Café: mais renda para as famílias e maior giro na economia de Três Pontas

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Nestes 153 anos de existência, aniversário comemorado no dia 03 de julho, a cidade de Três Pontas, no Sul de Minas Gerais, experimentou algumas mudanças em seu setor econômico. Passou pela fase da cana-de-açúcar e atualmente se rende à industrialização e ao cultivo de algumas oleaginosas, como o girassol. Mas nenhum outro produto esteve tão presente na história da cidade e na vida da população como o café. A colheita do produto que tem duração de seis a oito meses é o que garante o sustento de muitas famílias para o ano todo e movimenta vários ramos do comércio local.

O café continua como principal produto agrícola cultivado no município. E a estimativa para safra 2010/2011 na região é de 506 mil sacas, cerca de 5% a mais que no ano passado, quando foram colhidas 409 mil. O aumento, segundo especialistas, deve-se à bienalidade da planta, que reveza ciclos de baixa e de alta produção. E mais café para colher, significa mais empregos. 

E é o que acontece no município, que pelo segundo ano consecutivo desponta nessa época como um dos maiores geradores de emprego no estado e no país. Conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), de janeiro a maio deste ano, o agronegócio café em Três Pontas foi responsável por 1.136 novas vagas com carteira assinada. Bom para o município, que chegou a segunda colocação no ranking estadual e na vigésima sexta no nacional, para a população e para o comércio.

Vera Lúcia dos Santos trabalha na colheita do café há oito anos. E é nessa época que ela consegue reforçar o orçamento da família. Ela tem três filhos e quatro netos. “O dinheiro da colheita ajuda no pagamento das contas de água e luz. Compro ainda o gás e sempre que sobra um pouco, compro também algumas coisinhas que preciso como tábua de passar roupa e lençóis”. 

Para Rosilene da Silva, essa época de safra também é muito importante. Ela tem cinco filhos e conta que não é fácil pagar todas as contas. “O dinheiro do café ajuda principalmente no pagamento do aluguel, pois eu não tenho casa própria. E quando sobra uma parte, pago também água, luz e faço compra de mantimentos para a casa”. 

E como saem para trabalhar, tanto Vera, quanto Rosilene tem que deixar netos e filhos em casa. Dessa forma, acabam gerando novos empregos. Vera teve que contratar uma pessoa para ficar com os netos e Rosilene deixa os filhos na creche, mas paga uma vizinha para pegá-los a tarde e ficar com eles até que ela chegue do serviço.

Vera e Rosilene saem todo dia de casa por volta de 5h da manhã e chegam depois das 18h. Mas nem por isso reclamam da dureza do trabalho e reconhecem a importância do café para Três Pontas. “Acho que a remuneração poderia ser um pouco melhor, mas sem dúvida é uma ajuda grande. Essa época é oportunidade para quem quer trabalhar. Eu mesma, fora da colheita não consigo emprego”, falou Rosilene.

Para o gerente de uma loja de móveis e eletrodomésticos da cidade, Denílson dos Santos Maganha, na época de colheita do café há realmente uma melhora nas vendas. “Em abril e maio as vendas começaram a crescer. Mas ainda não chegaram ao melhor patamar. Agora em julho, acredito que melhore mais e continue a subir gradativamente nos outros meses. Em meses bons, nessa época as vendas têm crescimento de até 30%”, afirmou o gerente que trabalha no ramo há 13 anos.

Ele falou ainda que no caso da atual loja em que trabalha, a clientela da zona rural representa uma boa fatia das vendas. “São clientes fiéis, que nessa época aproveitam para fazer suas compras. E não tenho dúvidas de que o café continua como importante aliado para economia da cidade. Se com o café muitos reclamam, sem ele, a situação complica ainda mais”.

O gerente de supermercado, Francisco de Assis Ferreira de Carvalho (Kiko), também acha que o café é essencial para economia de Três Pontas. “Eu acho que o município como um tudo já foi mais dependente do café. Mas nos últimos anos, o crescimento da área industrial e até de alguns comércios absorveram parte dessa mão-de-obra. Mas mesmo assim, o café é indispensável. Pode não estar bom para o produtor, mas para quem trabalha na colheita, é dinheiro garantido. E a maior parte desse dinheiro é gasto aqui em Três Pontas. Nesse período, de 40% a 50% dos meus clientes moram ou trabalham na zona rural”.

Kiko falou ainda que observa nos cheques recebidos como pagamento das compras que nessa época de safra a renda das famílias praticamente triplica. “Isso para famílias onde trabalham duas pessoas. Mas para aquelas onde mais pessoas ajudam, o aumento é maior”. Sobre as vendas, ela confirmou que também melhoram. “O crescimento fica em torno de 20% em relação ao período em que não há safra”. E com mais gente comprando, o supermercado acaba por contratar mais funcionários para dar conta de atender aos clientes. O gerente disse que em média contrata três funcionários a mais nesses meses.

O certo é que as histórias do café e de Três Pontas se misturam. Datam de 1845 os primeiros registros do cultivo da planta na região. E desse período em diante o café propiciou bons e maus momentos para o município. Atualmente, a crise instalada no setor persiste por falta de políticas públicas do governo federal. Mas os quase 10 milhões de trabalhadores que dependem do trabalho na lavoura e os produtores não desanimam. E uma ótima notícia foi divulgada na última semana. A valorização do produto no mercado parece ser uma luz no fim do túnel de todos da cadeia cafeeira.

O produto acumula valorização nos últimos meses. O grão in natura chegou ao melhor preço dos últimos doze anos na Bolsa de Nova Iorque. E os reflexos no mercado interno foram imediatos. Mesmo com o início da safra, quando se estima maior quantidade de produto no mercado, o preço do café chegou a ser cotado na última semana de junho a R$318,31. Melhor preço desde junho de 2005, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA). 

* André Silva Rosa

Fonte: Jornal Correio Trespontano

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