Entenda como funciona o concurso que elege o melhor café especial do Brasil

Imprimir
O consumo de café especial tem crescido no Brasil e no mundo. Com isso, a busca pela qualidade tem se tornado um novo desafio para os produtores. Mas o que define um café especial? Quais são os critérios utilizados pela principal associação do país para apontar os melhores grãos? Como é possível adquirir mais pontos? O G1 foi atrás dessas respostas e conversou com um especialista da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), que explicou como funcionam as classificações.

A BSCA tem sede em Varginha (MG) e é o órgão responsável por realizar diversas parcerias com pesquisadores com o objetivo de difundir técnicas de controle de qualidade na produção desse tipo de grão. Desde 1999, ela é responsável por realizar um concurso que elege o melhor produtor da safra. A associação é a única instituição nacional autorizada a certificar lotes através de selos de controle de qualidade.

Grãos devem ter pontuação acima de 80 para serem considerados especiais (Foto: Lucas Soares)

Sílvio Leite, conselheiro da BSCA, conta que o concurso trouxe valorização para os grãos de ponta, mudando também a cara da produção nacional. “O Brasil não tinha, naquela altura, nenhum reconhecimento por produzir cafés de altíssima qualidade. E de fato não produzia ainda, produzia apenas alguns melhores”.

O conselheiro conta que associação é exigente com os produtores – para participar do concurso, por exemplo, os grãos passam por uma avaliação inicial e a saca pode ser eliminada sumariamente. “Um dos critérios é se o café estiver sujo, estiver verde e se estiver com fermentações. Aí ele não é nem julgado, porque não serve para efeito de concurso”, conta Sílvio.

Diversos aspectos são avaliados para determinar a qualidade do café (Foto: Lucas Soares)

Depois, a nota final é uma junção dos seguintes aspectos:
– limpeza
– equilíbrio na xícara
– sensação na boca
– viscosidade
– acidez
– sabor
– sabor remanescente
– equilíbrio
– uniformidade

Todas esses quesitos resultam na decisão final do avaliador. O mínimo aceitável para que o produto seja considerado especial é 80 pontos, numa escala que vai de zero a 100. Mas o conselheiro conta que hoje é bastante comum encontrar grãos acima dessa nota que muitos compradores rejeitam por esperarem lotes com notas ainda maiores.
“Eles têm a expectativa de lotes bem maiores, que vão a partir de 85 pontos, que são cafés especiais mais finos”, conta Leite.

Os campeões em geral precisam atingir acima de 90 pontos. Mas isso depende de safra, de acordo com o consultor.

Valores das sacas variam muito de acordo com a pontuação recebida (Foto: Lucas Magalhães/EPTV)

Caso de sucesso
Em 2006, o produtor Francisco Izildo, de Carmo de Minas (MG), ganhou o prêmio com os grãos plantados na propriedade dele. Com a maior nota já registrada no concurso, ele conseguiu vender cada uma de suas sacas por mais de US$ 6 mil.

“Nesse ano em que nós ganhamos o concurso, atingimos 95,85 em 100 pontos do concurso. Eram 15 sacas que foram vendidas por US$ 6.580. Acho que é a maior nota e o maior preço que já atingiu uma saca de café”, conta.

Ele lembra que a produção desse tipo de grão foi resultado de um trabalho realizado em conjunto com pesquisadores e engenheiros agrônomos, que ajudaram a delimitar a área e a estruturar a produção, que hoje chega a 50% do que é retirado de suas propriedades.

“Aqui na nossa região, começamos um trabalho sobre café especial, porque o nosso tem um custo maior para conseguir valorizar. Então começamos a fazer um trabalho para conseguir vender um café melhor, agregando valor a ele”, explica.

“Se estivesse vendendo só commodities (grãos tradicionais), já tinha morrido”, acrescenta o produtor.

Mas produzir esse grão exige mais tempo e dedicação dos produtores rurais. Além disso, uma série de normas precisam ser cumpridas para que a produção seja considerada de excelência. Segundo o cafeicultor, eles já foram a países como Colômbia e Venezuela para conhecer o modo de produção nesses locais.

Quanto maior a pontuação, maior o valor da saca de café (Foto: Lucas Soares)

“Quando não tem jeito de apanhar o café maduro, a gente faz coleta seletiva. Já fomos a outros países para ver como eles fazem porque eles estão mais adiantados que a gente”, conta o cafeicultor.

Ele assegura que, sem a produção do tipo especial, seria difícil manter a cafeicultura tradicional na região por conta da topografia. “Na área de montanha, o café especial é essencial para os cafeicultores se manterem. E esse não fosse ele, eu acho que a nossa cafeicultura já estaria até em pior estado”, diz.

Sendo assim, é com a produção dos tipos especiais que os cafeicultores têm encontrado um caminho para aumentar o faturamento da safra. E o conselheiro da Associação Brasileira afirma que esse segmento é tendência no Brasil e no mundo. “O crescimento mundial nas vendas do café comum está em torno de 2%, e o crescimento dos especiais está entre 8% e 10%”, afirma Sílvio.

Recorde quebrado
No último dia 28 de novembro, um produtor de Patrocínio (MG), no entanto, conseguiu quebrar o recorde da saca de café especial mais cara a ser vendida em um leilão da categoria. A mercadoria foi avaliada em US$ 17,2 mil, valor que equivale a R$ 55,7 mil pela saca de 60 quilos. Segundo a BSCA, o café foi campeão na categoria “Pulped Naturals”, no Cup of Excellence Brazil 2017.

Fonte: G1 Sul de Minas (Por Bruno de Oliveira)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *