ARTIGO: Retrospectiva 2022. O que esperar de 2023?

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Por Marcelo Fraga Moreira*

A semana começou animada com o Set-23 subindo +845 pontos na segunda-feira. Os fundos + especuladores sofreram “stops” e recompraram +12.826 lotes (terminando o período ainda “vendidos” em -9.831 lotes – segundo último relatório do CFTC*). Mesmo com a queda na sexta-feira, o café ainda terminou a semana com ganho de +3,17% (máxima / mínima / fechamento respectivamente @ 172,75 / 156,10 / 164,40 centavos de dólar por libra-peso).

No curto prazo o Set-23 realizou o movimento esperado, buscando os +174 centavos de dólar por libra-peso. Porém não conseguiu terminar a semana acima da média móvel dos +50 dias (@ 170,70 centavos de dólar por libra-peso). O Set-23 “se segurou” nos suportes importantes das médias móveis dos +9/+17 dias (@ 165,00 centavos de dólar por libra-peso).

Próximas resistências @ +170,70 / +175,00 / +188,90 centavos de dólar por libra-peso. E próximos suportes @ +165 / + 160 / +155 centavos de dólar por libra-peso.

Mais um ano terminando e mais uma vez podemos afirmar que “o mercado é soberano”! As oportunidades que o mercado nos apresentam precisam e devem ser aproveitadas. E os paradigmas também precisam ser quebrados (com relação ao estudo da Fiesp* apresentado semana passada referente ao Brasil vir a ser um importante polo importador/exportador de produto com valor agregado)!

Como já demonstrei durante o ano o mercado “deu” diversas oportunidades para o produtor realizar o hedge para a safra 23/24 garantindo um “piso / teto” entre +1.500 /+1.800 R$/saca. Infelizmente essa oportunidade passou deixando muitas saudades!

O produtor “gritou, esperneou”. Alegou aumento nos custos de produção, nos insumos, nos fertilizantes, na falta da mão de obra, na “florada que não vingou”, nos problemas hídricos, nos prejuízos causados pelas geadas de 2021, pela seca… Mas o “mercado” foi “soberano” e ainda não acreditou/acredita no produtor brasileiro e nos números e projeções oficiais de safra da Conab*!

Em 2022 o Set-22 chegou a negociar @ +256 centavos de dólar por libra-peso e o Set-23 @ +240 centavos de dólar por libra-peso. No mercado interno o café tipo arábica chegou a negociar @ +1.650 R$/saca e café tipo robusta @ +800 R$/saca.

Após o “rallie de curto prazo” os mercados derreteram (“curto prazo” não! Pois o “mercado” trabalhou acima dos +1.400/+1.500 R$/saca para o café tipo arábica e nos +800 R$/saca para o café tipo robusta por 3-4 meses).

O Set-23 chegou a negociar na mínima do ano @ 155,50 centavos de dólar por libra-peso no dia 21 de novembro (uma queda de -35%). E os cafés tipo arábica e robusta  voltaram a negociar @ +920 R$/saca e @ +550 R$/saca respectivamente (uma queda entre -40% e -35%).

Na primeira quinzena de dez-22 o mercado interno voltou a subir com o café tipo arábica voltando a negociar entre +1.050/+1.150 R$/saca e o café tipo robusta novamente nos +800 R$/saca!

Ficou claro também que os números de “oferta e demanda” precisam ser claros e transparentes para o mercado. Trabalhar com números / projeções furadas do  “estoque de passagem / consumo interno / tamanho da safra” apenas prejudicam o produtor e o setor como um todo. Então, empresas que investem pesado nas suas equipes de pesquisa/análise de safra conseguem resultados expressivos. E quem trabalha com os números corretos pode ganhar muito, muito dinheiro!

Chegamos a ver o spread Dez-22/Março-23 trabalhar “invertido” com quase -2.000 pontos com a expectativa do Brasil “não ter café” para exportar durante o segundo semestre de 2022! Para nossa surpresa, e de muitos, o Brasil exportou na média mensal +3.000.000 sacas! E o spread “invertido” voltou para o “carrego normal”! E o Brasil “cuspiu” café, embarcando mais de +19,00 milhões de sacas nos últimos 6 meses, bem acima das expectativas!

+2.000 pontos representam aproximadamente +26 US$/saca, ou aproximadamente +135 R$/saca. Para um “pequeno fundo” especulando em +100.000 sacas (aproximadamente +400 lotes em NY), e estando na posição certa, ganhou aproximadamente +2.600.000 US$! Agora, imaginem um “grande fundo”, operando +1.000.000 sacas (aproximadamente +4.000 lotes equivalente em NY). Teve um lucro potencial em +26.000.000 US$! Em 2022 o mercado assistiu a “transferência de riqueza” entre grandes agentes do mercado, com alguns ficando pelo caminho…

Em 2022 tivemos o início da guerra entre Rússia x Ucrânia. Todos aguardavam uma guerra “rápida”. Porém, em breve já estará completando 1 ano.

Com a guerra as commodities explodiram (tanto petróleo quanto trigo, soja, milho, açúcar e café). A inflação na Europa rompeu os +10% ao ano. Nos Estados Unidos voltou a superar os +7% ao ano. Os bancos centrais foram obrigados a elevar as taxas de juros para níveis “impensáveis”! O risco e a percepção da recessão em 2023 voltaram a tomar conta dos mercados.

Nessa semana os Estados Unidos aumentaram os juros americanos em +50 pontos, terminando o ano entre +4,00/+4,5% ao ano. A previsão para 2023 o mercado já precifica  mais um novo aumento na próxima reunião em fevereiro de 2023 (devendo atingir e manter os juros em +5,00% ao ano durante os próximos anos 2023 e 2024).

No Brasil os juros já estão em +13,25% ao ano. Com o novo governo já tomando posse antes mesmo do dia primeiro de janeiro de 2023 e sinalizando a gastança e descontrole fiscal, o mercado já projeta juros acima dos +15% ao ano!

Desta forma, independentemente do tamanho e das projeções “mirabolantes” da próxima safra brasileira 23/24, o momento exige cautela e muito cuidado!

Se o mundo entrar em recessão com novo ciclo de inflação deveremos ter  desemprego, aumento nos custos, e reflexo direto no poder de compra do consumidor impactando a demanda. A lei da “oferta e demanda” irá prevalecer. Ou seja, os preços tenderão a cair e se ajustarão a demanda. Lei básica da “economia 101”!

Nessa semana tivemos novamente a publicação de mais 3 previsões para a safra 23/24 brasileira. Como sempre, as discrepâncias entre os números/estimativas continuam incríveis:

Pine Agronegócios: +54,36 milhões de sacas (arábica em +34,07 milhões de sacas e robusta em +20,29 milhões de sacas);

ECOM: +76,6 milhões de sacas (arábica +52,4 milhões de sacas e robusta +24,2 milhões de sacas);

Sincal: entre +40 / +43 milhões de sacas

Spilling the Beans: entre +50 / +56 milhões de sacas

Rabobank: +68,50 milhões de sacas

A Conab* elevou a safra brasileira 22/23 em +500 mil sacas, passando de +50,40 para +50,91 milhões de sacas. Deverá publicar a primeira estimativa para a safra 23/24 em janeiro/fevereiro de 2023.

Na quinta-feira foi publicado uma notícia onde o “repórter” afirmou que os “preços caíram pois existe um “risco abundante” de café nos Estados Unidos. Essa reportagem surgiu quando os estoques nos portos americanos foram publicados pela “Green Coffee Association*” indicando um aumento nos estoques em +70.267 sacas. Ora, com o Brasil exportando na média mensal +3.20 milhões de sacas nos últimos 5 meses, e com o principal destino sendo justamente os Estados Unidos, qual a surpresa?

Para ajudar na explicação do “porque” o mercado fechou a semana caindo -675 pontos, a “justificativa” foi o aumento nos “estoques certificados”. Ora, essa informação e expectativa já está no “mercado” há semanas. Qual a novidade? Todos sabem que existe aproximadamente +500.000 sacas pendentes para recertificação, e esse “estoque certificado” já está aumentando diariamente nos últimos 30 dias.

Qual será o termo que vão usar quando o Brasil exportar “apenas +3.000.000 de sacas em Dez-22 (segundo a projeção da Cecafé*)? “risco iminente para desabestecimento”? Ora, se com um aumento de +70 mil sacas existe o “risco abundante”, então com uma redução nos embarques em -500 mil sacas o “risco de desabastecimento” deveria ser publicado em “letras garrafais”! Infelizmente “cada um publica/escreve o que quer”…

Eu creio que o mercado realizou em função da decisão do aumento dos juros nos Estados Unidos e a aversão ao risco dos grandes fundos + especuladores. Na sexta-feira praticamente “tudo” caiu… Petróleo -2%, gás natural -5%.

2023 será um ano bem complicado, difícil! A safra 23/24 continua uma “bola de cristal”. A demanda global idem!

Como já demonstrado aqui, o “índice estoque x consumo” deverá voltar a trabalhar acima dos +15% já no próximo ano, e aumentando para +18% / + 25% nos próximos 3 anos (dependendo, claro, das próximas safras brasileiras 23/24, 24/25 e 25/26).

Se o Brasil voltar a produzir +55 / + 65 / + 70 milhões de sacas nas próximas 3 safras e o consumo global continuar aumentando em +2% ao ano, então creio que os preços deverão continuar entre os +800/+1.000 R$/saca.

Se o mercado “der novas oportunidades”, protejam-se!

Terminamos o ano com a mesma recomendação para o “produtor “vendido” (e que acredita que terá problemas com sua safra 23/24): aproveite essas quedas / lateralização do mercado para comprar seguro contra eventual quebra de safra (em função das chuvas/doenças/pragas/geadas durante o próximo inverno maio-agosto-23) analisando e comprando opções de compra “call*” ou estruturas “call-spreads*”.

O mercado sempre será soberano!

 

Este é o último comentário de 2022. Gostaria de agradecer a todos por mais um ano juntos. Pelos “feedbacks”, pela troca de conhecimento e parceria entre nossos leitores/colaboradores.

Desejo a todos um Feliz Natal e um 2023 abençoado a cada um de vocês!

E não se esqueçam do Aniversariante:

“O anjo porém lhes disse: Não temais: eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor”. Lucas 2:11-12

Voltaremos no primeiro final de semana de fevereiro de 2023.

 

Tome nota: o Novo Curso Avançado de Opções sobre Futuros – Commodities Agrícolas já tem data marcada: dias 14 (terça) e 15 de março (quarta) de 2023, das 09:00 às 17:00 horas no Hotel Travel Inn Paulista Wall Street, na Rua Itapeva, 636, Bela Vista, São Paulo – SP. Introduzimos novos módulos, com estratégias, gestão dos livros, delta hedging, entre outros assuntos. Para mais informações contate [email protected]. As vagas são limitadas.    

 

Feliz NATAL!!!

 

*Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.

** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício  mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício  mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
** “Cecafé” = Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
** “USDA” = Departamento da Agricultura dos Estados Unidos
** “FAS” = Serviço Agrícola Estrangeiro do USDA*
** “OIC” = Organização Internacional do Café
** “GCA” = Green Coffee Association
** “ABIC” = Associação Brasileira da Indústria de Café
** “Sincal” = Associação dos Produtores do Brasil
** “Pib” = Produto Interno Bruto
** “FED” = Banco Central Americano
** “OPEP” = A Organização dos Países Exportadores de Petróleo
** “COOXUPÉ” = Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé
** “Coccamig” = Cooperativa Central de Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais
** “PIB” = Produto interno Bruto de um país
** “COPOM” = Comitê de Política Monetária, é um órgão do Banco Central. Ele foi criado em 1996 com o objetivo de traçar e acompanhar a política monetária do país. Esse é o órgão responsável pelo estabelecimento de diretrizes a respeito da taxa de juros
** “Bandas de bollinger” = do inglês bollinger bands, é um indicador de volatilidade bastante utilizado para prever se um ativo está sobre-comprado, estável ou sobre-vendido. Ele é formado por duas médias móveis, uma superior e outra inferior que indicam tal informação. São alguns atributos desse indicador:

  • ANTEVER OS NÍVEIS DE PREÇO DE UM ATIVO
  • ANTECIPAR TOPOS E FUNDOS DE PREÇO NO GRÁFICO
  • MOSTRAR A INTENSIDADE DE VALORIZAÇÃO OU DESVALORIZAÇÃO DE UM ATIVO

Portanto, este indicador tenta mostrar se uma ação está barata ou cara, em um determinado período de tempo.

Desse modo, ele é indicado para operações de curto prazo, day trade ou swing trade.

O autor da técnica é o americano John Bollinger (nascido em 1950), analista financeiro e colaborador da área de análise técnica. John lançou o seu livro Bollinger on Bollinger Bands em 2001, mas essa técnica começou a ser desenvolvida por ele ainda na década de 1980. As bandas são derivadas das médias móveis e mostram que, independente de qualquer movimento que o preço faça, ele tende a voltar a um equilíbrio. Portanto, temos aí um “estreitamento das bandas” no gráfico de candlestick.

** “PMI” = A sigla PMI significa, em inglês, Purchasing Manager’s Index e é um indicador que mede a atividade econômica de um país a partir de pesquisas mensais realizadas por uma empresa privada.

Assim, o PMI também é conhecido como Índice de Gerentes de Compra e seu principal objetivo é fornecer informações sobre a temperatura de alguns setores da economia e orientar os diversos profissionais do mercado.

Fonte: Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda