Consumo, qualidade, pesquisa e produtividade: Brasil tem tudo para ser o epicentro da 4ª onda do café

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Democratizar e tornar a bebida acessível no mercado interno é fator determinante para o Brasil conseguir ultrapassar até mesmo os Estados Unidos quando se fala em consumo

A pandemia nos mostrou algo importante quando o assunto é cafeicultura: O consumo da bebida é resiliente e a história nos mostra que o hábito foi puxado por “ondas de café”. A linha do tempo coloca que já são, pelo menos, três ondas moldando a trajetória da segunda bebida mais consumida no mundo.

Mas e as mudanças impostas pela pandemia, os desafios climáticos e um mercado cada mais exigente nos leva para qual “onda do café” afinal de contas? Há quem acredite que já estamos em fase de transição para a quarta onda, quem acredite que a terceira fase ainda tem muito a ensinar, mas existe um certo consenso: O Brasil pode ser o epicentro da quarta onda em um futuro próximo.

As ondas do café
Antes do futuro, no entanto, é preciso que se entenda as outras fases. A primeira onda começou aproximadamente em 1800, quando a bebida foi finalmente “descoberta” pela indústria. Foi a partir dali que aconteceu uma maior distribuição, transformando o café em uma bebida mais popular, mas ainda sem muito conhecimento de todo o percurso do campo à xícara. Neste período, os preços eram baixos, praticamente não havia definição de origem ou diferenciação da bebida.

“Tivemos dentro desta onda praticamente o início do marketing no café, quando em 1959 a Federação dos Cafeicultores da Colômbia, inicia a busca pela diferenciação lançando a lendária Marca “Juan Valdez”. Nesta onda não tivemos um epicentro muito caracterizado, foi um movimento quase global, polarizado nos principais mercados consumidores EUA e Europa simultaneamente”, afirma Juliano Tarabal em um artigo publicado em suas redes, que utilizou como referência a publicação de Trish Rothgeb – da Wrecking Ball Coffee e referência no mercado.

Foi aproximandamente em 1971 que a segunda onda começou. A Starbucks começava a movimentar o maior mercado consumidor do mundo: Estados Unidos. A gigante trouxe mais “glamour” ao preparo de café. No epicentro de consumo, o público passava a conhecer novos métodos e principalmente a possibilidade de se tomar café fora do lar.

“Todo este movimento provocado pela 2º onda, a época, foi uma espécie de “iluminismo” no café, uma mudança cultural que começava a tratar esta bebida como algo especial, surgindo dai a expressão e o conceito de “café especial”, cunhado por Erna Knutsen em 1974, conceituando café especial aqueles originados de microclimas geográficos especiais, que produzem grãos com perfis sensoriais únicos e exclusivos”, afirma a publicação.

A segunda onda persistiu até meados da década de 90. O movimento passou a ser liderado por pequenas cafeterias e já com foco na qualidade da bebida e ainda puxado pelos Estados Unidos. Neste período, a cadeia ganhava novos importantes personagens: os baristas, torrefadores com foco na bebida, surgimento de campeonatos, métodos de preparo e a busca pela qualidade.

“Toda esta profusão de desenvolvimento do consumo de café provocada pela terceira onda traz resultados até hoje, e seus fundamentos se consolidam cada vez mais, e o café de qualidade continua avançando, mas como na natureza tudo se transforma, é preciso avançar e migrar de onda”, complementa.

Mas e quarta onda quando chega e o Brasil pode ser o epicentro desta vez?
Para Juliano, o momento atual trata-se de uma fase de transição para a quarta onda do café. Cada vez mais se posicionando como uma origem de qualidade e não apenas de produtividade, o Brasil vem conquistando novos espaços, abrindo mercado e ainda faz a lição de casa sendo o segundo maior consumidor de café.

Os números mostram que atualmente 50% do mercado dos Estados Unidos já é composto por cafés especiais. “Portanto não estamos aqui mais falando em mercado de nicho. Lá estes cafés são facilamente encontrados nas grandes redes de supermercados”, afirma Juliano.

No Brasil, a mudança vem acontecendo nos últimos anos. As tradicionais marcas no mercado “viraram a chave”, mas para Juliano ainda existem alguns gargalos que precisam ser solucionados. Como por exemplo, a presença de maquinários como moedores mais acessíveis ao consumidor final, além de destacar que é preciso continuar realizando um trabalho educativo para promover a mudança no consumo.

Quem está no campo também tem interesse em avançar, de acordo com Juliano. Os produtores hoje participam ativamente deste mercado, se posicionam e buscam conhecimento além da porteira. “Temos toda uma cadeia se estruturando para ser protagonista não apenas na produção e no volume, mas também na qualidade, no conhecimento, na cultura do café, elementos que sim, formam uma grande onda”, afirma.

Acompanhando o mercado há mais de 15 anos, Mariana Proença – jornalista especialista em café também acredita que a fase de transição já está ocorrendo, colocando o Brasil como grande impulsionador dessa virada de chave.

“Acredito que a 4ª onda agora realmente chegou. Logo após a pandemia a gente ouvia muito sobre essa transição aqui no Brasil, mas agora eu vejo ela chegando de uma maneira muito mais forte porque tenho visto muito o movimento das cafeterias, baristas e torrefações em buscar cafés não só especiais, mas que tenham agregado realmente o valor da sustentabilidade, a questão do cuidado com o meio ambiente, com o social e econômico. Isso está sendo buscando desde a escolha da variedade, como ele está fazendo isso e um olhar da permanência dessa produção. Toda cadeia tem olhado isso de maneira mais ampla”, afirma.

Mariana ressalta ainda que essa busca têm sido frequente por baristas e compradores internacionais. A busca por conhecer pessoalmente as origens produtoras é evidente. “Isso fez uma virada no mercado tanto para os baristas, para torrefadores e etc. Existe o turismo rural que é para o consumidor para manutenção da valorização do produto, mas muito mais que o turismo rural, nós temos o turismo de negócios que está atrelado à essa preocupação com a manutenção do café no mundo e no Brasil esse turismo consegue ser atendido por todo esse movimento que estamos vendo da gorvernança das regiões se fortalecendo no coletivo, em grupo, para atender toda essa demanda”, complementa.

É preciso democratizar a bebida
Para Edgar Bressani, especialista em café e presidente da Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Alta Mogiana, o caminho está sendo trilhado, mas é importante que se tenha a consciência de que a quarta onda ainda de fato não começou, sobretudo porque o café especial ainda não está acessível para todos os tipos de público.

“Tem se falado que esta nova onda tem lifação com a chegada da alta qualidade para um público maior, mas não acho que isso sozinho caracterize a onda. Temos sim muitas marcas, cafeterias, mas isso ainda é para um público seleto e que tem bolso para pagar por café R$ 80,00 R$ 100,00 o quilo. A massa ainda não tem poder aquisitivo para isso”, complementa.

A Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) há alguns anos trabalha para garantir a qualidade da bebida e recentemente lançou o selo de café especial em parceria com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). O objetivo, além de fazer um processo de democratização da bebida, é fazer com isso seja realizado através de uma comunicação transparente com o consumidor final.

“Em 2005 a ABIC começou com os selos, já mostrando para esse consumidor que existem essas diferenças de tipo, preço e sensorial. Começou a romper essa bolha para o consumidor comum e mostrar que já existia um café diferente no mercado”, afirma Celírio Inácio – diretor executivo da ABIC.

Com o passar dos anos e após a realização de uma pesquisa, a ABIC absorveu a necessidade de se ter também um selo para o café especial partindo da indústria. “Essa curiosidade do próprio consumidor fez com que entendessemos a necessidade de se falar com os industriais e buscar falar sobre os pequenos produtores, mostrando a necessidade de certificação e mostrar esse café rastreável e qualidade também no supermercado”, complementa.

Para o executivo, o momento é transição e é justamente a pesquisa, o conhecimento e a diversidade do Brasil que pode colocar o país como epicentro da próxima onda do café. “Acredito que a 3ª onda esteja em movimento agora falamos de forma geral, antes estávamos falando para uma bolha muito pequena. Essa onda ainda deve percorrer um tempo e acredito que a 4ª será impulsionada também por resultados dos estudos e pesquisas que estão sendo feitos agora com genomas e cultivares”, afirma Inácio.

Na pesquisa, as ações no Brasil também estão voltadas para a qualidade, indo além da busca por produtividade ou cultivares mais resistentes. “Acredito que a 4ª onda do café, qua já iniciou, se mantenha ligada à qualidade sensorial do produto… Uma busca constante pela excelência na xícara por meio da interação entre ambiente, processamento e sobretudo, a genética. A relação entre os fatores com enfoque na diversidade genética deverá apresentar o diferencial dos próximos anos”, acrescenta Sergio Parreiras Pereira – Pesquisador Científico do Instituto Agronômico ( IAC ) e articulador da Rede Social do Café.

Próximos anos
Para os próximos anos, é importante, então, que se acompanhe a evolução do campo à xícara. O produtor é mais ativo, mas o consumidor também é mais exigente. Atualmente o Brasil conta com 35 regiões produtoras de café, é a única origem do mundo que consegue entregar ao mercado um leque de produtos tão diferenciado. É preciso ainda que as lideranças estejam unidas para garantir a eficiência dentro e fora da porteira.

“O produtor é a base, as cooperativas são fundamentais na originação e organização da produção e comercialização, os exportadores e importadores dominam os tramites de do mercado internacional e distribuição, na sustentação de quem esta na ponta compradora, a indústria é quem transforma todo trabalho da cadeia em produto, o varejista coloca na gondola para o consumidor e finalmente o consumidor é aquele que “paga a conta” de toda a cadeia, é a ele que devemos direcionar todos os nossos esforços enquanto cadeia”, finaliza Juliano.

Por: Virgínia Alves | Fonte: Notícias Agrícolas

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