“4 C” valoriza comercialização do café produzido de forma sustentável

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A Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (Cocatrel) obteve a licença “4 C” para comercialização de café. O Código Comum da Comunidade Cafeeira (4 C), é uma associação de nível mundial que é administrada e envolve todas as cadeias na produção do café e garante maior sustentabilidade e uniformidade ao setor. A logomarca “4 C” representa processo de verificação e melhoramento contínuos na produção do café. Ela não é um selo de certificação, mas pode agregar valor ao produto e até facilitar a comercialização do mesmo no mercado. Na Cocatrel, 791 associados participam inicialmente do sistema.

Segundo o presidente da Cocatrel, Francisco Miranda de Figueiredo Filho, o “4 C” surgiu na Europa e tem ganhado o mundo com objetivo de valorizar o setor. “É um processo de livre adesão. Aqui no país, nossa cooperativa foi uma das primeiras a aderirem. Fizemos as adequações para integrar o projeto piloto e agora esperamos que todos que fazem parte da cadeia cumpram seu papel, pois estivemos de portas abertas para a auditoria e fizemos os investimentos e adaptações necessárias”.

O engenheiro agrônomo e gerente do Departamento Técnico da Cocatrel, Roberto Felicori, explicou que a Cocatrel filiou-se em 2007 à associação “4 C” e em 2008 e 2009 fez as adequações necessárias para obter a qualificação que envolveu a cooperativa e um grupo de cooperados. “O projeto foi apresentado para todos, mas apenas alguns se interessaram incialmente. O processo foi demorado. Mas em dezembro do ano passado, após a vinda dos auditores da associação, a licença foi liberada para a cooperativa”. O sistema “4 C” é apoiado em três pilares principais: desenvolvimento, meio ambiente e economia, e tem como foco a sustentabilidade.

“O grande objetivo da cooperativa com a obtenção dessa logomarca é permitir que nossos cooperados tenham seus cafés produzidos dentro das melhores regras e práticas exigidas no mundo, respeitando todos os códigos de conduta ligados à área social, ambiental e econômica”, explicou Felicori. Ele disse ainda que o foco do “4 C” é o desenvolvimento de trabalhos de melhoria contínua. “A Cocatrel tem feito isso. Fizemos trabalho com projeto de instrução em várias propriedades rurais com o tema ‘Sustentabilidade’. E não foi só em Três Pontas. Estivemos em Santana da Vargem, Coqueiral, Nepomuceno, Carmo da Cachoeira, Campos Gerais e Cana Verde”.

Roberto disse ainda que a cooperativa pauta agora outros projetos, como o de análise das águas que abastecem as propriedades rurais. “Vamos buscar melhorar a condição de vida das pessoas que produzem o café. Vamos mostrar para o mundo que produzimos o café dentro das regras exigidas. Estamos terminando a elaboração de um livreto sobre a análise das águas e vamos promover workshops na cooperativa”. Além desse projeto, até o final do ano a Cocatrel deve concluir um software que será disponibilizado aos associados para que eles o utilizem na administração e gerenciamento de suas propriedades.

Segundo o engenheiro, os investimentos da cooperativa em projetos e trabalhos de melhoria contínua chegam a quase R$100 mil. E isso tudo para se adequar às exigências do “4 C” que são baseadas em normas internacionais que combatem o trabalho escravo e de menores, o tráfico de pessoas, o uso de pesticidas e agrotóxicos proibidos em acordos internacionais e as transações comerciais imorais. E por outro lado, valorizam a sindicalização e informação, o respeito às leis trabalhistas, o fornecimento de condições mínimas de moradia e de água para os trabalhadores e a preservação dos recursos naturais. 

O presidente da cooperativa destacou o empenho dos funcionários para que a Cocatrel conseguisse ingressar no “4 C”. “O trabalho dos engenheiros Roberto Felicori e Eduardo Garcia, bem como de toda equipe da Cocatrel, foi fundamental. Pois o processo foi demorado e trabalhoso”. E apesar do “4 C” ainda não ter aumentado o preço do café, Francisco acredita em uma mudança no mercado e que os cafés produzidos dentro dessas condições terão preferência. “Dentro dessa crise pela qual o setor passa há alguns anos, entendo que é interessante buscar inovações para tentar melhorar. E a Cocatrel pensou dessa forma quando optou por integrar a associação”.

Roberto falou que a licença da Cocatrel é valida até 2014. E para que haja renovação, a associação mandará no ano em que vencer a autorização um grupo de auditores para ver as condições do projeto. “Atualmente, 791 cooperados participam. E a legislação do ‘4 C’ explica que durante esse período de vigência da atual licença, apenas o número de 10% do total dos participantes pode vir a ingressar no projeto como novos membros. Caso essa quantidade seja maior, a cooperativa tem que pedir uma auditoria extra e pagar por fora ou esperar até 2014 quando os auditores do projeto virão sem custo à parte”.

Como não é obrigatória a qualificação pelo “4 C”, a logomarca acaba por ter um destaque maior nos procedimentos internos da cadeia, nas negociações com os grandes compradores do produto in natura. “Você não irá encontrar um produto sendo comercializado com uma etiqueta ‘4 C’, mas essa qualificação pode significar um diferencial no mercado. E acredito que logo, quem produzir sem atender esse código de conduta mundial, sofrerá um deságio em seu café. De uma forma ou outra o produto terá uma imagem no mercado. E é isso que o mercado mundial busca hoje, transformar essa imagem em regras de sustentabilidade”, explicou.

Para Felicori, esse pode ser até um ponto positivo que vem para ajudar o produtor na crise. “O que temos que fazer é buscar soluções para agregar preço ao nosso produto. Dizer também que isso traz uma superação total da crise, jamais. Porque a crise depende de vários fatores. O sistema produtivo fica à mercê dos preços de defensivos, agrotóxicos e da taxação de impostos. Então temos é que estar atentos ao custo desse sistema produtivo. E a comercialização do café ‘4 C’ de certa forma pode melhorar o preço da saca e isso obviamente traz vantagens para o produtor”.

A desvinculação da cadeia produtiva do café de um sistema ultrapassado, que no início do século passado era feito por escravos é outro ponto importante que o “4 C” traz. Mostrar a evolução no cultivo do café pode ser outra arma contra a crise. “Até que ponto o mundo vai consumir um produto produzido dentro das piores situações de trabalhos e de exploração natural? Ainda mais o café, que uma bebida consumida com prazer. Como você vai dizer para o mundo tomar um café que foi cultivado com pesticidas proibidos ou trabalho escravo? O que a gente busca é o aumento no consumo, mas de forma consciente. Não queremos que o café dos cooperados da Cocatrel, os cafés de Minas e até do país fiquem associados a uma má imagem. É isso que visamos com as melhorias contínuas”.

* André Silva Rosa

Fonte: Jornal Correio Trespontano

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