Seca no Brasil pode reduzir safra de arábica por dois anos

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Os efeitos da seca sobre a próxima safra de grãos arábica do Brasil podem continuar na temporada seguinte, disse uma analista sênior depois de uma visita às fazendas do maior produtor e exportador do mundo.

“Fiquei surpresa com as condições de algumas dessas fazendas”, Judy Ganes, presidente da J. Ganes Consulting, em entrevista por telefone após avaliar cafezais de Minas Gerais, estado que lidera a produção de café no país. “Nunca, nunca vi algo assim”, disse a consultora que cobre o setor há mais de três décadas.

O Ministério da Agricultura disse no mês passado que algumas estimativas fornecidas ao governo indicam perdas em 2021 de 15% a 40% em relação a 2019, a metade de menor produtividade do ciclo bienal. Ecom Trading e Volcafe, duas grandes tradings, projetam queda de cerca de 30% em relação ao ano anterior.

Os futuros do café arábica deram um salto de 34% em relação à mínima de 2020 em 15 de junho, de 94,55 centavos de dólar por libra-peso, devido ao impacto do clima seco.

“Até o momento, apenas vi cafeeiros esqueléticos ou que parecem exuberantes de longe e então, quando você se aproxima, não há café”, disse Ganes após visitar municípios como Varginha, Alfenas e Três Pontas. “A primeira floração falhou, e este é o resultado.”

Minas Gerais responde por 70% da produção brasileira de arábica, a variedade preferida pela Starbucks.

Alguns grãos de café ficaram pretos, e as preocupações aumentaram, pois os frutos plantados podem abortar ou cair dos pés, disse Ganes em entrevista do Hotel Vale do Café, no município de Machado. O crescimento vegetativo para a safra de 2022 está atrasado, e “as chuvas dos últimos dois meses apenas ajudarão a evitar outro desastre”, disse.

Ganes não fará uma estimativa de produção até o fim do levantamento na próxima semana. “Tudo até agora está muito baixo. Não acho que o mercado tenha considerado isso nos preços, porque é uma situação em desenvolvimento”, enquanto o setor enfrenta problemas de demanda de restaurantes afetados pela pandemia de coronavírus, disse durante um webinar.

“Se vai haver uma safra no próximo ano, virá de cafeeiros jovens, que são mais fortes e capazes de resistir à seca, e de fazendas irrigadas”, disse Ganes.

A visita ocorreu sob estritas precauções de segurança por causa da pandemia.

Fonte: Bloomberg