A safra 2025 dos cafés robustas amazônicos está envolta em um cenário de incertezas e desafios, conforme apontado por especialistas e técnicos que atuam na região cafeeira de Rondônia, principal polo de produção no solo amazônico.
Apesar da recuperação das lavouras com o retorno das chuvas e do vigor aparente das plantas, os impactos climáticos dos últimos anos ainda reverberam, trazendo perspectivas cautelosas para a próxima colheita.
Os efeitos do clima extremo
Os últimos ciclos foram marcados por secas severas e temperaturas elevadas em momentos críticos do desenvolvimento das lavouras, como a fase de pegamento das floradas. Segundo Enrique Alves, pesquisador da Embrapa em Rondônia, esses fatores contribuíram para perdas significativas em áreas produtoras, mesmo nas propriedades que contavam com irrigação.
“Em muitos casos, houve abortamento de flores e frutos, além de flores que sequer chegaram a abrir, o que comprometeu a produtividade potencial. Esse estresse térmico e hídrico resultou em uma safra 2024 reduzida, e a expectativa para 2025 é de que os números sejam similares ou até inferiores, caso os fatores climáticos adversos não sejam devidamente mitigados”, explica o pesquisador.
A recuperação das lavouras e as novas áreas produtivas
Apesar das dificuldades, há fatores positivos que podem amenizar a queda na produção. A entrada em produção de novas lavouras, fruto de investimentos recentes em renovação e expansão, pode ajudar a equilibrar o volume total da safra.
“Embora a produtividade média das plantas estabelecidas deva sofrer redução, essas áreas recém-plantadas podem contribuir para manter os patamares produtivos similares aos da safra passada”, destaca Alves.
A “plasticidade” do café robusta também é um ponto favorável. Ainda que a quantidade de frutos por planta tenha diminuído, os grãos que permanecem tendem a ser maiores e mais bem nutridos, o que pode compensar parcialmente a queda na produtividade total.
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Impactos do atraso no regime de chuvas
O atraso no início das chuvas em 2024 também afetou o desenvolvimento das plantas. Normalmente, as precipitações na região começam em setembro, mas no último ano só se intensificaram a partir de outubro. Esse deslocamento no regime hídrico gerou estresse nas plantas em um momento crucial, embora o volume atual de chuvas tenha recuperado a umidade dos solos e melhorado as condições das lavouras.
Ainda assim, o desequilíbrio climático gera desafios adicionais, como a dificuldade em realizar fertirrigações durante períodos de chuvas intensas, o que pode impactar a nutrição adequada das plantas.
Olhando para o futuro
O cenário atual evidencia a necessidade de estratégias mais robustas para lidar com a variabilidade climática, que tende a se intensificar nos próximos anos. Investimentos em tecnologias de manejo, como irrigação eficiente e variedades mais resilientes ao estresse térmico e hídrico, serão cruciais para sustentar a produtividade e a qualidade dos cafés robustas amazônicos.
“Precisamos entender melhor como lidar com esses períodos críticos de seca e calor intenso, pois eles estão cada vez mais frequentes e severos. A adaptação ao novo cenário climático será decisiva para garantir a sustentabilidade da produção na região”, conclui Enrique Alves.
Enquanto isso, produtores e pesquisadores permanecem atentos às condições climáticas e às respostas das lavouras, com a esperança de que a safra 2025, mesmo em um cenário desafiador, possa surpreender positivamente.