Consumidores globais estão dispostos a pagar mais pela sustentabilidade

Tendências denotam que a adoção de práticas ESG torna a cafeicultura mais competitiva

O consumo responsável e a demanda por mais transparência quanto à adoção dos critérios de governança socioambiental ao longo das cadeias produtivas são uma tendência sem volta.

Pesquisas recentes destacam que a preocupação com questões ambientais tem influenciado o comportamento dos consumidores. Este é o caso da Voice of the Consumer Survey1 , realizada pela Pwc, que coletou opiniões de mais de 20 mil consumidores em 31 países de diferentes regiões do planeta sobre uma ampla gama de questões, incluindo a sustentabilidade.

Questões relacionadas à dimensão ambiental da sustentabilidade se destacaram nas respostas obtidas. Cerca de 85% dos entrevistados relataram já terem sido pessoalmente impactados pelas consequências das mudanças climáticas, tornando a preocupação com o meio ambiente um fator de influência nas decisões de compra para grande parte desse extrato de consumidores. Entre os respondentes, 46% afirmaram que estão comprando produtos mais sustentáveis para reduzir seu impacto pessoal no meio ambiente.

https://www.pwc.com/gx/en/issues/c-suite-insights/voice–of-the-consumer-survey.html

Os consumidores também afirmaram estarem dispostos a pagar um prêmio pela sustentabilidade, de cerca de 10% a mais que o preço médio dos produtos. Os atributos sustentáveis que têm mais impacto nessa decisão de compra são aquele tangíveis, como: minimização da geração de resíduos nos processos produtivos e reciclagem; embalagens ecológicas; capacidade do método de produção causar impacto positivo na natureza e na conservação da água; e na dimensão social, a adoção de práticas éticas, como o respeito aos direitos humanos.

O comportamento dos consumidores denota a importância da adoção das práticas sustentáveis na produção do café e a existência de rastreabilidade para transparência e reconhecimento dos atributos socioambientais embutidos nos grãos.

As boas práticas de governança socioambiental se consolidam como fator de competitividade para o acesso a mercados mais exigentes e tornam o produto elegível ao prêmio que os consumidores estão dispostos a pagar. Além disso, tornam os sistemas produtivos mais resilientes aos impactos das mudanças climáticas, mitigando perdas e impactos de choque externos.

Entre essas boas práticas, estão aquelas que fazem parte do escopo mais amplo de agricultura regenerativa, como o maior aporte de matéria orgânica no solo, a manutenção do solo coberto, a preferência por insumos biológicos e organominerais, entre outras.

Conforme demonstrado pelos estudos desenvolvidos no âmbito da agenda de carbono do Cecafé2 , tais práticas são climaticamente amigáveis, pois, devido à sua adoção, a cafeicultura mineira retém 10,5 t CO2eq/ha no solo e nos cafezais a mais do que emite para a atmosfera.

No Espírito Santo, as boas práticas fazem com que o balanço de carbono se torne cerca de três vezes mais negativo – o que é bom –, no cenário de mudança de uso do solo de pastagem para produção de café conilon, sequestrando 8,24 tCO2eq/ha/ano a mais do que é liberado para a atmosfera.

https://www.cecafe.com.br/site/wp-content/uploads/2022/05/cecafe_relatorio_imaflora_vf.pdf e https://www. cecafe.com.br/

Outro diferencial que vai ao encontro dos anseios dos consumidores é o fato da cafeicultura brasileira ser a única no mundo que é desenvolvida preservando a vegetação nativa por meio das áreas protegidas dentro das propriedades rurais, na forma de reserva legal e de preservação permanente, que têm um papel fundamental na conservação da água.

As pesquisas da agenda de carbono do Cecafé identificaram que a quantidade média de carbono estocada nas áreas produtoras avaliadas nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo estão no intervalo de 183 t a 338,6 t de CO2eq para cada hectare de café cultivado. Um benefício ambiental que está embutido em cada contêiner de cafés do Brasil exportado ao mundo.

Além dos aspectos ambientais, a dimensão social da sustentabilidade é de grande relevância. No Brasil, o café é uma cultura que viabiliza produção agrícola em pequena escala, fixando os pequenos produtores no campo, gerando renda e desenvolvimento às comunidades. Isso pode ser observado a partir do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, um indicador que mede longevidade, educação e renda.

Existe uma correlação positiva entre o IDHM e o cultivo de café. Em média, quanto maior a área cultivada com café nos municípios dos principais Estados produtores de café, melhor é esse índice.

A renda gerada pelo café beneficia também muitas famílias de trabalhadores que vivem em regiões menos desenvolvidas do Brasil. O período de colheita dos grãos é uma oportunidade para esses trabalhadores garantirem o sustento de suas famílias por muitos meses.

Por isso, levar conhecimento e ampliar a conscientização dos produtores e trabalhadores sobre o amplo, complexo e rígido aparato regulatório existente no Brasil para a proteção dos direitos humanos e trabalhistas é fundamental para a melhoria contínua da sustentabilidade.

Nesse sentido, o trabalho educacional e de combate à desinformação desenvolvido pela Iniciativa Bem-Estar Social na Cafeicultura, que é coordenada pelo Cecafé, Plataforma Global do Café e InPacto, tem sido de grande importância para a promoção do trabalho decente, fortalecendo o papel do café brasileiro de vetor de desenvolvimento humano.

A Plataforma EAD do Programa Produtor Informado do Cecafé3 e a Série Trabalho e Bem- Estar na Cafeicultura 4 são os principais veículos das informações produzidas no âmbito da Iniciativa sobre saúde e segurança no trabalho, recrutamento ético de trabalhadores na colheita do café e respeito aos direitos humanos.

Uma importante prática que vem sendo estimulada no âmbito da Iniciativa Bem-Estar Social na Cafeicultura é a melhoria das condições de saneamento das propriedades cafeeiras, por meio da instalação de biodigestores. Assim, são unidos benefícios ambientais, como redução de emissão de gases de efeito estufa e da contaminação da água, e sociais, como melhoria da qualidade de vida, segurança e bem-estar dos moradores e trabalhadores das fazendas.

https://www.produtorinformado.com.br/
https://www.plataformaglobaldocafe.com.br/biblioteca

As boas práticas adotadas na cafeicultura e todas as ações desenvolvidas em prol da melhoria contínua da sustentabilidade denotam que os cafés do Brasil estão bem-posicionados para abastecer os mercados mais exigentes em ESG e estão alinhados aos anseios dos consumidores globais por produtos socioambientalmente responsáveis.

Fonte: Cecafé