ARTIGO: Muita volatilidade à frente – protejam-se!

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Por Marcelo Fraga Moreira*

Mais uma semana tensa, com o mercado colocando um pouco d’água no chopp dos produtores!

A semana começou subindo +1.500 pontos com notícias altistas vindas da Colômbia (onde problemas climáticos estariam prejudicando o período final da maturação e consequente reflexo na próxima safra) e com a divulgação da revisão dos números da Conab*. Porém, da quarta-feira em diante, após o fechamento do mercado, o FED* divulgou novo aumento na taxa de juros americanos em +0,75 pontos (o que já era esperado pelo mercado), mas já sinalizando novos aumentos nas 2 próximas reuniões agendadas para novembro e dezembro-22 e terminando 2023 com juros próximo aos +5,00%! No dia seguinte tanto Inglaterra quanto Japão também anunciaram novos aumentos nas taxas de juros, e o medo da recessão global voltou a tomar conta dos mercados/commodities. Petróleo voltou a negociar abaixo dos 85 US$/barril para o petróleo tipo Brent e abaixo dos 80 US$/barril para o petróleo tipo WTI (fechando a semana respectivamente @ 86,65 e 79,43 US$/barril).

Putin voltou a ameaçar o mundo com possível uso de armas nucleares na guerra com a Ucrânia e alistamento forçado para +300.000 reservistas! Com o inverno chegando o risco do apagão na Europa e nas principais economias do continente voltaram a preocupar. E o café veio no embalo. Afinal, com o custo da energia explodindo na Europa (algumas notícias já começaram a pipocar onde estabelecimentos já estão sofrendo aumento nas suas contas de luz/energia em mais de +2.000%) será que a demanda pela bebida mais consumida no mundo vai ser impactada? O café realmente tem demanda “inelástica”? O cafezinho virou uma bebida cativa no paladar/consumo diário da população mundial? Ou a inflação/recessão global também vai também colocar “água no café” ?

A Conab* publicou seus novos números para a safra 22/23, confirmando a correção tão aguardada pelos produtores (se bem que muitos ainda esperavam números bem menores, próximos aos +45,00 milhões de sacas).

Segundo a Conab* houve uma redução na safra 22/23 para +50,38 milhões de sacas x última estimativa em +53,43 milhões de sacas – uma queda total estimada em -5,88%, ou -3.050.000 sacas! A quebra ocorreu no café tipo arábica (como era esperado) sendo agora +32,41 milhões de sacas x +35,71 milhões de sacas – uma quebra em -9,24% (ou -3.300.000 sacas – aproximadamente -23% do que seria a safra colombiana). E um leve incremento no café tipo robusta em +300.000 sacas (para +18,00 milhões de sacas x +17,70 milhões de sacas).

Segundo a Conab* a área destinada à cafeicultura nacional em 2022 foi +2.242 mil hectares, dos quais 1,84 milhão de hectares são de lavouras em produção e 401 mil hectares em formação. Dos 1,84 milhões de sacas +1.452.000 hectares foram dedicados ao café tipo arábica (com produtividade média em 22,30 sacas/ha) e 389 mil hectares foram dedicados ao café tipo robusta (com produtividade média ao redor dos 46,20 sacas/ha).

Como o mercado já está de olho na safra 23/24, com todos de olho nas previsões meteorológicas diárias e muitos praticando a “dança da chuva”, e considerando a safra 23/24 “cheia”, com os 2.242.000 ha produzindo, então a safra 23/24 poderá sim voltar a ser recorde! As chuvas voltaram a cair nas principais regiões produtores (entre +10/+50 mm) e novas chuvas já estão previstas até primeira semana de novembro. O déficit hídrico continua, porém as chuvas sempre serão bem vindas. Será que virão a tempo para recuperar as lavouras e vingar as próximas floradas?

Para a próxima safra 23/24 muitos já estão apostando em produção para o café tipo arábica entre +38/+48 milhões de sacas e entre +17/+25 milhões de sacas para o café tipo robusta (totalizando uma safra 23/24 “piso/teto” entre +57 / +73 milhões de sacas).

Considerando que dos +401.000 ha em formação +316.000 ha serão destinados ao café tipo arábica e +84.558 ha em formação serão destinados ao café tipo robusta (considerando a proporção atual), então na safra 23/24 o Brasil estará colhendo uma área para o café tipo arábica em +1.768.000 ha e +473.558 ha para o café tipo robusta. Com produtividade média estimada em +27,00 sacas/ha para o café tipo arábica e +50,00 sacas para o café tipo robusta então a próxima safra 23/24 poderá voltar produzir +71,42 milhões de sacas (sendo +47,74 milhões de sacas tipo arábica e +23,68 milhões de sacas tipo robusta).

Considerando a produção brasileira acima e considerando a demanda mundial crescendo ao ritmo dos +2% ao ano, então o índice “estoque x consumo” no final da safra 23/24 voltará a patamares “seguros”, acima dos +18%. Se o consumo mundial (em função da recessão global) cair para 1% ou +0,00, então o índice “estoque x consumo” voltará a ficar ainda mais confortável e acima dos +20% – aproximadamente +34,00 milhões de sacas, derrubando os preços!

Desta forma, seguimos recomendando a compra de seguro para os produtores para a safra 23/24 em diante através das compras de opções de venda “put*” e/ou estruturas “put-spread”, contra o vencimento Set-23, comprando o seguro através da estrutura “put-spread” com vencimento/”strike” +200 / -175 vendendo a opção de compra “call*” strike +255 a custo zero.

Essa estrutura permite ao produtor realizar uma venda mínima ao redor dos +1.250 R$/saca e uma venda máxima ao redor dos +1.650 R$/saca desde que o Set-23 feche acima dos +200 centavos de dólar por libra-peso ou acima dos +255 centavos de dólar por libra-peso no dia do vencimento das opções no próximo dia 11 de agosto de 2023. Caso o Set-23 termine abaixo dos +175 centavos de dólar por libra-peso o produtor estará “a mercado” abaixo dos +1.030 R$/saca, porém estará protegido entre +1.250/+1.030 R$/saca.

No médio prazo sigo positivo. Os estoques certificados terminaram a semana em +472.006 sacas! As exportações brasileiras continuam fortes, mesmo com o mercado invertido. Segundo as projeções da Cecafé* em set-22 o Brasil deverá exportar entre +3,20/+3,50 milhões de sacas! Os próximos 3 meses serão cruciais para o mercado sentir o apetite da demanda e a disponibilidade da oferta!

O Dez-22 encontra agora suporte importante @ 219/210/200 centavos de dólar por libra-peso e resistências @ 221 / 224 / 230 / 234 centavos de dólar por libra-peso.

Aproveitem as oportunidades que o “mercado” oferece! E protejam-se!!

Se o “cisne negro” voltar poderemos ver o café Set-23 buscar os +160/+150 centavos de dólar por libra-peso (Particularmente não acredito. Porém, se as chuvas voltarem, as próximas floradas vingarem, a demanda mundial estagnar/cair, o R$ voltar a desvalorizar, e o próximo inverno for tranquilo novamente sem geadas, então apertem os cintos e PROTEJAM-SE!).

Não perca o próximo Curso Avançado de Opções em Commodities Agrícolas (Presencial) que vai ocorrer dias 25 (terça) e 26 (quarta) de outubro, das 09 às 17 horas, no Hotel Wall Street, próximo Metrô Trianon, em São Paulo. Para mais informações, contate [email protected]

Ótima semana a todos!

*Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.

** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício  mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício  mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
** “Cecafé” = Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
** “USDA” = Departamento da Agricultura dos Estados Unidos
** “FAS” = Serviço Agrícola Estrangeiro do USDA*
** “OIC” = Organização Internacional do Café
** “GCA” = Green Coffee Association
** “ABIC” = Associação Brasileira da Indústria de Café
** “Sincal” = Associação dos Produtores do Brasil
** “Pib” = Produto Interno Bruto
** “FED” = Banco Central Americano
** “OPEP” = A Organização dos Países Exportadores de Petróleo
** “COOXUPÉ” = Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé
** “Coccamig” = Cooperativa Central de Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais
** “PIB” = Produto interno Bruto de um país
** “COPOM” = Comitê de Política Monetária, é um órgão do Banco Central. Ele foi criado em 1996 com o objetivo de traçar e acompanhar a política monetária do país. Esse é o órgão responsável pelo estabelecimento de diretrizes a respeito da taxa de juros
** “Bandas de bollinger” = do inglês bollinger bands, é um indicador de volatilidade bastante utilizado para prever se um ativo está sobre-comprado, estável ou sobre-vendido. Ele é formado por duas médias móveis, uma superior e outra inferior que indicam tal informação. São alguns atributos desse indicador:

  • ANTEVER OS NÍVEIS DE PREÇO DE UM ATIVO
  • ANTECIPAR TOPOS E FUNDOS DE PREÇO NO GRÁFICO
  • MOSTRAR A INTENSIDADE DE VALORIZAÇÃO OU DESVALORIZAÇÃO DE UM ATIVO

Portanto, este indicador tenta mostrar se uma ação está barata ou cara, em um determinado período de tempo.

Desse modo, ele é indicado para operações de curto prazo, day trade ou swing trade.

O autor da técnica é o americano John Bollinger (nascido em 1950), analista financeiro e colaborador da área de análise técnica. John lançou o seu livro Bollinger on Bollinger Bands em 2001, mas essa técnica começou a ser desenvolvida por ele ainda na década de 1980. As bandas são derivadas das médias móveis e mostram que, independente de qualquer movimento que o preço faça, ele tende a voltar a um equilíbrio. Portanto, temos aí um “estreitamento das bandas” no gráfico de candlestick.

** “PMI” = A sigla PMI significa, em inglês, Purchasing Manager’s Index e é um indicador que mede a atividade econômica de um país a partir de pesquisas mensais realizadas por uma empresa privada.

Assim, o PMI também é conhecido como Índice de Gerentes de Compra e seu principal objetivo é fornecer informações sobre a temperatura de alguns setores da economia e orientar os diversos profissionais do mercado.

Fonte: Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda