Consolidação da indústria de café tende a continuar

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O consumo de café cresce no mundo, puxado principalmente por Ásia e Oriente Médio, e as grandes multinacionais do segmento se movimentam – com fusões e aquisições – para tentar conquistar fatias maiores de um mercado que avança inclusive em detrimento de outras bebidas.

Em diferentes apresentações na terça-feira no 26º Encafé, em Punta del Este (Uruguai), analistas da Euromonitor e do Rabobank estimaram que a demanda deverá continuar a aumentar e que a onda de consolidação nesse mercado, que ganhou força a partir de 2012, ainda não acabou.

Segundo projeções do Rabobank, o ritmo de avanço do consumo de café no mundo diminuiu nos últimos cinco anos. Ainda assim, a entrada de novos consumidores nesse mercado garantiu um crescimento médio de 2,3% ao ano entre 2012 e 2017. O maior incremento no período, de 7% ao ano, foi registrado no Oriente Médio, enquanto na Ásia a média alcançou 5,7% ao ano.

“Mercados não tradicionais lideram o crescimento da demanda mundial”, reforçou Guilherme Morya, analista de café do Rabobank. O banco projeta que a demanda global deverá atingir 166,9 milhões de sacas este ano e “beirar” as 180 milhões em 2024.

Matthew Barry, a analista de bebidas da Euromonitor International, também chamou a atenção para a demanda crescente e observou que só há queda em países que vivem ou viveram fortes crises econômicas, como Venezuela e Grécia. Já em mercados consolidados como EUA e Europa, o crescimento é mais lento.

Barry destacou o crescimento da demanda nas várias categorias de café, em diferentes padrões, o fenômeno do avanço do consumo fora de casa – com a abertura de cafeterias na Ásia -, e o aumento da demanda por bebidas prontas à base de café em países desenvolvidos.

De acordo com dados da Euromonitor, em 2017 as vendas globais em cafeterias somaram US$ 58 bilhões – desde 2012, mais de 30 mil coffee shops foram abertas no mundo, a maior parte na Ásia. Para Barry, o que move o consumo fora de casa é o declínio da demanda por outras bebidas e a busca por qualidade.

O analista avalia, ainda, que as cafeterias têm também um papel social importante para os consumidores. “Pessoas que bebiam chá estão ingressando no café via coffee shops e café solúvel”, observou o especialista.

A urbanização na China foi um dos pontos destacados por Morya, do Rabobank. “Haverá renda disponível para consumir outros produtos. É uma questão de tempo querer um produto de maior valor agregado”, disse. O banco holandês estima que a demanda total por café na Ásia alcançará 28,2 milhões de sacas em 2025 – eram 19,7 milhões em 2015.

As mudanças recentes no padrão de consumo e o aumento da demanda por café em países em desenvolvimento estão levando os grandes players do segmento a se adaptar, na visão da Euromonitor. Os movimentos da Jab Holdings (controladora da JDE), da suíça Nestlé e da italiana Lavazza refletem esse novo cenário. Empresas de bebidas, como a Coca-Cola, também se mexem para enfrentar as mudanças, uma vez que as vendas de refrigerantes perdem fôlego no mundo.

Nos últimos anos, a Coca Cola investiu em cafeterias, fechando acordos com a Dunkin Donuts Iced, e mais recentemente adquirindo a britânica Costa Cafe. A Jab, por sua vez, investiu em negócios como a Caribou, a Keurig Green Mountain, a Pret à Manger e a Peet’s Coffee. No mês passado, anunciou um acordo para produzir e distribuir cápsulas de alumínio com a marca italiana illy.

E enquanto a JDE busca se tornar uma companhia global para competir com a Nestlé, a suíça fez um acordo de US$ 7,5 bilhões para comercializar cafés e chás da Starbucks fora das lojas da rede. “Não há razão para achar que a onda de consolidação acabou”, disse o analista da Euromonitor.

Morya, do Rabobank concorda. “A tendência é que as fusões continuem acontecendo”, disse, acrescentando que as empresas do segmento no mundo vivem um momento de “comprar ou ser comprado”. O quadro é especialmente desafiador para as companhias que têm 1% a 3% de participação em termos de valor do mercado mundial, de acordo com o banco holandês.

Conforme dados apresentados por Morya, a Nestlé tem hoje uma fatia de 22,2% desse mercado, seguida pela JAB, com 12,7%. A Lavazza está distante no terceiro lugar, com 2,7%. “Existem hoje dois players predominantes no mercado de café. Provavelmente, nos próximos dez anos, poderá haver uma mudança semelhante à que ocorreu no segmento de bebidas”, onde o número de companhias se afunilou, disse.

E a consolidação também pode ter novos capítulos no Brasil, reconheceu Barry. Por aqui, as empresas que lideraram esse movimento nos últimos anos são a JDE, dona das marcas Pilão e Caboclo, e o Grupo Três Corações.

Fonte: Valor Econômico (Por Alda do Amaral Rocha – a jornalista viajou a convite da Associação Brasileira da Indústria do Café – Abic)

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