Associação vai criar cooperativa e aumentar em 30% negociações com café fair trade

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Ousadia que chama atenção em Varginha. A União de Pequenos Produtores de Cafés Especiais dos Martins – Unipcafem – decidiu se unir em uma cooperativa independente. Segundo o presidente da associação, Guido Reghim, a ideia inicial é a de apenas começar o cooperativismo, sem, necessariamente, ter que construir galpões ou armazéns.

Tudo a fim de conseguirem a emissão de nota fiscal para facilitar os processos de comercialização e terceirização do armazém. Com 42 associados, a Unipcafem produz em média seis mil sacas de café fair trade ao ano. Dessas, mais de 4.460 sacas são comercializadas em média a R$ 360 cada uma.

A previsão é que a cooperativa comece a funcionar em julho do ano que vem. E a expectativa, de acordo com Guido, é que com o cooperativismo haja fidelização de novos clientes, tendo em vista a possibilidade de ampliação das negociações, tanto de venda como de compra. “Consequentemente, esperamos um crescimento entre 20 e 30% em relação ao que é negociado hoje”.

O presidente da Unipcafem deixa claro que uma entidade não vai anular a outra. Ele ressalta que a associação vai continuar com a finalidade de atender às demandas sociais e desenvolvimento dos associados nas áreas ambientais e técnicas, por exemplo.

A cooperativa, por sua vez, vai poder proporcionar facilidade na compra e venda do café fair trade, diminuindo custo e agregando valor, respectivamente. “A comunidade ganha desenvolvimento, pois quanto mais vendemos, mais premiados somos. E o prêmio da venda é revertido em obras sociais, ambientais”.

Ainda segundo Guido, a necessidade de a Unipcafem formar uma cooperativa surgiu à medida que iniciaram a comercialização de café, uma vez que associação não pode emitir nota conforme lei federal. Além disso, a Flo-Cert, responsável pelo atestado Fairtrade etiquetado, não certifica grandes cooperativas como a Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Varginha – Minasul.

Guido explica que a cooperativa não tem a função principal de rebenefício ou preparo de café. Por isso, ela não tem a obrigação de disponibilizar tais serviços em todos os momentos em que a Unipcafem precisa. E outro armazém, com esta especialidade, pode atender a associação nesses casos. “Porém nós ainda trabalharemos com os serviços da Minasul. Quando ela não puder nos atender, teremos a opção de levar o café para outro local. É claro que temos preferência ainda pela cooperativa de Varginha”.

O café fair trade não é comercializado no Brasil. De acordo com Guido, o produto estará nas gôndolas dos supermercados assim que for emitida a licença pelo selo Fairtrade para o Brasil. Quanto à polêmica de que o brasileiro consome cafés de péssima qualidade, o presidente da Unipcafem é categórico: “depende de onde você compra este café”. Ele esclarece que o povo brasileiro encontra nos supermercados cafés de excelente qualidade.

A diferença é que o valor é acima do normal. Enfim, paga-se a mais por qualidade. Nada mais justo! Ainda segundo Guido, a valorização do café brasileiro pode ser melhorada internamente por meio de mudanças culturais. “Sempre, o café melhor é também um pouco mais caro, assim como tudo que é mais caro é sempre melhor. Mas infelizmente, no Brasil, ainda é agregado mais valor ao que é barato, ao invés do melhor”.

A Unipcafem é um exemplo de associação. Por se tratar de uma entidade muito bem organizada, são desenvolvidos muitos projetos sociais, visando sempre a conscientização para preservação do meio ambiente. Para começar, no cultivo do café fair trade não são usados insumos e suprimentos que podem agredir diretamente solo, água e vegetação. Produtos certificados, geralmente, são manejados da forma mais natural possível.

Além disso, na comunidade dos Martins é trabalhada a coleta seletiva de lixo com os alunos da Escola Municipal Pedro Reghim. Todo o dinheiro adquirido com a reciclagem é revertido para a escola, para que a instituição aplique-o em projetos pedagógicos e na compra de materiais que faltam. Na comunidade foram construídas também bacias para contenção de água da chuva, a fim de preservar nascentes.

A intenção é evitar assoreamento das minas, podendo diminuir o fluxo de água, propiciar contaminação e retenção da água do solo. Além da criação da cooperativa para comercialização, a Unipcafem pretende ainda em 2010, adquirir máquinas colheitadeiras e participar de concursos de cafés. Quanto às questões sócio-ambientais, a expectativa é a de implantar energia solar à base de materiais recicláveis e construir fossas ecologicamente corretas, eliminando o uso das fossas negras. Embora seja muito comum no meio rural, é altamente contaminável, principalmente às águas. 

Fonte: Gazeta Rural (suplemento quinzenal da Gazeta de Varginha)

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