Buquê, aroma, frutas… É vinho? Não, é café

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Sunalini Menon dedicou a vida ao café. Desde 1971 percorre a Índia em busca de regiões para plantação e desenvolvimento de produtos de qualidade. Hoje, Sunalini é considerada um verdadeiro guru do café na Ásia, aconselhando governos, empresas e consumidores sobre o produto.

Em entrevista ao Paladar, Sunalini fala em “revolução” cafeeira. “Vivemos um despertar do café. Ele está deixando de ser uma commodity e se transformando em novo produto”, explica. “Ocorre com o café o que ocorreu com o vinho há dois séculos. Não apenas está ganhando o mundo como passa a ser visto como produto ligado ao prazer.”

A especialista lembra que, quando começou a trabalhar no Conselho Indiano do Café ninguém imaginava que o produto ganharia tal status. “A única coisa que queríamos era um café limpo. Hoje, chegamos a usar o vocabulário empregado no vinho. Dizemos que ele tem elementos de fruta, tal e tal aroma, falamos em buquê. Enfim, o café parece ser o vinho do século 21.”

Se do lado do produtor as coisas mudaram, houve mudança também do lado do consumo. “Antes, as pessoas tomavam café como injeção de energia. Hoje, param para tomar a bebida como um ato de prazer”, disse Sunalini. “É o que chamo de despertar do café, que obviamente veio acompanhado de uma clara estratégia de marketing de todo o setor para elevar o preço do produto, dar maior valor agregado e criar uma nova cultura.”

A indiana insiste em que a qualidade do café servido não depende apenas do produtor: toda a cadeia, inclusive o consumidor, precisa ser educada. Depois de 40 anos trabalhando com café e apontada como uma das maiores provadoras do mundo, a indiana confessa: não existe ‘o melhor café do mundo’. “O que é um café especial? Depende da cultura em que está sendo tomado. Cada sociedade vê o produto de forma diferente. Tendemos a dizer que o nosso café é o melhor. Mas, sinceramente, não sei se ‘o melhor’ existe”, declarou.

Ela destaca a situação em seu país, a Índia. “Lá, o café é uma bebida de jovens, e portanto, um lugar de se beber café é diferente de um café europeu. São locais barulhentos, com música. Esse é o caráter do café hoje na Índia.”

Seja qual for a cultura do café nos diferentes países, a especialista admite que a ciência do produto não é das exatas. Sunalini não hesita em alertar que o produto que se serve tem muita relação com o respeito que uma pessoa se dá. “O segredo para uma xícara de café perfeita vem do respeito. Se você trata bem seu corpo, você também tratará bem da semente e do produto final.”

Fonte: O Estado de São Paulo | Paladar

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