ARTIGO: Qual o tamanho da safra 22/23?

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Por Marcelo Fraga Moreira*

O efeito dos vendavais durante o final da semana passada nas regiões do Espirito Santo, Bahia e Minas Gerais e a preocupação com a falta das chuvas nas demais regiões produtoras (já prejudicando a safra 23/24) animaram o mercado. Na semana os contratos Set-22 e Dez-22 subiram praticamente +3.000 pontos (mínima / máxima / fechamento no Set-22 respectivamente +213,55 / +246,90 / +238,10 centavos de dólar por libra-peso). Junto com os problemas climáticos o mercado também começou a acordar com a Cooxupé finalmente reconhecendo que a safra 22/23 foi menor que o esperado (porém não divulgaram seus números). E a Safras e Mercado também informou que safra 22/23 deverá ficar abaixo dos +61,10 milhões de sacas (também não informou sua estimativa final).

A safra do café tipo arábica está praticamente finalizada. A grande pergunta que muitos continuam fazendo é: “Onde está o café colhido”?

Quando as principais casas/bancos começarem a rever seus números o mercado vai andar e muito. Imaginem um “erro” interno em +10/+14/+20 milhões de sacas a menor, por exemplo, numa mesa do Rabobank, Itau-BBA, JPMorgan, Santander, Nestle, etc. O Rabobank havia publicado uma expectativa para a safra 22/23 em +64,5 milhões de sacas (+41,40 milhões de sacas do café tipo arábica e +23,10 milhões de sacas do café tipo robusta). Da mesma forma o Itaú-BBA continua acreditando nos números fornecidos pelo USDA*.

O Rabobank também publicou relatório recente estimando que o café terminará o semestre-22 próximo dos +200,00 centavos de dólar por libra-peso. Será que vamos ver o mercado corrigindo -10%/-15% nos próximos 4 meses? Tudo pode acontecer (se o R$ desvalorizar -10%/-15% e voltar a negociar próximo dos +5,70/+5.80 R$/US$ então o café poderia corrigir). Nos últimos pregões essa correlação R$/US$ x cotação em US$ em Nova Iorque não teve aderência. Enquanto o R$ valorizou +2,36% o café valorizou +12,50%!

Segundo o último relatório do CFTC* os fundos + especuladores aumentaram a posição comprada em +4.915 lotes e agora estão comprados em +25.670 lotes.

“Pelos dados da CFTC (Commodity Futures Trading Commission) divulgados nesta sexta-feira, 26 de julho referente ao dia 23 de agosto, mostra alta de 24,8% nas posições líquidas compradas de fundos para 23.523 lotes, cerca de 4.674 a mais. As posições abertas ficaram estáveis passando 227.404 lotes para 227.732 lotes na bolsa de NY.

Segundo os números apresentados, levando-se em consideração apenas as posições futuras os grandes fundos possuíam 23.523 posições líquidas compradas (32.523 posições compradas e 8.746 posições vendidas), no último dia 23 de agosto. No relatório anterior, referente a 16 de agosto, eles tinham 18.849 posições líquidas compradas (28.575 posições compradas e 9.726 posições vendidas).

As empresas comerciais aumentaram suas posições líquidas vendidas, registravam no dia 23 um saldo de 67.745 posições líquidas vendidas (72.745 posições compradas e 140.292 vendidas). No relatório anterior do dia 16, possuíam 62.633 posições líquidas vendidas (77.128 posições compradas e 139.761 vendidas).

Os fundos de índice aumentaram o saldo líquido compradas no período, passando de 41.879 lotes (53.459 comprados e 11.580 vendidas), no dia 16, para 42.120 lotes (53.865 comprados e 11.746 vendidas), no dia 22.”

Cheiro de sangue no mercado! Imaginem todas essas posições “vendidas” esperando os preços voltarem para os +200,00 centavos de dólar por libra-peso! Considerando +228.000 lotes em aberto – aproximadamente 65,60 milhões de sacas (sem considerar as posições em opções) apenas nessa semana os vendidos precisaram enviar aproximadamente “apenas” +36,00 US$/saca ou +2,40 bilhões de dólares! Cada 1.000 pontos equivalem a aproximadamente +14,00 US$/saca! Imaginem se o Dez-22 for buscar os +280/+300 centavos de dólar por libra-peso. Façam suas contas!

Da mesma forma alguns produtores brasileiros que realizaram as vendas através das famosas “travas” para os próximos 3-4 anos também estão “sangrando”. Muitos realizaram vendas ao redor dos +600/+700 R$/saca para entregar produto e agora estão renegociando suas entregas. Imaginem produtores do café tipo arábica onde inicialmente a safra 22/23 foi estimada em +40/+45 milhões de sacas e agora sofreram uma “quebra” em -10,00 milhões de sacas. Tomando por base uma média para o café negociado no mercado interno ao redor dos +1.400 R$/saca, então os produtores “vendidos” e com problemas na safra estão com uma “quebra financeira” ao redor dos +7,50 bilhões de reais (aproximadamente +1,50 bilhões de US$)!

Existem rumores no mercado onde as cooperativas / tradings estão indicando “interesse de compra” a X R$/saca para não “puxar preço” e acabam pagando +50/80 R$/saca em “off” para conseguir originar e comprar “lote”!

Nessa semana já tivemos negócios reportados acima dos +1.500 R$/saca para café tipo arábica e entre +730/+780 R$/saca para o café tipo robusta. Seguimos acreditando que o “spread” entre o café tipo arábica padrão “bebida rio” e o café tipo robusta vai fechar!

Durante os últimos 2 anos, em todos nossos comentários semanais, procuramos mostrar para os produtores “vendidos” para as safras atual e futuras alternativas para comprar proteção, seguro contra o “mercado andar”. Foram apresentadas inúmeras estratégias e sugestões para a compra de opções de compra “call*” e estruturas “call-spreads*” desde quando o mercado negociava ao redor dos +160/+180 centavos de dólar por libra-peso. Infelizmente o “bonde passou”. Para os “vendidos” seguimos sugerindo a compra de proteção e “estopar” o prejuízo! Melhor saber que já vão ter um prejuízo de -800/-900 R$/saca e trabalhar/renegociar as entregas para diluir esse prejuízo nos próximos anos, ou continuar “em aberto” com um café que poderá continuar subindo e buscar os +1.600 / +2.000 / +2.500 R$/saca!

No curto prazo poderemos ver uma realização entre -1.000/-1.500 pontos. O mercado subiu muito rápido e uma correção de curto prazo será saudável.

Vamos continuar acompanhando os estoques certificados americanos (terminaram a semana com +658.857 sacas e com +132.700 aguardando certificação) e os embarques do Brasil. O Brasil deverá terminar o mês de agosto embarcando aproximadamente +3,00 milhões de sacas. Para os próximos 10 meses? Novamente a pergunta do “1 não, dos 10 milhões de dólares”.

Segue a tabela com as estimativas da safra 22/23 (se alguém tiver números atualizados por favor nos enviem):

No médio prazo sigo acreditando no mercado positivo (setembro-22 – abril-23).

Como sempre, protejam-se!

Anote na sua agenda. O próximo Curso Avançado de Opções em Commodities Agrícolas (Presencial) ocorrerá dias 25 (terça) e 26 (quarta) de outubro, das 09 às 17 horas, no Hotel Wall Street, próximo Metrô Trianon, em São Paulo. Para mais informações, contate [email protected]

Ótima semana a todos!

*Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.

** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício  mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício  mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
** “Cecafé” = Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
** “USDA” = Departamento da Agricultura dos Estados Unidos
** “FAS” = Serviço Agrícola Estrangeiro do USDA*
** “OIC” = Organização Internacional do Café
** “GCA” = Green Coffee Association
** “ABIC” = Associação Brasileira da Indústria de Café
** “Sincal” = Associação dos Produtores do Brasil
** “Pib” = Produto Interno Bruto
** “FED” = Banco Central Americano
** “OPEP” = A Organização dos Países Exportadores de Petróleo
** “COOXUPÉ” = Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé
** “PIB” = Produto interno Bruto de um país
** “COPOM” = Comitê de Política Monetária, é um órgão do Banco Central. Ele foi criado em 1996 com o objetivo de traçar e acompanhar a política monetária do país. Esse é o órgão responsável pelo estabelecimento de diretrizes a respeito da taxa de juros
** “Bandas de bollinger” = do inglês bollinger bands, é um indicador de volatilidade bastante utilizado para prever se um ativo está sobre-comprado, estável ou sobre-vendido. Ele é formado por duas médias móveis, uma superior e outra inferior que indicam tal informação. São alguns atributos desse indicador:

  • ANTEVER OS NÍVEIS DE PREÇO DE UM ATIVO
  • ANTECIPAR TOPOS E FUNDOS DE PREÇO NO GRÁFICO
  • MOSTRAR A INTENSIDADE DE VALORIZAÇÃO OU DESVALORIZAÇÃO DE UM ATIVO

Portanto, este indicador tenta mostrar se uma ação está barata ou cara, em um determinado período de tempo.

Desse modo, ele é indicado para operações de curto prazo, day trade ou swing trade.

O autor da técnica é o americano John Bollinger (nascido em 1950), analista financeiro e colaborador da área de análise técnica. John lançou o seu livro Bollinger on Bollinger Bands em 2001, mas essa técnica começou a ser desenvolvida por ele ainda na década de 1980. As bandas são derivadas das médias móveis e mostram que, independente de qualquer movimento que o preço faça, ele tende a voltar a um equilíbrio. Portanto, temos aí um “estreitamento das bandas” no gráfico de candlestick.

Fonte: Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda