Brasil é mais competitivo, mas produtor de conilon não participa do mercado e pode perder ainda mais no futuro

Imprimir

Análise mostra que fatores serão de pressão para os preços de café no médio prazo e produtor precisa estar atentos aos custos, que devem ter margem estreita

O café conilon do Brasil, depois de um longo período, está mais competitivo no mercado internacional. Apesar da interferência que o café arábica tem neste mercado, a preocupação com a oferta da Ásia dá suporte aos preços, mas ainda assim o produtor de conilon continua participando pouco do mercado.

A análise feita por Marcio Cândido Ferreira, Diretor Superintendente da Tristão Cia de Comércio Exterior- GRUPO TRISTÃO, no comparativo de um ano o contrato referência na Bolsa de Londres avançou 29,6%, enquanto Nova York teve um recuo de 27,6% no período. “Ou seja, em um ano nas cotações internacionais nas bolsas o arábica se desvalorizou o equivalente a usd115,49/saca comparado ao robusta”, afirma a análise.

Recentemente Londres atingiu nível recorde de preço não visto nos últimos 15 anos e, de acordo com o diretor, apesar do recente ajuste de cerca de US$ 200 por tonelada, o cenário ainda é favorável, ainda em patamar histórico extremamente alto.

Ele explica que as altas em Londres são justificadas pela quebra na safra na Indonésia e alguns problemas na reta de safra do Vientã.”Todavia não se estima muita queda na safra do Vietnam a ser colhida em novembro cujos embarques se acentuam a partir de janeiro/24. Não se espera um El Niño severo apesar de algum pequeno receio para países produtores de robusta”, afirma.

Aguardando por uma recuperação nos preços, produtores relatam ao Notícias Agrícolas que quase não têm participado do mercado nas últimas semanas. A informação, confirmada por Ferreira traz preocupação já que a tendência nos próximos meses é de cotações em baixa no mercado internacional.

Além das questões na Ásia, a recuperação na safra de arábica do Brasil – com a safra mostrando recuperação acima do havia sido projetado anteriormente – e a manutenção da produção do conilon neste ciclo, ainda que em níveis mais baixos, devem ajudar a manter os preços pessionados no médio prazo.

“Esta maior oferta de arábica, já fez com que a indústria brasileira mudasse bruscamente o blend de outrora 80% conilon/20% arábica para possíveis 55-45% conilon/45-55% arábica. Se considerarmos que o Brasil consome cerca de 21M de sacas, estamos falando de possível redução de 6,3 milhões de sacas de conilon no consumo interno no período de um ano, voltando para os patamares antigos”, afirma.

Diante deste cenário, segundo a análise, o ideal é que o produtor volte a participar do mercado. “Fato é que, estando o Brasil momentaneamente mais competitivo que Vietnam e com o arábica 600 bebida dura praticamente igual ou mais barato que conilon para as indústrias brasileiras (São Paulo e Minas Gerais compram arábica sem ICMS a  700-720,00 ) enquanto conilon a 680,00 + 12 % de ICMS chega a 772,72 posto na indústria, o produtor de conilon deveria aproveitar os preços de 620-640,00 sob pena de sofrer com uma maior pressão lá na frente – tendo em vista o que aponta o mercado”, complementa.

Acrescenta ainda que depois do período de valorização, o mercado tem como característica passar por um período de desvalorização. Antes da Covid-19, em Nova York o arábica era negociado por 129,70 cents/lbp, atualmente está em 160 cents/lbp. Londres era negociado por US$ 1382 a tonelada, atualmente em US$ 2541, apesar do dólar na época na casa dos R$ 4,03.

“Podemos assim dizer que NY ainda não tocou as mínimas de três ano atrás. Chegamos a ver NY em torno de 100/lb e Londres está muito acima e ainda próxima dos níveis mais altos dos últimos 15 anos. Trabalhar com custo bem apurado e realizar o lucro é fundamental, sob pena de desencadear lá na frente venda em cascata por total falta de comprador aqui,  com alta produção de arábica, e lá fora -assim que o Vietnã se puser mais competitivo do que Brasil”, finaliza.

Por:  Virgínia Alves
Fonte:  Notícias Agrícolas