cophenol.

Além de defender o modelo de economia circular, que respeita o desenvolvimento sustentável, eliminando resíduos produtivos, a startup trabalha para que o fertilizante orgânico obtido com a polpa do café possa aumentar o rendimento da plantação. Esse reaproveitamento contribui, ainda, para a redução das emissões de CO2, o que pode permitir a obtenção de certificações ambientais. Com esse tipo de selo, o produtor consegue vender seu café a preços melhores, lembra Thiéry.

O projeto começou em 2014, quando Thiéry, formado em física e química, passou a estudar meios para reciclar resíduos do café. A tecnologia para reutilizar o pó de café usado já existe, mas no caso da polpa isso é pouco pesquisado. O encontro com a catarinense Mariana Bittencourt, doutoranda em economia ambiental em Paris e também cofundadora da Cophenol, acelerou o processo no ano passado.

Após uma visita a produtores de café da região do Cerrado Mineiro, eles decidiram focar na produção de carvão vegetal devido à necessidade dos agricultores de reduzirem custos com fertilizantes.

A Cophenol foi a única startup brasileira entre as 23 escolhidas de um total de mais de 700 projetos recebidos pelo programa “French Tech Ticket”, oferecido pelo governo da França a estrangeiros (apenas um francês pode integrar cada equipe). O programa visa criar, em Paris e outras cidades do país, “Vales do Sicílio” de inovação em diversas áreas.

A França vem investindo pesado para atrair startups internacionais. Além de bolsas, cujo montante será de € 45 mil por projeto a partir de 2017, o governo oferece logística.

A primeira edição do “French Tech Ticket” começou em março em Paris. No lançamento do programa, os fundadores da Cophenol foram recebidos em uma cerimônia no Palácio do Eliseu pelo presidente François Hollande e pelo ministro da Economia, Emmanuel Macron.

A “incubadora” da Cophenol fica na região do Sentier, bairro popular de Paris que concentra confecções. As pesquisas científicas são feitas no laboratório da Universidade Paris 13, sob a responsabilidade de Moussa Dicko, outro membro da startup.

Mariana estabeleceu contatos com a Embrapa e com institutos no Brasil, como a Universidade de Lavras, em Minas, e o Instituto Agrônomo de Campinas (IAC), que poderão se associar às pesquisas no futuro.

O processo para transformar a polpa do café em carvão vegetal é realizado por meio de pirólise (aquecimento). O método, diz Thiéry, permite obter uma biomassa de melhor qualidade e que pode ser usada como fertilizante em menor quantidade, diminuindo custos para os produtores. “O carvão vegetal que existe hoje é limitado a certos tipos de uso e deve ser utilizado em grandes volumes”, afirma ele.

Os estudos estão voltados ao café arábica, o mais produzido no mundo, e o objetivo da Cophenol é firmar parcerias com cooperativas brasileiras. A Cophenol também está desenvolvendo a transformação de resíduos de cereais, como canola, em carvão vegetal e bio-óleo. Essas atividades estão voltadas para a França e devem avançar mais rapidamente a partir do próximo ano, avaliam os fundadores da startup. Ela receberá em breve mais alguns milhares de euros de outro órgão francês para avançar em suas pesquisas.

Fonte: Valor Econômico Via CNC

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