Insumos: irrigação é opção de investimento com alta do café

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Os preços remuneradores do café devem estimular o investimento em irrigação nos próximos dez anos. O potencial é "enorme", diz André Luís Teixeira Fernandes, da Universidade de Uberaba (Uniube/Fazu), também coordenador do Núcleo de Cafeicultura Irrigada do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café/Embrapa Café, lembrando que hoje apenas 10% da área cultivada é irrigada. "A área irrigada pode alcançar até 600 mil hectares em 10 a 20 anos", estima Fernandes, autor do livro "Irrigação na Cultura do Café", cuja primeira edição foi lançada em 1996 e a reedição em 2008. Nesse período, a área irrigada com café saltou de 5 mil hectares para 250 mil hectares. 

A tecnologia é uma das melhores alternativas para o cafeicultor minimizar os riscos de frustração de safra, provocados pela falta de gestão dos recursos hídricos. "O café é uma cultura nobre, cara, que exige desembolso entre R$ 9 mil e R$ 12 mil por hectare todos os anos, só em custeio. Por isso, hoje não se admite mais deixar de colher uma safra, que é anual, por causa de déficit hídrico em áreas de sequeiro", afirma o professor. Ele diz que os sistemas de irrigação são acessíveis a pequenos, médios e grandes cafeicultores. O custo de instalação varia desde R$ 2 mil a R$ 7 mil o hectare, dependendo da tecnologia adotada. "O mais interessante é que todo o sistema é financiável por meio de diversos programas do governo, como Mais Alimentos e ModerInfra", ressalta Teixeira Fernandes. 

Os preços futuros do café arábica são os melhores dos últimos anos na Bolsa de Nova York (ICE Futures). No acumulado dos últimos 12 meses, o contrato com vencimento em julho acumula valorização de cerca de 106%. Só em 2011, a alta é perto de 23%. 

Em linhas gerais, a definição do equipamento depende da topografia, da disponibilidade de água, inclusive em termos de qualidade, entre outros fatores. Os sistemas de irrigação são organizados basicamente em três tipos: pivô central, gotejamento e aspersão. "Não existe o melhor, mas aquele que mais se ajusta às condições da região e ao bolso do produtor", explica o professor. 

O gerente adjunto de Desenvolvimento e Pesquisa da Embrapa Café, Paulo Cesar Afonso Júnior, salienta que a irrigação deixou de ser aplicada exclusivamente em áreas com problemas de déficit hídrico. O Sul de Minas, por exemplo, que tem um regime de chuvas regulares, é uma das áreas em que a irrigação mais cresce. "Hoje a técnica contribui para melhorar a qualidade do produto", afirma. 

Com a irrigação, "o produtor consegue uniformizar, homogeneizar a florada", explica Afonso Júnior. Consequentemente, ele obtém grãos cereja na mesma época, melhor distribuídos pelo pé de café. "Obviamente, a técnica deve ser acompanhada de outras medidas de manejo, como adubação reforçada para dar suporte ao desenvolvimento da planta", pondera. 

Os cafezais, de modo geral, têm duas, três, ou mais floradas a cada ano. Com isso, os cafés apresentam maturação em épocas diferentes, dificultando a colheita. Alguns colhem grãos verdes junto com as cerejas. Rondônia, que tem chuvas regulares, com elevado índice pluviométrico de cerca de 2 mil mm/ano, tem adotado a irrigação, "para uniformizar a florada", observa Afonso Júnior. 

O pesquisador da Embrapa Cerrados, Antonio Fernando Guerra, informa que estudos bem-sucedidos têm mostrado que é possível, por meio da irrigação, utilizar o déficit hídrico sincronizado com uma floração uniforme. Com a suspensão da irrigação no período crítico de frio, entre o fim de junho e o início de setembro, "conseguimos 30% a 35% de economia com água, 10% de aumento em produtividade e elevação do índice de grãos cereja na colheita de 30% para 80%", garante Fernando Guerra. 

A utilização da técnica deve ser acompanhada de orientações de agrônomos. "Não basta copiar do vizinho", diz o professor Teixeira Fernandes. "O manejo deve ser criterioso, para minimizar o risco de redução da produtividade", conclui.

Fonte: Agência Estado

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