Combinação de seca e geadas do ano passado prejudica safra de café arábica

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Uma má colheita do maior produtor de café do mundo ameaça aumentar ainda mais o custo de uma xícara de café. Os agricultores brasileiros estão lidando com as consequências de um clima fora do normal no ano passado, onde as plantações sofreram primeiro com a seca e depois com geadas. Alguns dizem que a safra brasileira de grãos de café arábica de alta qualidade será menor do que a metade do que poderia ser em um ano bom.

Algumas dessas más notícias já estão precificadas para investidores, empresas de café e consumidores. O clima ruim no Brasil ajudou a impulsionar os futuros do café para máximas de vários anos em 2021, em uma série de interrupções nos mercados globais de commodities. Mas se a safra resultante deste ano for ainda menor do que se temia, isso pode exacerbar um déficit de oferta internacional e ajudar a alimentar novos ganhos de preços.

O Brasil é importante para o mercado global de café porque é de longe o maior exportador mundial. O problema é ainda pior porque sua produção de café arábica acontece em um ciclo de dois anos, rendendo uma safra maior nos anos pares. O mau tempo também prejudicou a indústria cafeeira na Colômbia, outro grande produtor.

Segundo os dados de preços ao consumidor dos EUA, depois de mal se mexer por anos, os custos com café das famílias norte-americanas disparou no último ano. A indústria do café, como outras, tem lutado tanto com problemas de cadeia de suprimentos quanto com altos custos.

Os preços globais do arábica provavelmente aumentarão quando as estimativas para a colheita deste ano no Brasil começarem a ser concluídas, disse o corretor de café da Cazarini Trading Co., Thiago Cazarini. Embora as preocupações com a economia global tenham pesado recentemente nos preços do café, “é muito perigoso deixar os fundamentos para trás”, afirmou.

Analistas previram que a safra de arábica do Brasil nos 12 meses a partir de julho poderia atingir o recorde estabelecido dois anos antes, de 48,7 milhões de sacas, cada uma com 132 libras de café. Mas o número final provavelmente será muito menor. A previsão oficial antecipada do Brasil é de apenas 35,7 milhões de sacas.

“Esta é uma grande crise para nós”, disse o cafeicultor e presidente da cooperativa de café Minasul, José Marcos Magalhães. Os mais de 9 mil associados da Minasul se comprometem a fornecer uma certa quantidade de café a cada temporada, mas este ano permitirá que eles entreguem metade do que prometeram. A expectativa é de menos de 1 milhão de sacas de café, abaixo dos 2,2 milhões de 2020. “Alguns produtores não têm nem a metade do que estamos pedindo”, afirmou Magalhães.

Analistas apontam outros sinais de demanda por café superando a oferta, o que também pode impulsionar os preços. A Organização Internacional do Café disse que o consumo global ficará à frente da produção pelo segundo ano consecutivo, enquanto a Fitch Solutions afirma que os estoques nos armazéns da Intercontinental Exchange estão em seu nível mais baixo neste século.

A queda na oferta e nos estoques de café aponta para preços mais altos nos próximos três a seis meses, disse o chefe de estratégia de commodities do Saxo BankOle Hansen. Os contratos futuros subiram em 2021 e no início deste ano, atingindo uma alta de quase dez anos de US$ 2,58 por libra-peso em fevereiro. Desde então, eles recuaram um pouco, para cerca de US$ 2,23 por libra-peso, mas permanecem elevados em comparação com os últimos anos.

A Fitch não acredita que os preços vão subir ainda mais, mas diz que uma queda nas exportações brasileiras, juntamente com a falta de estoques em depósitos, manterá os preços em alta. Recentemente, elevou sua previsão de arábica para US$ 2,15 por libra para o resto deste ano, um pouco abaixo dos níveis recentes.

Fonte: Estadão Conteúdo