Café: produtores brasileiros buscam ampliar volume de grãos especiais

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Desde 2009, a produção de cafés especiais no Brasil mantém o ritmo de crescimento de 10% a 15% ao ano. Na safra deste ano, que deve somar 50 milhões de sacas, quatro milhões irão corresponder a cafés especiais.

Deste volume, 3 milhões serão exportadas para os Estados Unidos, Japão e Europa e 1 milhão serão voltadas para o consumo brasileiro, de acordo com dados da associação do setor, a Brazil Specialty Coffee Association (BSCA).

Impulsionados pelo aumento do consumo de café fora de casa, e também diante de um consumidor mais exigente, principalmente nos grandes centros, produtores buscam rentabilizar a produção ao ampliar o volume de produtos com maior valor agregado em um cenário de preços baixos da commodity.

O maior movimento acontece entre os médios produtores, concentrados na região de Mogiana, no interior de São Paulo, e no Cerrado de Minas Gerais. Eles produzem, no total, de 3 mil a 50 mil sacas por ano, e uma porção relevante é dedicada aos cafés especiais.

A estimativa da BSCA é de que haja uma centena de produtores que querem ampliar a produção de cafés de qualidade. "Juntamente com os pequenos, eles estão liderando este movimento de reforço do nicho no País", diz Vanúsia Nogueira, diretora executiva da associação.

Os pequenos produtores de cafés especiais produzem de 50 a 1 mil sacas por ano e se espalham pelo Sul e a região da mata de Minas Gerais; Piatã, na Bahia; e nas montanhas do Espírito Santo.

Entre os grandes agricultores, que produzem de 80 mil a 100 mil sacas, apenas três dedicam a maior parte da produção, de 50% a 60%, para cafés de maior qualidade.

É o caso da DaTerra, Ipanema e Monte Alegre, todos localizados em Minas Gerais, Estado responsável por cerca de 50% da produção de café nacional.

A Monte Alegre direciona 30% da produção para cafés especiais e mais 30% para cafés premium. O processo começou em 1992, logo após a abertura do País para exportações da commodity.

Hoje, o negócio sofre menos com os preços baixos da saca de café tradicional, cotados internacionalmente. Isso porque cafés de maior qualidade têm um ágio que suaviza quedas, conta José Francisco Pereira (foto), diretor da companhia.

O aumento da demanda, nacional e internacional, também auxilia o crescimento. "O consumo global de cafés tradicionais cresce cerca de 1,5% ao ano, menos do que o aumento populacional. Já o de cafés de qualidade têm um ritmo maior, de 5% a 6% ao ano". Isso porque o segmento, assim como outras bebidas especiais, fideliza consumidores.

Para o executivo, o potencial do mercado é grande. Mas, lembra, exige altos investimentos. "Não aumentamos mais o porcentual de cafés de alta qualidade porque não conseguimos. Os fatores são diversos. Mas, inicialmente, começamos com 10%. Buscamos aprimorar a produção". A entrada de novos participantes, em um cenário de menor rentabilidade, portanto, é limitada.

Em busca de valor

Um dos exemplos de quem aposta no segmento é o grupo mineiro Sertão, localizado no município de Carmo de Minas. O grupo produz em torno de 30 mil sacas em uma área de 800 hectares e pretende ampliar a porção de cafés especiais, que soma apenas 40% do total plantado. O grupo trabalha com bourbon amarelo, de rápida maturação e sabor adocicado.

Na opinião de Luiz Paulo Dias Pereira Filho, diretor da exportadora do grupo, o segmento se equipara cada vez mais ao do vinho. "Começamos a pensar no mercado há dez anos. No cenário atual, não sofremos tanto".

Pereira Filho busca trocar experiência com países com mais tradição no segmento, como a Colômbia e Guatemala, para trazer técnicas que permitem uma colheita mais homogênea. "Falta uniformidade. Trabalhamos a nutrição e manejo da planta, assim como a análise do solo".

Já a holding Montesanto Tavares está de olho na seara dos cafés especiais. Em visita à América Central, o presidente Ricardo Tavares verificou plantações de cafés sombreados por mata nativa, e decidiu replicar a ideia por aqui.

Desta forma, é possível rentabilizar as plantações, pois o mogno tem maior valor no mercado, e aumentar a qualidade do café, que fica menos vulnerável às geadas e sol.

A empresa já produz café superior e mogno em duas fazendas e deve começar a plantar em outras três. As unidades comercializadoras do grupo também têm como objetivo aumentar o número de produtos do segmento vendidos. Para isso, busca pequenos produtores.

Fonte: iG Economia

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