Café de gringo, para brasileiro beber

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Para saborear o que há de melhor em café "made in Brazil", o brasileiro não precisa mais sair do País. Agora, nosso cafezinho precisa apresentar os mesmos padrões de qualidade do produto exportado, ou seja, com 100% de condições para o consumo. É o que exige o Ministério da Agricultura (Mapa), que promete fiscalização rigorosa para evitar fraudes e adulterações. A Instrução Normativa (IN) n° 16 do Mapa, que traz o novo regulamento técnico para café torrado em grão e café torrado e moído, entrou em vigor no dia 23 de fevereiro. A IN 16 atua diretamente na indústria. Nesta fase de implantação, o papel principal do ministério é fiscalizar e monitorar o processo de produção, do grão à sua transformação em pó nas torrefações. Esse controle será feito mediante a coleta de amostras, realizadas por fiscais agropecuários em qualquer local onde exista comercialização de café.

O novo regulamento determina os limites de 1% de impurezas (cascas, paus e sementes) e de 5% de umidade para o produto. Aqueles que não se adequarem não poderão ser comercializados. Embora já fossem impostas ao mercado, agora as exigências ganham força de lei. Os estabelecimentos que comercializarem o café fora do padrão serão advertidos na primeira abordagem e, no caso de reincidência, haverá punição com multa e apreensão da mercadoria.

Até então a fiscalização era feita pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), que concedia, ou não, o Selo de Pureza. A autorregulação concedia à entidade a função de coibir fraudes na produção e denunciar as infrações. O problema é que a Abic não tinha poder de punir os infratores. "Com a IN 16 será possível melhorar a qualidade do café", diz Nathan Herszkowicz, presidente da Abic. "Na prática, com o rigor de fiscalização o objetivo é que as impurezas desapareçam e o produto ganhe valor." Segundo Herszkowicz, a fraude atinge entre 2% e 3% do café produzido no Brasil. Ou seja, são 500 mil sacas de impurezas adicionadas ao café vendido no País a cada ano. Apesar disso, só no ano passado foram feitas 250 denúncias de irregularidades no setor. "A normativa do ministério é um reforço ao combate à fraude no mercado", afirma Herszkowicz. "O selo da Abic permanecerá como registro da qualidade do café." Neste ano, a Abic vai colher 2,9 mil amostras do produto em todo o Brasil.

Para Sydney Marques de Paiva, presidente de uma das maiores produtoras de café do Brasil, a Bom Dia, de Varginha (MG), a IN veio em boa hora. "Com o reforço na fiscalização por parte do Ministério, o maior beneficiado será o consumidor", diz Paiva. "Aumentar a qualidade do café vai refletir significativamente no consumo." Segundo Luiz Paulo Dias Pereira Filho, presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), a normativa vai dificultar o acesso ao mercado das empresas fraudulentas. "Não há como contabilizar quantas delas vinham atuando fora do padrão", diz Pereira Filho. "Daqui para frente haverá pelo menos o mínimo de exigências. Quem ganha é a cadeia produtiva como um todo, pois terá a certeza de um produto que segue rigorosos padrões de qualidade."

O trabalho do Mapa, nesta primeira fase de fiscalização, estará mais focado no controle da umidade e das impurezas do café oferecido ao consumidor. Porém, a fiscalização baseada na análise sensorial (que define a qualidade do café) só começa em 2013, por solicitação da indústria que pediu tempo para preparar técnicos especializados em um controle mais detalhado. "As razões para solicitar esse adiamento são as dificuldades para a formação, treinamento e calibração dos provadores em todo o País, da chamada prova da xícara, que testa o sabor do café", diz Manoel Vicente Bertone, secretário de produção e agroenergia do Mapa. "E tarefa que demanda tempo e muito exercício para se obter bom resultado, pois precisaremos de mão de obra especializada." De acordo com Bertone, está prevista a contratação de 340 técnicos. Durante o ano, representantes da indústria e técnicos da Agricultura vão estabelecer os parâmetros para manter a qualidade do café, dentro das exigências, levando em consideração itens como aroma, sabor, fragrância, nível de acidez e amargor, entre outros.

As mudanças impostas pelo novo regulamento do Mapa tendem a contribuir para o aumento do consumo per capita de café torrado no Brasil, que em 2010 atingiu marca histórica. O consumo foi de 4,81 kg por habitante, volume que supera os 4,72 kg registrados em 1965, que vinha sendo o melhor índice até o ano passado, segundo dados do Instituto Brasileiro do Café (IBC).

Fonte: Dinheiro Rural

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