Lavazza vai investir 10 milhões de euros em fábrica no Brasil para fazer café

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Giuseppe Lavazza pode ser considerado um xeque como os magnatas árabes do petróleo. Mas seu "ouro negro" não é o mesmo que brota dos países do Oriente Médio. Ele é o "príncipe herdeiro" da italiana Lavazza, a maior empresa familiar de café expresso do mundo, e está ampliando a operação no Brasil, onde a companhia chegou há cinco anos.

A Lavazza foi fundada em 1895 como uma pequena lojinha de secos e molhados por Luigi Lavazza, bisavô de Giuseppe, na cidade de Turim, a capital italiana do sorvete, do chocolate e, claro, do café. Agora, a Lavazza está prestes a incrementar o café do consumidor brasileiro com um investimento de ? 10 milhões de em uma fábrica em Queimados, no Estado do Rio de Janeiro.

"Queremos que o brasileiro aprecie seu cafezinho de um modo muito mais especial", diz Giuseppe Lavazza, de 54 anos – um italiano magro, alto, simpático. "Afinal, o café é a a commodity mais valiosa do mundo, só ficando atrás do petróleo. É uma bebida muito importante e há muito mais maneiras de tomá-la do que se possa imaginar" , diz, tentando pronunciar a palavra "cafezinho" em português, sem o sotaque italiano.

Em Turim, nos pequenos e charmosos cafés que servem a marca Lavazza, há cardápios com mais de 30 tipos da bebida, quentes ou frios. Junto com as também italianas Illy e Segafredo, a Lavazza disputa ombro a ombro a liderança do mercado "de balcão" na terra do "espresso".

Não é à toa que do faturamento de – 1,2 bilhão, 60% vêm do consumo italiano. O restante vem dos 90 países onde a empresa atua, entre eles o Brasil, que por enquanto ainda responde por 1% das vendas.

Processando 38 bilhões de quilos de café ao ano, a Lavazza é conhecida pela qualidade de seu café, misturado, torrado e moído em quatro fábricas italianas, sendo a maior delas em Turim.

A unidade brasileira, que vai torrar, moer e produzir cafés da marca Lavazza, será a primeira fora da Itália e deverá ser tão moderna quanto a da sede, onde o aroma de café domina os 85 mil metros quadrados de área. "De todo café que compramos, 40% vêm do Brasil. Fazemos os blends [mistura] aqui em Turim, em Gattinara, Verres e Pozzilli. Fornecemos para cafeterias que usam nossas máquinas, para o mercado office [de cafeteiras automáticas em escritórios] e também vendemos no varejo, para o preparo doméstico com máquinas Lavazza", diz Giuseppe, vice-presidente executivo. Emilio Lavazza, seu pai, presidia a companhia e faleceu em fevereiro. Giuseppe deve assumir o cargo.

No Brasil, a Lavazza não atua no varejo, nem com suas máquinas, nem com seus 25 tipos diferentes de cápsulas de café – negócios que somam ? 250 milhões ao ano. No país que é o maior produtor mundial de café em grão, seu foco está no café e nas máquinas profissionais para bares, restaurantes e padarias, além do mercado corporativo, de cafeteiras para escritórios. "O mercado doméstico ainda é muito pequeno e muito de moda. As pessoas compram as máquinas mas não têm o hábito de comparar as cápsulas regularmente, para tomar o expresso todo dia", diz Massimo Locatelli, diretor da Lavazza no Brasil.

Sendo assim, a meta da companhia de Turim é crescer ainda mais no mercado de "food service". Há cinco anos no país, a Lavazza já soma 1 mil clientes, entre padarias, escritórios e restaurantes. Na Itália, por exemplo, são 9 mil e na França, 5 mil. "O Brasil é um dos países onde mais crescemos, assim como a Índia, onde estamos desenvolvendo o mercado", diz Giuseppe. Os indianos tomam mais chá do que café – para estimular as vendas, a companhia tem uma rede própria de 170 cafeterias. Na Itália, onde o hábito é antigo, mantém cerca de meia dúzia. Nos Estados Unidos, a Lavazza desembarcou há apenas um mês.

A nova fábrica no Brasil deverá ficar pronta dentro de dois anos. Por enquanto, a companhia opera no mercado brasileiro via importações. Com mais café e melhores preços, a ideia é cada vez mais popularizar o tradicional "caffe espresso" italiano.

Para Giuseppe Lavazza, entretanto, popularizar não tem nada a ver com cafés mais simples. Ao contrário. A companhia vai muito além da água quente, do pó e do coador. Os baristas (profissionais especializados em cafés de alta qualidade) treinados pelo moderno centro de treinamento da companhia, há poucos quilômetros de Turim, são capazes de preparar os mais diferentes, e espetaculares, tipos da bebida. Alguns foram criados pelo chef de cozinha espanhol Ferran Adrià, um dos maiores nomes da gastronomia da atualidade. É do fundador da "cozinha molecular", por exemplo, o "Lavazza Espesso", uma das bebidas da marca Lavazza mais pedidas nas cafeterias da Europa.

Em um dos pequenos cafés das ruinhas estreitas de Turim, o "Espesso" é colocado na xícara com uma espécie de "spray", na frente do cliente, ao qual é dado uma colherinha furada – afinal, a bebida assume a forma de uma espuma quase sólida, que se quer cai da xícara se virada de ponta-cabeça, manobra que o barista faz questão de mostrar. Há também o "Bicerin Secondo Lavazza", uma versão do café criado em 1763 na cidade italiana de Turim. Leva chocolate quente com café expresso gelado em estado cremoso. Essas bebidas devem chegar ao Brasil em breve.

Consumidor compra máquina, mas não há ainda escala para as cápsulas
Fabricantes de máquinas de café torcem para que estas sejam um dos presentes mais desejados do próximo Natal no Brasil. Neste ano, nos primeiros seis meses, foram vendidas 16% mais cafeteiras e máquinas de expresso do que no primeiro semestre de 2009, segundo uma pesquisa da GfK Retail and Technology Brasil.

Nesse período, as vendas de máquinas de expresso, em volume, cresceram 68%. E a fatia delas no volume de itens vendidos em lojas de eletrodomésticos e supermercados subiu dois pontos, para 7%. Mesmo assim, a Lavazza, uma das três maiores empresas de café expresso do mundo, avalia que o negócio de cafeteiras domésticas no Brasil é muito incipiente.

"As pessoas realmente estão comprando mais cafeteiras. Mas ainda não há escala. E o pior é que muitos compram a cafeteira e ela acaba virando uma peça de decoração na casa dos consumidores. Eles não compram as cápsulas regularmente para fazer café todo dia", diz Massimo Locatelli, diretor geral da Lavazza no Brasil.

Não há pesquisas que dimensionem o tamanho do mercado de cápsulas ou sachês para o preparo de cafés em máquinas de expresso domésticas no Brasil. Na Itália, entretanto, as vendas de cápsulas quase que se igualam às de pó. Só a Lavazza tem 47,6% das vendas no varejo italiano, segundo a Nielsen.

As cafeteiras da Lavazza são feitas, em sua maioria, pela Saeco ou pela italiana Wega. Na Europa, cafeteiras domésticas de expresso de última linha custam, em média, de – 100 a 200 (R$ 230 a R$ 465). No Brasil os modelos mais baratos custam de R$ 300 a R$ 600. Não é difícil encontrar máquinas custando mais de R$ 1 mil. Mas apesar dos altos valores, esses preços vem caindo, segundo a pesquisa da GFK. Somente nos últimos doze meses, os preços caíram 34%.

No primeiro semestre do ano passado, só 31% das vendas correspondiam a cafeteiras que custam mais de R$ 1 mil. No mesmo período deste ano, a fatia desse tipo de produto caiu pela metade. A repórter viajou a convite da Lavazza

Fonte: Valor Econômico

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