Florada concentrada requer continuidade de chuvas

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Depois de um estresse hídrico moderado, que nos primeiros dias de setembro chegou a preocupar o setor produtivo no Sul de Minas, uma florada concentrada aconteceu em muitas lavouras neste último fim de semana (18 e 19). As lavouras que ainda não floresceram deverão ser estimuladas com a chuva que aconteceu em muitos municípios sulmineiros na noite desta segunda-feira (20). Para uma maior compreensão das conseqüências desta florada, o professor de fisiologia do cafeeiro, do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras (UFLA), José Donizeti Alves, chama atenção para a necessidade de precipitações para manter a umidade no solo e garantir a efetiva transformação das flores em frutos.

De acordo com o professor, dados da Fundação Procafé mostram um período de estiagem no Sul de Minas, chegando ao final de maio com armazenamento de água no solo praticamente zero. Este déficit de água no solo foi aumentando e no final de agosto chegou a 105 mm em Varginha, 13 mm em Carmo de Minas e 125 mm em Boa Esperança. Ele explica que o nível de estresse não causou muitas preocupações já que no início do ano, de janeiro a março, as lavouras passaram por um período de chuva moderado, com temperaturas mínimas não muito baixas. De maneira geral, essas condições favorecem a diferenciação de gemas reprodutivas. “Este é o primeiro passo para que tenhamos produção de café”, acrescenta.

O professor Donizeti lembra que o déficit hídrico moderado permitiu às gemas experimentarem um período de repouso, sem a ocorrência de chuvas praticamente de junho a agosto. Em sua avaliação, este fato foi benéfico para o cafeeiro, pois a homogeneidade deste período seco normalmente favorece a sincronização das gemas reprodutivas de diferentes estádios. A conseqüência disso é uma florada mais concentrada, como aconteceu em algumas lavouras sulmineiras. (foto 1)

Em Lavras, lavouras com bom enfolhamento, após oito dias de uma chuva de 8 a 10 mm, (13/09/2010), popularmente chamada de “chuva de florada”, floresceram abundantemente (cerca de 90%) em toda a extensão da copa (Foto 2). Por outro lado, lavouras mais depauperadas, seja por alta produção e/ou ausência de tratos culturais adequados, tiveram floradas mais proeminentes no terço superior das plantas (Foto 3). Outras lavouras apresentavam gemas bastante homogêneas em fase de crescimento ativo e de pinha (Foto 4).

Como comentado na comunidade Manejo da Lavoura Cafeeira, no Peabirus (http://www.peabirus.com.br), o professor Donizeti reitera a preocupação quanto à continuidade de chuvas para repor a água faltante no solo e, desse modo, garantir o pegamento da florada, sob pena haver uma alta proporção de aborto. “Felizmente, o volume de precipitação em algumas localidades deverá manter a umidade do solo, restaurar o potencial hídrico do cafeeiro, garantir o vigamento da florada e estimular a fotossíntese de modo a produzir carboidratos para atender as demandas de expansão dos chumbinhos”, considera.

Concentração de florada: isso é bom ou ruim?

O que a maioria dos produtores espera é que aconteçam floradas de grande porte e em menor número, o que reduz os custos de produção e permite uma melhor qualidade dos frutos. No entanto, o professor Donizeti alerta que esta “crença” somente é verdadeira para lavouras vigorosas, como conseqüência de um manejo adequado. Isso porque nesse tipo de lavoura os “armazéns de carboidratos” presentes nas folhas, ramos, caules e raízes encontram-se abastecidos. Assim, no momento de expansão dos frutos, quando a demanda por carboidratos aumentará exponencialmente, a planta estará plenamente preparada para atender as exigências dessa importante fase reprodutiva. Ele explica que em lavouras vigorosas a concentração de floradas resulta em maior carga de cereja, frutos maiores, mais sadios e com maior conteúdo de açúcares e outros compostos orgânicos que contribuem com a melhoria da qualidade da bebida. “Tudo isso sem contar, é claro, com maior produção”, ressalta.

Por outro lado, em lavouras depauperadas, a concentração de floradas pode significar menor produção e um produto de pior qualidade. Isto porque no período de expansão dos frutos, o cafeeiro não terá reservas de carboidratos suficientes para atender a demanda. A situação é ainda pior quando as lavouras estão desfolhadas e com baixa taxa de crescimento, aliado aos sintomas de deficiência mineral e de ataque de pragas e doenças. “Esta condição indesejável, onde o binômio oferta baixa – demanda alta de carboidrato prevalece, faz com que haja uma forte queda de frutos e aqueles que sobrarem, além de tamanho reduzido, terão pior qualidade”, enumera.

No caso de lavouras depauperadas, um maior número de floradas pode significar no futuro, frutos com diferentes estádios de crescimento e desenvolvimento. “Esta condição, aparentemente indesejável, pode significar o sucesso da produção, uma vez que devido ao menor número de frutos em expansão, a demanda por carboidratos será menor e mais espaçada no tempo”, completa. Quanto às lavouras depauperadas, com as chuvas que estão por vir e, caso sejam bem adubadas e recebam tratos fitossanitários adequados, elas entrarão em um processo de crescimento ativo de modo que, ao final do ano, elas estarão plenamente vigorosas e aptas a atender a demanda de carboidratos pelos frutos, finaliza.

Fonte: Polo de Excelência do Café

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