Café mais antigo de Madrid fecha portas e emociona a cidade

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Foi durante décadas local de encontro de milhares de madrilenos, casa de muitos artistas e intelectuais, epicentro de tertúlias como era apanágio dos grandes cafés, cenário de concertos e movimentos. Foi cantado, foi cenário de filmes, inspirou livros. Mas a semana começou de portas fechadas para o Café Comercial, com os seus proprietários a anunciarem a decisão, mas sem darem explicações sobre as razões ou o futuro do espaço que, oficialmente a funcionar desde 1887, era o mais antigo de Madrid em funcionamento.

"É uma tristeza ter que escrever uma mensagem como esta", surgiu esta segunda-feira no Facebook oficial do café, surpreendendo, informa o El País, clientes e empregados. 

"Mas chegou o dia do encerramento e, por isso, queremos agradecer de todo o coração a confiança com que nos brindaram durante estes anos cheios de experiências maravilhosas", refere-se na emotiva mensagem que, não acrescentando mais dados, sublinha um desejo: "Esperamos que vos fiquem boas recordações do Café Comercial", dizem as representantes deste negócio que pertencia à mesma família, Contreras, desde o início do séc. XX.

Nesta casa de uma elegância intemporal, localizada no centro da capital espanhola, na Glorieta de Bilbao (Malasaña), vivia-se entre as suas sólidas madeiras, paredes corridas a espelhos, mesas de tampo de mármore, colunas e lustres. O Comercial guardava ainda tradições comunitárias, lembra o jornal El Mundo, albergando um clube de xadrez e um clube de jogos de cartas. Era particularmente famoso por uma especialidade, churros com chocolate quente.

“Não nos explicaram nada, não percebemos como podem fechar um local com tanta história sem darem outra opção", comentou ao El País o empregado mais antigo do Comercial, Felipe Majano, de 60 anos, a trabalhar há 36 no local. Muitos outros residentes manifestam a sua tristeza e incredulidade; há mesmo quem considere o encerramento "uma hecatombe", como o actor David Amón, que acrescenta ao jornal que nos últimos sete anos não falhou um dia no seu café de estimação. Agora, falhou-lhe foi o café.

O encerramento já se tornou também uma questão política, com o PSOE a exigir que a autarquia garanta a continuidade do café e a própria presidente da câmara, Manuela Carmena, a lamentar o sucedido e mostrando-se esperançada numa solução que evite o desaparecimento do Comercial.

Pelas redes sociais, é manifesto o espanto de muitos madrilenos e visitantes. Só no post da página oficial do café somam-se quase 900 comentários. Uns questionando o fecho, outros traçando teorias (entre a lei das rendas e a falta de protecção do património), elogiando os velhos empregados, evocando recordações. Para muitos, parece ser o fim de uma era (embora Madrid ainda mantenha uma série de cafés históricos). "Para mim desaparece algo mais que um café", resume uma cliente.

Entretanto, também as portas do próprio café se tornaram murais de lamentação, com os clientes a deixarem mensagens emocionadas dedicadas ao Comercial. Muitas delas em forma de coração. Um destes corações dizia apenas "Se não têm dinheiro, deixo-vos algum".

Fonte: Fugas (Portugal)

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