CAFÉ: BOA QUALIDADE E PREÇOS RENTÁVEIS

Uma das principais características da cafeicultura brasileira é o ciclo bienal de produção, que alterna safras altas com safras baixas. Com bienalidadade positiva, a safra 2010/2011 rendeu 47,2 milhões de toneladas de sacas, resultado 20% superior ao da temporada anterior, de acordo com levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A boa qualidade dos grãos colhidos e o aumento da produtividade estão garantindo aos cafeicultores preços mais rentáveis nesta safra. Com isto, o Valor Bruto da Produção (VBP) do café para 2010 é estimado em R$ 13,9 bilhões, 22% superior ao de 2009.

Pelas projeções do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), até dezembro as vendas externas brasileiras devem alcançar US$ 5 bilhões, favorecidas principalmente pela alta dos preços do café no mercado internacional. De janeiro a agosto deste ano, os embarques de café em grão renderam ao País US$ 2,8 bilhões, 21% acima da receita apurada em igual período do ano passado, embora o volume embarcado tenha crescido apenas 1%. Nos últimos 12 anos, o Brasil aumentou de 20% para 32% a sua participação no comércio mundial de café. A produtividade no campo cresceu de 9 sacas por hectare para cerca de 20 sacas, com o emprego de variedades mais produtivas e a tecnologia de adensamento.

No mercado interno, a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) aposta em um aumento entre 6% e 7% no consumo este ano, o que representa 19,6 milhões de sacas. Nos últimos anos, os baixos preços do café nas lavouras e nas prateleiras dos supermercados favoreceram os consumidores brasileiros. Este ano, a melhoria do poder aquisitivo do brasileiro e a queda na taxa de desemprego também contribuíram para o aumento do consumo. Pela projeção da ABIC, em 2012, o mercado doméstico estará absorvendo 21 milhões de sacas, caso a evolução anual do consumo se mantenha em 5% ao ano.

A bebida preparada no coador, o famoso pingado da padaria, lidera o mercado brasileiro, mas os cafés mais sofisticados, como o expresso e o cappuccino, vêm ganhando espaço no País. O potencial de crescimento do consumo de café gourmet no Brasil é de 15% a 20% ao ano, o que tem incentivado os investimentos das torrefatoras e cafeterias em tecnologia, qualidade e inovação. A melhoria do poder aquisitivo, com a migração dos consumidores mais pobres para a classe C, elevou o consumo de café nos últimos anos. Pesquisa realizada pela ABIC mostra que 97% dos brasileiros acima dos 15 anos tomam café diariamente.

Para 2011, a tendência é de oferta apertada no mercado internacional. A principal preocupação é se a produção mundial conseguirá dar conta da demanda. A safra brasileira, em ciclo negativo, será entre 15% e 20% inferior à atual. Além disto, a longa estiagem nas lavouras este ano podem ter causado danos aos cafeeiros. Por outro lado, a boa remuneração nesta safra deve incentivar os produtores a investir na lavoura. Segundo informação do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo, alguns produtores estão intensificando os tratos culturais e instalando sistema de irrigação para minimizar os efeitos do clima seco nos cafezais.

A Organização Internacional do Café (OIC) estima a produção mundial entre 133 e 135 milhões de toneladas de sacas de 60 quilos na temporada 2010/2011, contra um consumo avaliado entre 130 e 132 milhões de sacas. A safra de café do Vietnã, iniciada em 1º de outubro último, pode ficar 10% abaixo das 18,7 milhões de sacas previstas inicialmente pela OIC, segundo dados da Associação Vietnamita de Café e Cacau. A Colômbia colheu 4 milhões de sacas no primeiro semestre e deve produzir mais 6 milhões até dezembro. Em sua estimativa, a OIC contava com uma safra de 50 milhões de sacas no Brasil, volume superior ao estimado pela Conab.

Este ano, os cafeicultores estão conseguindo recuperar parte das perdas sofridas nas últimas safras. Na temporada 2009/2010, segundo relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), a produção mundial de café totalizou 125,6 milhões de sacas, queda de 7% ante o resultado do ano anterior. O consumo mundial passou de 128,6 milhões de sacas, em 2008, para 131,4 milhões de sacas, em 2009, incremento de 2,8 milhões de sacas. A demanda esteve maior do que a oferta, o que resultou em um déficit mundial de cerca de 3 milhões de sacas e a redução de 15% dos estoques finais. Por conta da crise global, as cotações internacionais do café na Bolsa de Nova York registraram, em 2009, queda de 5,2% ante a média do ano anterior. No Brasil, a menor safra e a queda dos preços ocasionaram a diminuição do Valor Bruto da Produção de café para R$ 11,2 bilhões, em 2009, 13,4% inferior ao resultado do ano anterior, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

A qualidade do café e a certificação de origem são aspectos que permitem à indústria diferenciar seus produtos e agregar valor. A preferência dos consumidores por cafés de qualidade não ocorre apenas no mercado internacional, mas também no Brasil, onde o número de cafeterias está crescendo. Por aqui, se consome cafés puros, enquanto no exterior predominam os blends, que combinam grãos de diferentes origens e variedades.

Entre novembro de 2008 e outubro de 2009, segundo a Abic, a produção das dez maiores empresas de moagem e torrefação de café respondeu por 72,9% do total nacional, sendo que a participação das 315 menores empresas correspondeu a cerca de 7%. Isto indica uma concentração em termos de escala produtiva. As torrefadoras aumentaram o volume de investimentos para atrair novos consumidores e para ampliar os negócios no mercado internacional, principalmente no Japão e nos Estados Unidos. A estratégica das empresas é inovar, tendo em vista atrair consumidores de diversas classes sociais.

* Silvia Sayuri Yukimaru – economista e analista setorial da Serasa Experian