Plantado em antigo reduto das Farc, melhor café da Colômbia busca grande lucro em leilão

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A trilha íngreme e lamacenta que leva à fazenda de Astrid Medina, na Cordilheira dos Andes, exibe as tragédias da vida colombiana — e seu potencial.

A pouco mais de 6 quilômetros de distância do município de Planadas, uma estátua da Virgem Maria marca o lugar onde sua mãe e seu irmão foram levados por um deslizamento de terra rio abaixo. Mais adiante, a estrada serpenteia passando por uma cruz onde seu pai, um líder comunitário, foi tirado de um ônibus e morto a tiros por guerrilheiros marxistas.

Mais além, a 1.800 metros acima do nível do mar, está a fazenda de Medina e os melhores grãos de café do país, segundo um painel de juízes internacionais.

“Nosso segredo é o ambiente local e também uma certa dose de sorte”, disse Medina, a respeito do prêmio, em entrevista no dia 19 de abril em sua casa. “Podemos ter o melhor café, mas ainda nos falta muito”.

O café produzido por Medina e pelos vice-campeões da Taça da Excelência 2015 da Colômbia, realizada no mês passado, foi leiloado nesta quinta-feira. O país busca atender uma forte demanda dos EUA, da Europa e da Ásia pelos chamados cafés especiais. A Federação Nacional de Produtores de Café do país diz que quer aumentar as vendas dos cafés de alto valor agregado para 70 por cento das exportações totais até 2020, contra uma fatia atual de 35 por cento.

Os cafés com as certificações Orgânico, Comércio Justo e Aliança das Florestas Tropicais fazem jus a preços maiores que o café colombiano regular, que é vendido, por si só, com ágio em relação a outros tipos nos mercados internacionais. 

Notas frutadas

Os grãos vencedores da Buenavista possuem acidez média para alta e um corpo cremoso com notas doces e frutadas, segundo os juízes que deram a eles 90 pontos, de um máximo de 100, no dia 13 de março.

No ano passado, os compradores pagaram US$ 46 a libra-peso (450 gramas) pelo café vencedor, aproximadamente 32 vezes o preço recebido pelo café arábica na bolsa ICE Futures U.S., em Nova York.

Empresas como Starbucks Corp. e Caravela Coffee LLC visitaram a área, que neste ano produziu seis dos 20 participantes mais bem colocados.

“Muitos fazendeiros da região estão usando as melhores práticas agrícolas”, disse neste mês Manuel Salas, um agrônomo que representa a federação local. “A geografia e a vegetação também têm um papel importante. Existe uma abundância de água limpa e solo rico, com muitas árvores cítricas e de cedro”.

Da maconha aos grãos

O café e outras culturas legais substituíram a maior parte das plantações de papoula (usada para produzir o ópio) e maconha, que antes eram comuns. Isso ocorreu devido à maior presença do exército na região ao longo da última década.

O município de Marquetália, onde fazendeiros comunistas enfrentaram o exército em 1964, em uma batalha que deu à luz as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, ou Farc, fica a cerca de oito quilômetros da fazenda Buenavista. As Farc, o grupo que matou o pai de Medina, negociam com o governo colombiano em Cuba desde 2012 em busca de um acordo para acabar com o conflito interno do país, que já dura cinco décadas.

Se seu café alcançar um bom preço, Medina planeja terminar de construir uma nova casa, reinvestir o dinheiro em sua fazenda e buscar novos mercados para seus grãos premiados.

“Estou estudando criar uma marca para que o nosso café seja conhecido como Buenavista internacionalmente”, disse ela. “O mercado internacional é muito melhor do que o doméstico. Existe uma cultura mais forte de tomar um bom café. E as pessoas pagam mais”.

Fonte: Bloomberg

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