Agricultores endividados pela seca no ES querem novos créditos rurais
Após as limitações da Medida Provisória 733, de 14 de junho de 2006 – no aguardo da sanção presidencial – que autoriza a liquidação e a renegociação das dívidas de crédito rural contratadas somente junto ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e que abrange somente os 28 municípios do Espírito Santo que estão na área da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), contemplando, portanto, uma quantidade ínfima de produtores rurais capixabas, a luta é para que o CMN flexibilize a resolução para que os produtores capixabas sejam efetivamente contemplados.
De acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes), Júlio Rocha, a condição mais absurda que prevê a resolução se encontra em seu artigo 2º, cuja descrição é que o agricultor que “renegociar suas dívidas nos termos desta Resolução fica impedido de contratar novo financiamento de investimento com recursos do crédito rural, em todo o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), até que amortize integralmente, no mínimo, as parcelas previstas para os três anos subsequentes ao da formalização da renegociação”.
Para Júlio Rocha, o impedimento da aquisição de novos créditos impede, inclusive, que o produtor rural dê continuidade ao trabalho para que consiga pagar suas dívidas. “O impedimento para novos créditos é absurdo, pois a agricultura é uma atividade dinâmica e que tem despesa todo o dia. Como o produtor vai fazer para tocar a lavoura se grande parte da produção morreu ou não se renovou? Pelo menos mais duas safras já estão comprometidas. Este fato isolado (de não poder tomar novos créditos) é a mesma coisa de dizer que o produtor não pode mais continuar na atividade. Não se faz nada sem dinheiro”, protestou o presidente da Faes.
Agricultura familiar
Já o presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Espírito Santo (Fetaes), Júlio Cézar Mendel, relata que já vem pautando o Governo desde antes da MP 733 para a amortização das dívidas dos trabalhadores rurais capixabas, principalmente os oriundos da agricultura familiar. Para ele, a prorrogação do pagamento das dívidas vai apenas retardar o problema que os trabalhadores rurais enfrentam.
“A resolução do conselho monetário não atende às necessidades do Espírito Santo. Primeiro é o impedimento de novos créditos. Temos famílias no Estado com dificuldade de subsistência, de ter o necessário para se manter. Prorrogar dívida só retarda o problema, que vai explodir logo à frente. A perspectiva é de voltar a produzir, de fato, somente em 2019. Nesse período, como a agricultura, atividade mais importante do Estado, vai sobreviver? Esse resolução não atende a agricultura familiar, pois não dá alternativa de permanecer no meio rural”, lamenta Mendel.
Amortização total de dívidas
O presidente da Feates, Júlio Mendel, é a favor da amortização das dívidas de crédito rural da agricultura familiar, além da abertura de novos créditos. “Defendemos a amortização total ou parcial, já que em alguns casos se perdeu 80% da produção. Esse é o primeiro passo fundamental para ter fôlego. Além disso, é preciso ter novos créditos para recomeçar as atividades. Se decidirem por prorrogação, e deixo claro que não é a nossa visão, o pagamento deveria começar a ser efetuado daqui a três anos, com a retomada da produção. Esperamos que o conselho monetário reveja a resolução e atenda as necessidades da agricultura familiar”.
Júlio Rocha, presidente da Faes, se diz contrário a pedir “anistia” das dívidas, mas favorável a uma carência compatível com a recuperação das lavouras. “É preciso estudar caso a caso, de acordo com a capacidade de pagamento do produtor e superar esses pontos da resolução que impedem a recuperação do produtor”.
Ele citou outros pontos controversos na resolução do CMN, como renegociação restrita apenas a “operações contratadas nos municípios onde tenha sido decretada situação de emergência ou estado de calamidade pública em decorrência de seca ou estiagem”.
“A resolução exige que o município do produtor tenha decretado estado de emergência e ao mesmo tempo ter um laudo técnico. O governador já decretou situação de emergência em todo o Estado e isso tinha que bastar. Outra coisa absurda é a necessidade de apresentação de documentos fiscais de todos os insumos gastos. A maioria, por descuido, não apanha esses documentos ou, às vezes existe um documento só quando é comprado em conjunto”, explica Júlio Rocha.
Senadores capixabas pressionam
Em reunião na última terça-feira (20) com diretores do Banco Central (BC) e com o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia, os senadores capixabas Ricardo Ferraço (PSDB) e Rose Freitas (PMDB) defenderam modificações na resolução nº 4.519/2016, aprovada pelo CMN, que autoriza a renegociação da dívida contraída por produtores rurais capixabas com bancos públicos e privados.
Rose defendeu que os agricultores que refinanciarem sua dívida possam obter novos empréstimos para investimentos. O texto atual da resolução não autoriza novos créditos. No entanto, a senadora avalia que o congelamento do limite de crédito ao agricultor que refinanciar sua dívida poderá ampliar a inadimplência e deve ser revisto.
Ferraço reitera que a decisão do CMN não atende os produtores rurais capixabas. “Viemos pedir mais simplificação, menos burocracia, mais carência, mais prazos. Viemos solicitar, por exemplo, que o ministério considere todo o decreto de calamidade de todo o Espírito Santo e não de apenas alguns municípios, pois a seca está presente, causando sofrimento em todos os nossos municípios. Estou muito otimista com a receptividade. Teremos que fazer um novo voto no Conselho Monetário Nacional, além de conversar no Ministério da Fazenda. Estamos conversando no Banco Central. Enfim, estamos aqui dando o bom combate em favor da nossa agricultura”, disse o senador.
O secretário-executivo Eduardo Guardia afirmou que irá analisar as demandas.
Fonte: ES HOJE (Por Gustavo Gouvêa)