Suprimento de grãos cai, e demanda global cresce

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Nos últimos anos, a produção de café despencou aqui e em muitas outras regiões produtoras de café da América Latina.

O aumento das temperaturas e as chuvas mais intensas e imprevisíveis são os culpados, fenômenos que muitos cientistas ligam parcialmente ao aquecimento global.

Mas, enquanto os estoques de alguns dos melhores grãos diminuem, a demanda global cresce rapidamente, com a ascensão das classes médias em economias emergentes como Brasil, Índia e China, que desenvolvem o hábito de tomar café.

As plantas de café exigem uma mistura certa de temperatura, chuva e períodos de seca para que os grãos amadureçam adequadamente e mantenham o sabor. As pragas dos cafeeiros prosperam em clima mais quente e úmido.

A maioria dos pequenos proprietários de terra na luxuriante região montanhosa de Cauca, na Colômbia, prosperou por décadas fornecendo o café Arabica, cultivado à sombra da floresta tropical, para marcas como Nespresso e Green Mountain.

A escassez do grão Arabica está sendo sentida em Nova York e Paris, enquanto os clientes se assustam com a escalada dos preços. Os analistas temem que a produção de Arabica na Colômbia não se recupere.

Em 2006, a Colômbia produziu mais de 12 milhões de sacas de 60 quilos de café e estabeleceu a meta de 17 milhões para 2014. No ano passado, a safra foi de 9 milhões de sacas.

As grandes marcas aumentaram os preços no varejo de muitas variedades em 25% ou mais. Os lucros das redes de café como Starbucks e Green Mountain diminuíram. Os futuros do café Arabica aumentaram mais de 85% desde junho, para US$ 2,95 por meio quilo, em parte por causa das preocupações sobre o suprimento, o clima e a futura qualidade, segundo George Kopp, analista do International Futures Group em Chicago.

"A produção de café está sendo ameaçada pelo aquecimento global, e a previsão para o Arabica em particular não é boa", disse Peter Baker, especialista em café do grupo de pesquisa CABI, no Reino Unido, que se concentra em agricultura e meio ambiente, notando que as mudanças climáticas prejudicaram as plantações nas Américas Central e do Sul.

Os cafés das variedades Arabica e Robusta representam virtualmente todo o consumo. Com seu sabor mais delicado e menor conteúdo de cafeína, o Arabica é mais popular e mais caro, embora mais sensível ao clima. A produção de Robusta predomina na Ásia e na África.

A Colômbia é o segundo exportador de Arabica depois do Brasil, cuja produção, mais centrada em fazendas maiores e mecanizadas, continua crescendo.

As temperaturas médias nas regiões cafeeiras aumentaram quase 1 grau em 30 anos e, em algumas áreas de montanha, o dobro disso, segundo a Cenicafé, o centro de pesquisa do café da Colômbia. A chuva nessa área foi mais de 25% acima da média nos últimos anos.

Com temperaturas mais altas, os brotos das plantas abortam ou seus frutos amadurecem depressa demais.

O calor também traz a ferrugem do café, um fungo devastador. As chuvas fortes danificam as flores do Arabica, e os períodos de seca de duas semanas que levam a planta a produzir grãos ocorrem com menos frequência, dizem os plantadores. Os pesquisadores da entidade estão trabalhando duro sobre esse problema.

Agrônomos ensinam os plantadores no controle das pragas que chegaram com a mudança climática. Os geneticistas estão produzindo plantas híbridas mais resistentes a doenças ou que suportam chuvas torrenciais e mais calor.

A federação de cafeicultores aconselhou os agricultores a mudar para uma nova variedade de Arabica mais rija, que foi desenvolvida pela Cenicafé.

Os agricultores resistem porque não podem passar sem a renda enquanto as novas plantas amadurecem. Eles temem que a mudança possa afetar o sabor.

Sabor, qualidade e suprimento são questões delicadas para uma indústria cujos aficionados são notoriamente detalhistas.

A federação de cafeicultores está criando um programa de certificações de "origem do produto" semelhante ao que protege o queijo parmesão da Itália. Dessa maneira, os importadores não serão tentados a substituir o café do Brasil ou da Indonésia.

Na fazenda Garzón, na região de Cauca na Colômbia, a produção caiu 70% em relação a cinco anos atrás. O fungo da ferrugem do café matou campos inteiros. Hoje, a família planta a nova variedade Arabica, mais rija. Luis Garzón, 80, disse: "Aprendemos a lição".

Fonte: Coffee Break

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