CONAB E USDA TÊM PREVISÕES DIVERGENTES PARA A PRODUÇÃO DE CAFÉ DA SAFRA 2010/11

O departamento de agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou seu relatório sobre as perspectivas da produção mundial do café, como também dados relacionados à exportação, importação, consumo mundial e principais produtores do produto.

De acordo com o relatório, é esperado um recorde de produção e de consumo mundiais. A previsão é de que haja um aumento na produção, sendo produzidos 139,7 milhões de sacas de café, para a safra de 2010/11. Desse total, a expectativa é de que mais de 50% da produção mundial sejam advindos da produção do Brasil e Vietnã, maiores produtores desse produto.

Para o Brasil, há previsão que haja um salto significativo de 10,5 milhões de sacas em sua produção, para atingir um recorde de 55,3 milhões de sacas de café. O ano da bienalidade positiva do café no Brasil beneficia essa previsão e sugere que a produção do café arábica também tenha sua produção aumentada, em 8,8 milhões de sacas, a fim de atingir uma produção de 41,8 milhões de sacas de café arábico. Além disso, o café robusta também tem previsão de aumento, na proporção de 1,7 milhões de sacas, atingindo uma produção de 13,5 milhões de sacas, devido principalmente ao melhor manejo da cultura, como por exemplo, a utilização de técnicas de irrigação.

Contudo, de acordo com o relatório brasileiro acerca da previsão de produção do café no Brasil, divulgado pela Conab, há certa discrepância nas previsões, uma vez que a pesquisa brasileira indica uma produção no valor de 47,04 milhões de sacas, 8,26 milhões de sacas a menos que o previsto pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Além disso, a pesquisa divulgada pela Conab, também prevê aumento na produção do café arábico, estimado em 35,31 milhões, mas ainda 6,49 milhões a menos que o previsto pelo USDA.

As duas previsões, USDA e Conab, possuem grande credibilidade no mercado, mas a diferença entre as previsões é verificada ao longo dos anos devido à posição dos seus respectivos países na balança comercial do café.

O Conselho Nacional do Café (CNC) endossa os números projetados pela estatal brasileira, salientando que a safra 2010 não deve ser maior que 47,0 milhões de sacas em função da inversão climática ocorrida a partir da segunda quinzena de dezembro, que causou perdas expressivas, além de desencadear maior incidência de pragas e doenças em algumas regiões do cinturão produtor.

Fatores específicos evidenciados pela CNC, além de outros mostrados no relatório da Conab, incluem as influências climáticas do fenômeno El Nino que mantiveram as precipitações intensas nas principais regiões produtoras do Paraná, de São Paulo e de parte de Minas. Porém, essas influências foram insuficientes para a formação de chuvas no norte mineiro, no Espírito Santo e no sul da Bahia, o que provocaria a redução da produção e consequentemente a previsão brasileira.

Além disso, a Conab prevê reduções, apesar da previsão de crescimento, na produção do estado de Minas Gerais devido a forte estiagem e altas temperaturas nas regiões da Zona da Mata, Rio Doce e Jequitinhonha ocorridas nos meses de janeiro e fevereiro. No Espírito Santo, a estimativa foi diminuída em relação à primeira perspectiva divulgada em janeiro pela Conab, uma vez que naquela época as lavouras estavam bem enfolhadas, com alto vigor vegetativos, com cargas elevadas de frutos em formação e potencial para produção superior se comparado ao que foi publicado. Na Bahia, influências climáticas também afetam a previsão, devido principalmente a estiagens nas regiões produtores de conillon e arábica. Já no estado da Rondônia, um fator limitante a produção são os métodos inadequados de colheita e pós-colheita e o fato dos grãos serem colhidos ainda imaturos e armazenados em sacos de ráfia.

Essas especificidades de cada estado produtor de café no Brasil determinariam então, o déficit verificado pelo relatório da Conab em comparação ao divulgado pelo USDA, nos Estados Unidos, uma vez que a metodologia de pesquisa da Conab envolve visitas às regiões produtoras, aplicação de questionários e entrevistas a informantes previamente selecionados que são capazes de traçar e identificar eventuais problemas ou oportunidades na produtividade do café.

Por outro lado, o USDA, utiliza de dados anteriores e pautam suas perspectivas de acordo com fontes do governo, secretarias estaduais de agricultura, associações de produtores, cooperativas e comerciantes que de certa forma, podem não estar tão intimamente ligados as lavouras cafeeiras, e que poderiam não transmitir informações tão precisas.

Além das previsões relativas à estimativa de produção do café, aquelas relacionadas ao consumo, estoques e exportação também foram evidenciadas no estudo do USDA.

O relatório do mesmo departamento relacionado ao consumo leva em conta dados oriundos de estudos realizados pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) a fim de determinar o consumo interno brasileiro. Nesse aspecto então, não há discrepância significativa entre as perspectivas americanas e brasileiras, uma vez que é a Abic quem determina o nosso consumo interno, através principalmente de pesquisas periódicas realizadas que refletem o crescimento populacional, aumento do consumo per capita, o aumento do poder aquisitivo e os efeitos das campanhas de marketing internas para promover o consumo de café.

A Abic prevê, portanto, um consumo total brasileiro para a safra de 2010/11 projetado em 19,5 milhões de sacas (18,47 milhões de sacas de torrado e moído e 1,03 milhões de sacas de café solúvel).

De acordo com o USDA, haverá recorde também no consumo mundial do café, apresentando alta de 2,8 milhões de sacas e atingindo um consumo total de 131,5 milhões de sacas de café, sendo o Brasil e a União Europeia responsáveis por mais da metade desse crescimento.

O USDA, assim como a Conab, também realizou previsões relativas às exportações brasileiras. O departamento norte-americano estima uma exportação no valor de 32,0 milhões de sacas, sendo 2,9 milhões demandadas pela Europa. De acordo com os relatórios, as exportações de grãos verdes representariam um total de 28,6 milhões de sacas, enquanto as exportações de café solúvel representariam 3,3 milhões de sacas.

A Conab, no entanto, tem previsão para a exportação referente a safra de 2010/11, inferior em 2,0 milhões de sacas do que o verificado na safra 2009/2010, tendo perspectiva de que se atinja o valor de 30,0 milhões de sacas, o que não difere significativamente da previsão do USDA.

Por fim, em relação aos estoques, o USDA já prevê um déficit mundial em estoques, com um valor de apenas de 31,3 milhões de sacas, inferior ao demandado pelo consumo. O departamento afirma ainda, que esse déficit é devido principalmente à produção brasileira.

O relatório da Conab confirma essa afirmação, uma vez que prevê um estoque inicial privado de 4, 683 milhões de sacas e produção avaliada preliminarmente em 44, 027 milhões de sacas em 2010/11, o que resulta em uma oferta total do Brasil de 49, 235 milhões de sacas na temporada. Deduzindo dessa oferta total, o consumo interno (18, 025 milhões de sacas) e as exportações (30,0 milhões de sacas), os estoques finais 2010/11 cairiam a “míseros” 1, 210 milhão de sacas, o que reduziria o déficit mundial apresentado pelo USDA.

* Anna Paula Mantuanelli – Analista do Bureau do Café

Fonte: Bureau do Café