Com sabor e doçura, DF ganha destaque no cultivo de café nobre

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O aumento na colheita de grãos de café arábica foi de 11%, mais de mil toneladas a mais do que foi produzido em 2022

A produção de café no Distrito Federal vem crescendo. Embora recentes, as lavouras ganham destaque, com um aumento de 11%, graças às condições geográficas e climáticas favoráveis e a forma de colheita diferenciada de agricultores que apostam em variedades especiais.

De acordo com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), a região tem 83 agricultores especializados em café. Em 2022, foram produzidas 1.204 toneladas em 418 hectares de área plantada, em 11 regiões administrativas. No ano anterior, a produção foi de 1.083 toneladas em 432 hectares. O tipo cultivado é o arábica, o único plantado no DF, com menos cafeína, mais doce e com maior nuance de sabores e de ótima qualidade, por causa da época da maturação dos grãos, que ocorre na seca, segundo o órgão. Além disso, alguns produtores trabalham com o café orgânico, que tem valor agregado muito forte.

Engenheiro agrônomo da Emater-DF, Bruno Caetano explica que a espécie arábica prefere altitudes mais elevadas, com temperaturas mais amenas e condições que são encontradas no cerrado brasiliense, em especial na região do Lago Oeste. Bruno destaca que a empresa acompanha os produtores locais desde a correção do solo até a colheita. “Devido a necessidade de correção do solo, adubação e irrigação para que o plantio seja produtivo, a Emater-DF, orienta o agricultor desde o início da semeação até a colheita, e ainda na pós-colheita. O objetivo é que plantação tenha maior qualidade”, ressalta.

Rubens Alves: “Estou bastante animado, quero expandir o negócio, que era um cultivo apenas pessoal” – (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Doçura e sabor
Para atingir um teor ideal de doçura e sabor, o fruto deve ser colhido maduro e, após a secagem, quando atingir 11% de umidade, é o momento ideal para que seja processado, explica Joseane Lelis, economista doméstica da Emater-DF. Após a colheita, nada se perde, tudo é aproveitado. “Rica em potássio, a casca é utilizada, não é jogada fora, volta como adubo para as lavouras”, complementa.

Engenheiro aposentado, Rubens Alves, 68 anos, encontrou uma forma de preencher o tempo, além de praticar uma atividade prazerosa, nobre e rentável. Com apenas dois anos investindo na cafeicultura, ele plantou 750 mudas do tipo arábica e pretende cultivar mais 1.250 pés até o fim do ano.

Rubens fez sua primeira colheita no mês passado, depois de maduro, a semente passou 18 dias secando em um terreiro suspenso. O próximo passo, é torrar e moer. Eufórico, ele diz que não vê a hora de beber do seu próprio café. “Vou experimentar o meu ouro negro, cuidado dia a dia como um verdadeiro tesouro. Estou bastante animado, quero expandir o negócio, que era um cultivo apenas pessoal. É um prazer saborear e oferecer um bom café aos amigos”, frisa.

Outro agricultor da região é José Adorno, cirurgião que descobriu mais uma paixão. Há 15 anos, ele cultiva o Iapar, uma variedade do arábica, matéria-prima do Café Lote 17B, no Lago Oeste. Em 2012, o médico iniciou a plantação com 300 pés. Hoje, faz o manejo de 3,5 mil pés cultivados a 1.250 metros de altitude, que rendem cerca de 30 sacas por ano. Um quilo do café é vendido por R$ 120 a R$ 140.

“A colheita é bem selecionada, feita à mão, uma vez por ano. O café é especial, orgânico e artesanal, feito de modo sustentável, com o charme do cerrado, o que nos proporciona um blend maravilhoso, com sabores e dulçor marcantes”, garante. Adorno destaca também que o objetivo é manter a qualidade e melhorar cada vez mais o processo de manejo para continuar oferecendo um produto com excelência no mercado. “Estamos cultivando um artigo nobre que só agrega valores e estimula ideias e raciocínios. O café é um gênero é aquele majestoso que consegue reunir pessoas, seja para se confraternizar, comemorar ou para compartilhar os mais variados temas e debates, em todos os momentos da vida”, diz.

Jose Adorno colhe 30 sacas por ano do café arábica. Foto: Divulgação/arquivo pessoal

Celebração
Para Giordano Bomfim, 34, gerente de marca e barista do Ernesto Café, na 108 Norte, o sucesso do arábica no mercado é um reconhecimento dessa cultura que, segundo ele, vem sendo abraçada pelos brasilienses em busca de tipos especiais.

Atendendo diariamente cerca de 800 pessoas, das 7h às 22h, ao longo de oito anos, Giordano diz que recebe um público variado. Nos fins de semana, a rotatividade chega a duas mil pessoas. O mais pedido pelos apreciadores é aquele que nunca sai de moda, o famoso Expresso. Uma xícara da bebida custa em média de R$ 8 a R$ 18. O especial tem um custo maior e não necessariamente com o paladar que o brasileiro está acostumado, acrescenta Giordano. “Temos uma crescente aceitação da cultura do café no DF. Isso é o reconhecimento de um produto que cai bem em todas as ocasiões. Ele é motivo de encontros e celebrações. Atualmente, Brasília tem com uma comunidade especial que celebra essa bebida como ela merece”, celebra o barista, que tem clientes fidelizados.

É o caso do professor da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Araújo, 51, que, ao terminar as atividades acadêmicas todas às tardes, há cerca de dois anos, convidou o pai, Raimundo Araújo, 81, para ir ao local. “Poderíamos estar conversando em um bar, numa lanchonete, mas escolhemos tomar café, um produto que equilibra o mercado, acolhe o freguês, promove os mais variados encontros e nos permite até sermos mais exigentes, para escolhermos o que há de melhor para nossa vida”, enfatiza Ricardo.

Desde o fim da pandemia, o pedido dos dois é conhecido pelos atendentes, sempre o mesmo. Cappuccino para ele e Machiatto para o pai, que define esse encontro com o filho como um dos melhores momentos do seu dia. “O convite do meu filho para tomar café enche os meus dias de alegria e prazer”, comemora.

Fonte: Correio Brasiliense