Um novo status para o café conilon capixaba

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“Com o tempo, o produto vai se transformar em um grande mercado”, afirma Adelino Thomazini, da Conilon Brasil.

Cafeicultores do Espírito Santo, o maior produtor nacional de robusta, também conhecido como conilon, querem provar que o grão pode ser “especial”, assim como os cafés finos provenientes dos arábicas. A empresa Cambraia Cafés pretende lançar no próximo mês o primeiro blend que leva conilon especial. A expectativa é que a produção desses grãos, iniciada há cerca de dois anos, tende a crescer.

Arábica e robusta são as principais espécies cultivadas no mundo, comumente classificadas como “variedades”. Considerado de “categoria inferior” se comparado ao arábica, principalmente no que se refere à qualidade da bebida, o conilon é mais usado em blends de torrado e moído e na fabricação de café solúvel.

A meta é criar demanda para o produto, fazer o consumidor e a indústria entenderem a qualidade do conilon. Essas são as palavras do produtor Luís Carlos Gomes, que é um dos fornecedores para o novo blend. Produtor de café arábica no Espírito Santo, resolveu investir também no conilon descascado, o que segundo ele, garante uma bebida melhor e mais suave.

Este ano, o produtor deve colher pouco mais de 800 sacas diante de um total de 1.200 sacas de conilon, o mesmo volume da safra 2011/12. Para obter um produto classificado como especial, são necessários cuidados no manejo antes da colheita e no pós-colheita, além de uma posição geográfica favorável. Gomes cultiva sua produção em Santa Teresa, noroeste do Estado, acima de 400 metros de altitude – antes considerado o limite para o plantio de robusta – e tem plantas em áreas com altitude de quase 700 metros.

Além de atender à demanda crescente por produtos de melhor qualidade, o conilon especial seria, na avaliação dele, uma forma de a indústria baratear o custo com a matéria-prima na medida em que a maior utilização do robusta, mais barato que o arábica, garante mais corpo à bebida e não interfere no blend final com grãos arábicas. O robusta tem maior concentração de cafeína e sabor mais “forte”.

A exemplo do que ocorre com os arábicas finos, o conilon especial alcança preços superiores. De acordo com o produtor Luís Carlos Gomes, uma saca especial valia R$ 260 contra R$ 202 da tradicional, no ano passado. Mas ele relata que alguns produtores conseguiram R$ 356 ante R$ 300 do grão tradicional. O cafeicultor acredita que o conilon especial tem um ganho real de 15% a 25% em relação ao produto comum. Além disso, tem a vantagem do custo menor e a produtividade maior que o arábica. O produtor está otimista e prevê que o conilon vai tomar espaço do arábica, que hoje representa cerca de 75% do cultivo de café no país.

Luís Carlos Gomes e mais alguns produtores procuraram a Cooperativa Agropecuária Centro-Serrana (Coopeavi) em busca de apoio. Há dois anos, a cooperativa incentiva a produção do conilon especial e paga um prêmio sobre o produto. O “ágio” foi de cerca de 40 reais por saca no ano passado. E nesta safra deve ser entre 10% e 15% sobre o valor dos tipos mais comuns.

João Elvidio Galimberti, gerente de mercado de café da Coopeavi, disse que a cooperativa busca o mercado externo para competir com os melhores produtores de conilon na Índia e em alguns países da África. Hoje o tipo especial representa cerca de 10% do recebimento de todo o volume de café robusta da Coopeavi. A expectativa é de chegar aos 15% e 20%. A primeira colheita significativa dos associados rendeu pouco mais de 4 mil sacas de conilon cereja descascado e 12 mil sacas de grãos lavados com secagem natural. Desse total, dois contêineres com 320 sacas cada um foram exportados para Rússia e Alemanha.

Mais uma prova de teste será a colocação no mercado do primeiro blend de café fino produzido no Brasil que leva conilon especial. O produto será lançado no próximo mês pela mineira Cambraia Cafés. A recém-criada companhia, com foco em cafés “gourmet”, fez parceria com um distribuidor nos Estados Unidos e firmou contrato de exclusividade de venda em uma rede de supermercados no Brasil.

O blend, chamado de Zimbro, terá o mesmo preço de outros dois formados com café arábica e que serão lançados com a marca Cambraia em junho. Henrique Dias Cambraia, dono da empresa, diz que a inclusão do robusta especial não é só uma questão de preço. O produto garante um café forte, com padrão bem brasileiro, além de chamar a atenção pela novidade. Nos testes feitos pela torrefadora, Cambraia informa que os consumidores receberam o produto com “surpresa positiva”, diz. O blend será vendido em grãos torrados e moídos em embalagens de 250 gramas, de um quilo, além de sachês.

O blend Zimbro marca a estreia da torrefadora, que por enquanto terá um volume pequeno de produção, em torno de 10 toneladas por mês, divididos pela metade para os mercados interno e externo. O produto deve representar 40% da oferta de café.

Além da nova bebida, a produção de grãos especiais é incentivada pela empresa Conilon Brasil, que presta assistência técnica aos produtores. O Projeto Conilon Especial desenvolve protocolos de boas práticas agrícolas nos municípios capixabas de Jaguaré e Vila Valério, seguindo os padrões do Coffee Quality Institute, dos Estados Unidos, referência no assunto. Criada em 2009, a empresa quer identificar o potencial para a produção de conilon especial. De 150 propriedades avaliadas, 20 delas apresentaram condições especiais para a produção. Mas Adelino Júnior Thomazini, diretor da Conilon Brasil, é otimista e crê que 50% destas propriedades estarão produzindo conilon fino em 2012.

Thomazini explica que apesar de o conilon não ser rico em nuances de sabores como o arábica, com toques de fruta, chocolate, caramelo, castanha, etc, os cuidados no pós-colheita podem garantir a presença de algumas dessas características na bebida e valorizá-la por isso. “Com o tempo, o produto vai se transformar em um grande mercado como ocorre com o arábica”, prevê.

Fonte: Valor Econômico

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