La Niña deve perder intensidade entre abril e maio, diz Somar

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O ano de 2012 começa sob os efeitos do fenômeno La Niña (águas frias sobre o Oceano Pacífico equatorial) de intensidade moderada e que deve se estender pelo menos até o outono. A avaliação é da Somar Meteorologia, em boletim sobre perspectivas climáticas para o primeiro semestre. "Há previsão de que o La Niña deva perder intensidade entre abril e maio, ou seja, um período de transição durante o outono e indicativo de "neutralidade" climática (sem La Niña e nem El Niño) para o inverno", informa o sócio diretor da Somar, Paulo Etcichury. Segundo ele, o cenário para o segundo semestre de 2012 ainda está indefinido.

A Somar divulgou uma avaliação sobre as principais consequências do clima para algumas atividades agropecuárias este ano:

Soja

A safra a ser colhida em 2012 será toda definida pelas condições do La Niña em curso. O principal risco dessa lavoura está concentrado nas lavouras do Sul do Brasil, em virtude da redução das chuvas, com estiagens regionalizadas durante este verão.

No Rio Grande do Sul, que é o Estado mais prejudicado pela estiagem que se observa desde novembro, o mês de janeiro ainda deve ter pouca água, agravando o quadro da estiagem, embora haja previsão de chuvas para o fim da próxima semana (entre 12 e 15). Em fevereiro, a previsão indica melhora, mas a regularização do regime de água e reposição do déficit hídrico só deve ocorrer com o fim do fenômeno La Niña, previsto para meados de abril e maio.

Para as lavouras do Paraná e de Mato Grosso do Sul, as chuvas da virada do ano aliviaram um pouco os efeitos da estiagem e as previsões para o restante de janeiro e fevereiro se mostram um pouco mais favoráveis com alguns episódios de chuvas, porém, ainda longe de se considerar regularização das águas.

Para o Sudeste e o Centro-Oeste, depois de alguns problemas de irregularidade e distribuição das chuvas entre novembro e dezembro, o clima deve apresentar um comportamento médio, sem indicativo de riscos iminentes (excesso de chuva), inclusive para o período de colheita.

As lavouras do Nordeste (Bahia, Maranhão e Piauí) e também Tocantins devem enfrentar redução no volume e frequência das chuvas em relação ao observado em dezembro. No restante de janeiro e fevereiro deve ocorrer uma maior variabilidade, alternando episódios de chuvas (frentes frias) com alguns períodos mais secos.

Milho

O risco climático para safra de milho de 2012 (safrinha) é maior para os Estados do Sul (Paraná e Mato Grosso do Sul). A presença do La Niña reduz as chuvas entre março e abril, o que pode prejudicar o plantio e a emergência das plantas. Além disso, o enfraquecimento do La Niña a partir de abril/maio favorece a intensificação do frio e eleva o risco de geadas, principalmente a partir de junho. Por isso, o período de plantio ganha maior importância, pois quanto mais tarde maior o risco de geadas na fase final da lavoura.

Já para as lavouras de milho (safrinha) Sudeste e no Centro-Oeste a presença do La Niña contribui para o prolongamento das chuvas pelo menos até a primeira quinzena de abril, que representa uma condição semelhante ao observado em 2011. Para o Nordeste a presença do La Niña também favorece a safra do cereal, com indicativo do período chuvoso para o sertão e o agreste entre fevereiro e abril.

Cana-de-açúcar

O retorno das chuvas em outubro sobre as principais regiões produtoras de São Paulo contribuiu para uma recuperação das condições de desenvolvimento e plantio da cana-de-açúcar. Entre novembro e dezembro, as chuvas foram um pouco irregulares, mas com bons níveis de radiação solar, o que também favoreceu o desenvolvimento das plantas. A previsão para os meses de verão é de um padrão climático em torno da média nas áreas produtoras de cana do Sudeste e Centro-Oeste, garantindo assim a recuperação do déficit hídrico e condições básicas de produção. Pelas características climáticas deste verão, a tendência é que as chuvas na maioria das vezes ocorram de forma isolada e no período da tarde, intercaladas com períodos de sol.

Outro fator que deve favorecer o sistema de produção é que as chuvas devem se prolongar pelo menos até abril, com alguns episódios isolados (frentes frias) em maio o que, de modo geral, representa um cenário muito semelhante ao observado em 2011. Em contrapartida, caso se confirme um período de transição/neutralidade climática para o inverno de 2012, isso em tese aumenta o risco de geadas nas áreas produtoras do sul de São Paulo, Paraná e de Mato Grosso do Sul.

Arroz

O período de plantio (outubro e novembro) mais frio e com pouca chuva acabou prejudicando a instalação das lavouras, o que em parte pode ter comprometido o potencial de produção de algumas áreas.

Para o Rio Grande do Sul, como é típico de anos de La Niña, o principal risco deste ano novamente está associado à redução de chuvas durante o verão, que pode causar transtornos principalmente nas regiões que têm dificuldade de captação de água. Nas regiões Oeste e da Campanha Gaúcha, importantes produtoras de arroz irrigado, o acumulado de chuva em 2011 apresentou um déficit que variou entre 350 a 500 mm.

Em compensação, em anos de La Niña, por serem mais secos, há uma melhor condição de radiação e insolação (brilho solar), o que favorece o desenvolvimento das lavouras. Mediante disponibilidade de água, isso pode potencializar a produção.

Com relação à temperatura, ainda existe o risco de algumas ondas de temperaturas mais baixas/amenas (inferiores a 14 graus) entre fevereiro e março, que pode atrapalhar a fase final das lavouras, principalmente para as áreas plantadas mais tarde.

Feijão

O risco para as lavouras dos Estados do Sul, especialmente Rio Grande do Sul e Santa Catarina, aumenta em função da redução das chuvas, como já foi observado entre o fim de novembro e o início de dezembro. Para as lavouras de feijão do Sudeste (Minas Gerais) e Centro-Oeste (Goiás), cujo plantio neste ano foi beneficiado com as chuvas de outubro, o risco maior no verão está associado à alguns períodos chuvosos entre janeiro e fevereiro, que podem comprometer o processo de colheita, mas não representam riscos de quebra significativa de produção.

Para a produção de feijão no Nordeste, de um modo geral, devem-se repetir as condições observadas na safra passada. Já para as lavouras do Nordeste (Bahia e Sergipe), a projeção climática se mostra dentro de um padrão médio entre maio e agosto.

Café e Laranja

As safras de café e laranja de 2012 no Brasil, de um modo geral, foram beneficiadas com as chuvas de outubro, que deram sustentação às floradas. As chuvas de novembro e dezembro mantiveram as condições favoráveis para o desenvolvimento das plantas, com elevado índice de desenvolvimento foliar e condições apropriadas para o crescimento dos chumbinhos (frutos).

A previsão para os meses de verão é de um padrão médio de chuvas, apenas com alguns episódios de volumes mais concentrados (frentes frias estacionárias), o que pode contribuir para o surgimento de doenças. Dependendo do manejo adotado, porém, dificilmente haverá comprometimento do desempenho das lavouras.

O enfraquecimento do La Niña previsto a partir de abril/maio favorece a intensificação do frio e risco de geadas no inverno de 2012, condição semelhante à observada no inverno passado.

Pastagens, leite e carne

As chuvas mais regulares ao longo do ano no Sul do Brasil e a retomada das chuvas em outubro no Sudeste e no Centro-Oeste representam um cenário favorável para o desenvolvimento das pastagens, mantendo os ciclos de produção de leite e carne das respectivas regiões. As chuvas do verão 2012 devem ser suficientes e garantir a recuperação das pastagens do Sudeste, Centro-Oeste e também no Nordeste.

Assim como observado em 2011, para este ano também há previsão do prolongamento das chuvas no outono e a ocorrência de alguns episódios isolados durante o inverno, o que indica que o período seco de 2012 não deve ser tão extremo.

O Sul do País, porém, diferentemente do resto do Brasil, deve enfrentar um período não muito favorável para o desenvolvimento das pastagens, por causa do risco de pouca chuva no verão e no outono e o frio mais intenso no inverno.

Hortaliças e frutas

De modo geral, pode-se afirmar que o cenário climático para 2012 deve ser semelhante ao observado em 2011, com alguns riscos setoriais e regionalizados para a produção de hortaliças e frutas.

Episódios chuvosos no verão podem prejudicar a produção de hortaliças do Sudeste, sobretudo foliares e também tomate. O risco, no entanto, não é iminente e nem de grandes proporções. Em geral, os problemas (caso ocorram) devem ser regionalizados.

Outros fatores que devem interferir na produção de hortaliças do Sudeste é o prolongamento das chuvas no outono e a ocorrência de alguns episódios isolados durante o inverno. Já para o Sul, o risco principal está associado a algumas ondas de frio mais extremo e risco de geadas no inverno.

Argentina e Paraguai

As chuvas da primavera, em geral, proporcionaram boas condições de plantio para as lavouras de verão (milho e soja) da Argentina e do Paraguai. A redução das chuvas em dezembro começou a preocupar principalmente os produtores de soja do Paraguai que, dependendo da época do plantio e a variedade (ciclo) plantada, a estiagem de dezembro pode representar risco de redução de produção. A boa notícia é que, mesmo não garantindo chuvas regulares por causa do La Niña, há previsão do retorno das chuvas para a região no decorrer do verão.

Para a Argentina, em virtude das boas condições de umidade do solo, a redução das chuvas em dezembro não chega a comprometer o desenvolvimento das lavouras do segundo plantio (lavoura plantada em cima da palhada do trigo). No entanto, o clima já começa prejudicar as lavouras do primeiro plantio, que estão em fase de floração.

Na região do Pampa Úmido, o solo começou a apresentar deficiência de umidade no início deste mê, indicando começo de uma seca. Para o decorrer do verão de 2012, mesmo com a previsão de alguns episódios de chuvas na próxima semana, áreas produtoras da Argentina devem apresentar condição de pouca água e aumento do risco de estiagens regionalizadas. As condições de solo e a capacidade de armazenamento, porém, são fatores diferenciados nas lavouras da Argentina, diminuindo os efeitos de eventuais períodos de estiagens, a exemplo do observado na safra passada.

Fonte: Agência Estado

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