“Aumento dos custos nos deixa preocupados”, diz produtor sobre o futuro no Dia Mundial do Café

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Nesta quinta-feira (14) é comemorado o Dia Mundial do Café. E alguns produtores, especialistas e técnicos que trabalham diariamente na cafeicultura, contaram ao g1 Sul de Minas quais são as principais vitórias da categoria que merecem ser comemoradas nesta data e quais os desafios que estão por vir.

Representando a força da mulher na cafeicultura, a primeira entrevistada foi a farmacêutica Marisa Helena Contreras que se tornou produtora de café especial há 15 anos e também é palestrante e empreendedora. “Vim ajudar o meu marido que começou do zero. Compramos uma fazenda que não tinha nenhum pé de café. Larguei minha atividade profissional após 23 anos de atuação”, relembrou.

Ela, que possui 400 mil pés de café em uma área de 100 hectares, no bairro Capoeira em Areado (MG), explicou que, no começo, achou atividade muito difícil para uma mulher. “O trabalho pesado e o sol ardente me pareceram muito difíceis para uma mulher. Mas, hoje, sabemos que as mulheres possuem diferenciais como o amor, carinho e paixão que são capazes de transformar o café”, disse.

E, por acreditar na força da mulher, ela afirmou que sentia uma dor quando uma mulher desistia da cafeicultura quando o marido não estava mais presente. “Muitas mulheres, ao ficarem viúvas ou receber uma herança, acabavam vendendo a propriedade porque não sabiam como cuidar. Isso me doía muito”, desabafou. Esse incômodo levou Marisa e outras mulheres a formar um grupo de ajuda mútua com cerca de 300 mulheres de várias regiões produtoras.

Marisa Helena Contreras é palestrante e incentivadora das mulheres no campo — Foto: Arquivo pessoal

E essa força da mulher é uma dos motivos de comemoração do Dia Mundial do Café. Marisa afirmou que a presença da mulher no café hoje é muito organizada e que a relação entre o produtor e o grão é de muita gratidão. “Gratidão porque um produtor de café mostra de onde ele começou e onde ele chegou é uma vitória que não tem preço. De nossas mão saem os cafés do mundo. Evoluímos muito em inovação e tecnologia. O café traz um ciclo de prosperidade econômica naquela localidade onde acontece”, disse.

Na Mantiqueira de Minas

O produtor Tulio Henrique Renno Junqueira produz cafés especiais na Mantiqueira de Minas. Ex-presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), Junqueira possui 850 mil pés de café distribuídos em 225 hectares no bairro Sobralada, em Heliodora (MG). “Sou a quinta geração de produtores. Meu tataravô plantava café desde 1860. Os meus dois avós eram cafeicultores. Eu me formei em engenharia e, em 1976, fui trabalhar com meu pai que hoje possui 99 anos e administra um pequeno sítio”, contou.

Para Junqueira, os cafeicultores precisam comemorar a vanguarda da tecnologia brasileira no setor. “A tecnologia está sempre avançando. Sempre há novidades como, por exemplo, em variedades genéticas, irrigação e manejo da lavoura. O Brasil é líder no segmento mundial. Cerca de 30% do consumo mundial de café é atendido pela produção brasileira”, disse.

Para Tulio, dois são os desafios principais da cultura: As mudanças climáticas e uma cultura sustentável financeiramente, ecologicamente e socialmente.

Colheita café no Sul de Minas — Foto: Reprodução/EPTV

Na região de Poços de Caldas

Os novatos na cafeicultura, José Ricardo Albino e o cunhado Renato Carvalho, cuidam de uma lavoura com 53 mil pés de café em 12 hectares, no bairro Córrego D’Anta, em Poços de Caldas (MG). Eles são arrendatários da terra onde produzem.

Ele conta que começou a cultivar café há 2 anos mas que trabalha na roça desde os 14 anos. “Entramos muito otimistas na cultura com o alto preço da saca. Mas o aumento dos custos nos deixa preocupados”, disse.

Esse seria para ele, o grande desafio da cultura. “A dificuldade do produtor hoje está nos custos. Está muito alto o preço do adubo e defensivo. A mão de obra também está escassa e o preço alto”, lamentou.

O cafeicultor brincou que um grande presente para o Dia Mundial do Café seria uma baixa dos custos. “Sabemos que a questão dos custos não se resolve assim, mas se abaixasse seria um presente”, brincou.

Especialistas

Para o presidente do Centro do Comércio de Café (CCCMG), Archimedes Coli Neto, a cafeicultura brasileira pode comemorar sua consolidação e respeito conquistado no mercado internacional “O Brasil se consolidou definitivamente como o maior país exportador e com uma produção muito grande. Conquistou o mercado de café especiais e vem fazendo uma cafeicultura muito consciente, moderna, cuidando do meio ambiente e da sustentabilidade”, disse.

Ele também citou a qualidade do produto nacional. “O Brasil está se tornando cada vez mais respeitado no mercado de cafés com os produtores ofertando grãos extremamente especiais”, afirmou.

O coordenador técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater–MG) Julian Silva Carvalho, chamou a atenção para o papel do estado de Minas na produção de café. “Minas é o maior produtor e exportador de café. O fruto é cultivado em 415 municípios. Além, do volume produzido no estado, a qualidade do café aparece com a vitória em concursos nacionais e internacionais”, falou.

Como os técnicos costumam acompanhar os produtores rurais, Julian citou alguns desafios da cultura do café. “Entre os principais desafios do segmento está a sucessão familiar. O campo está envelhecendo e o jovem está migrando para as cidades. Outro desafio é compatibilizar a produção com sustentabilidade frente a limitação dos recursos naturais; evoluir na gestão propriedade; o atendimento à legislação brasileira que pode fugir um pouco da realidade do campo e melhorar a eficiência da cafeicultura de montanha que tem custos maiores frente a mecanização”, pontuou.

Além desses pontos práticos, Julian alertou também que o Brasil tem que mostrar para o mundo, que o país possui a cafeicultura mais sustentável do planeta.

O Dia Mundial do Café

Segundo o diretor executivo da Abic, Celírio Inácio da Silva, o Dia Mundial do café foi criado com o intuito de valorizar a versatilidade do setor cafeeiro e enfatizar a importância do grão no mundo. “A indústria cafeeira mundial celebra essa bebida que é uma das mais consumidas no mundo”, disse.

Celírio Inácio, Diretor executivo da ABIC — Foto: Assessoria de Comunicação Abic

Celírio comentou também sobre o dia 24 de maio, Dia Nacional do Café. A data foi oficializado pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), em 2005 para simbolizar a abertura das colheitas na maior parte das regiões produtoras do país. No mesmo dia, se comemora o Dia do Barista que é o profissional especialista no preparo de bebidas à base de café.

O diretor executivo da Abic ainda falou sobre uma terceira data: o Dia Internacional do Café. A data de 1º de outubro foi escolhida em 2015 pela Organização Internacional do Café (OIC) para unificar as celebrações ao redor do mundo.

Fonte: g1 Sul de Minas (Por Jonatam Marinho)