Lideranças fazem balanço da safra 2010 do café

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Com o encerramento da safra 2010 do café, é hora dos envolvidos na cadeia produtiva fazerem o balanço do ano. A terceira estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), divulgada no início de setembro, confirmou a previsão feita em maio de que a produção de café este ano chegaria à casa das 47 milhões de sacas de 60 quilos.

O presidente do Conselho Nacional do Café (CNC) e diretor financeiro da União Cooperativa Agropecuária Sul de Minas (UNICOOP), Gilson Ximenes, também ratificou as informações, mas ressaltou que ainda é necessária atenção do governo Federal para com o setor. Mesma opinião do presidente da Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (COCATREL), Francisco Miranda de Figueiredo, que apesar de tudo, confirmou que o ano de 2010 foi melhor para o setor.

A quantidade apontada pela terceira estimativa da CONAB é que a produção brasileira de café este ano será de 47,2 milhões de sacas de 60 quilos. Destas, 36,0 milhões são da variedade arábica e 11,2 milhões da conilon. Mas de acordo com o pronunciamento do presidente do CNC, só com o encerramento total da safra 2010, que ainda não acabou, é que será possível determinar exatamente a quantidade, uma vez que parte do produto colhido não atendeu as expectativas iniciais. “Ainda podemos ver uma revisão para baixo desse volume, principalmente em função da inversão climática ocorrida no final do ano passado e dos níveis de tratos culturais abaixo do ideal devido à falta de renda do cafeicultor”, afirmou Ximenes.

Apesar de fechar com uma safra menor que a previsão para este, 2009 foi mais um ano péssimo para o cafeicultor, na opinião do presidente da COCATREL. “A safra de 39,47 milhões de sacas foi um volume considerável em função da produção regular das lavouras da região que em sua maioria foram plantadas na mesma época. E em países como o Brasil, que não tem política agrícola ativa, com formação de estoque regulador e de preço mínimo, não pode haver produção em excesso. Se isso acontecer quem fica prejudicado é o próprio produtor”.

E agora, um pouco mais longe do pessimismo de 2009, Miranda afirmou que este ano foi mais positivo. “Não tenha dúvida que este ano que estamos encerrando foi melhor que 2009. E 2011 será melhor que 2010. Apesar dos produtores carregarem esse endividamento de 10 anos ou mais, vendendo café abaixo do preço de produção, eles se viram para cuidar das lavouras, que são seu patrimônio, e ainda se mantêm vivos no mercado”.

O otimismo do presidente da cooperativa pode ser traduzido em números. Em 2009, a maior parte do produto foi comercializada na casa dos R$260,00 a saca de 60 quilos. E este ano, apesar da instabilidade apresentada no mercado, principalmente no mês de setembro, a COCATREL negociou cafés de associados acima de R$300,00 a saca de 60 quilos. “Conseguimos vender café até por R$325,00 a saca livre para o produtor. Mas esse preço não está se mantendo. E agora, neste mês, esse mesmo café, o preço que encontramos no mercado vai de R$305,00 a R$310,00 a saca livre”, explicou Miranda.

O presidente do CNC fez questão de destacar mais um ponto positivo em 2010, o trabalho da CONAB. “Devemos destacar a credibilidade do trabalho desenvolvido pela CONAB e repudiar as especulações que surgem sobre o tamanho da nossa safra por parte de empresas privadas (principalmente internacionais) ou de outros governos, as quais ventilam números sobre a safra brasileira com o intuito único de obter vantagens comerciais”.

Mas por outro lado, em meio aos elogios ao ano corrente e aos trabalhos dos envolvidos na cadeia produtiva do café, tanto presidente do CNC, quanto da COCATREL, compartilham da opinião de que ainda faltam políticas públicas para o setor. E para Ximenes, o problema não deve ser considerado como sendo apenas de Minas Gerais. “Não se deve achar que o endividamento é um problema pontual dos mineiros, pois assim o aparenta devido ao fato do Estado ser também o que detém o maior número de produtores, portanto, essa concentração se justifica. Mas perguntem aos paranaenses, paulistas, baianos, entre outros, se o problema do endividamento é apenas de Minas”, comentou Ximenes.

E disse mais, “o Conselho Nacional do Café também gostaria de solicitar que nossos governantes, independente de final de mandato, uma vez que a cafeicultura permanece, atentassem à renegociação de nosso passivo financeiro, pois os bons preços atuais de nada valerão sem um apoio público para liquidarmos nossas dívidas e passarmos a trabalhar com rentabilidade”.

Já Miranda, falou que é necessário cair esse estereótipo de “barões do café” que ainda ronda os produtores. Ele afirmou que a realidade da cafeicultura é outra. “Parece que isso não acaba. Hoje é totalmente diferente. A maior parte dos produtores é pequena. E o governo sabe disso, mas finge que não enxerga. E por isso torcemos para que esses novos governantes, tanto do estado, quanto da União, olhem o setor de forma menos crítica e realmente façam políticas agrícolas de sustentação de preço. É o que esperamos para que o produtor possa ter uma vida mais digna”, desabafou.

* André Silva Rosa

Fonte: Jornal Correio Trespontano

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