INVESTIDORES NA DEFESA FUGINDO DOS EMERGENTES

O Banco Central americano manteve a taxa de juros inalterada e prevê que o desemprego no país estará em torno de 6.5% até o final do ano de 2014, e a inflação menor do que 2%. Ben Bernanke, que deve ser substituído da presidência do FED até janeiro, disse que a compra de títulos continua por ora, mas pode ser reduzida em breve se a economia continuar melhorando.

Ativos de riscos cederam acentuadamente com as novas informações, e diversos analistas crêem que dos atuais 85 bilhões de dólares mensais que têm sido injetados na economia o volume caia para 65 bilhões de dólares.

Os ânimos ficaram ainda mais inflamados com a queda do índice de manufaturados chineses, as revisadas perspectivas de que o PIB do país cresça “apenas” 7% este ano, e uma seca de recursos no overnight (que exigiu intervenção do governo).

Os mercados emergentes que já viam sofrendo uma retirada de recursos por investidores estrangeiros sofreram ainda mais, sendo que o Brasil lidera as perdas entre as bolsas de ações em 2013 com a queda de 22.80% em Real e 29.45% em dólares americanos. A continuação da onda de protestos expõe a realidade brasileira de não ter feito reformas estruturais e afugenta os investidores que vêem melhores oportunidades em outros lugares. Na quinta-feira, pós-reunião do FOMC (COPOM americano), todas as commodities caíram, e o dólar reinou mais uma vez, não apenas pelo otimismo da recuperação vivida nos Estados Unidos, mas também por ser praticamente o único porto seguro para o dinheiro amedrontado.

As principais bolsas de ações no mundo cederam de 2% a 5.5%, e os índices de commodities caíram 2%. Apenas os futuros de trigo, suíno, e gado ficaram positivos nos últimos cinco dias, e os grandes perdedores foram a prata -8.27%, o ouro -6.6% e as commodities de energia.

Claro que o café não ficou fora da carnificina tendo o arábica feito novas mínimas de mais de quatro anos e o robusta ficando virtualmente inalterado depois de um novo mergulho. Alguns fundos de investimento aparentemente pararam de adicionar novas vendas no contrato “C”, mas outros se cansaram de segurar suas posições compradas e liquidaram uma parte delas. Origens preocupadas com a ininterrupta sangria também correram para fazer algumas fixações, e os diferenciais só não encareceram mais pela firmeza do dólar, que amortiza um pouco as perdas da ICE.

O movimento do físico deve melhorar em qualquer recuperação do terminal, fato que limita o potencial de alguma recuperação significativa. O Real Brasileiro negociando a 2.2768 (achávamos que 2.30 aconteceria mas não tão rápido) é outro motivo para não deixar altistas entusiasmados. No robusta notícias de wash-outs (cancelamentos de vendas acordados) na Indonésia e produtores resistentes em vender cafés no Vietnã animam alguns, embora tudo possa não passar de um adiamento ao sacrifício.

No Brasil o Conselho Monetário Nacional aprovou a liberação de financiamento para a cafeicultura sem nenhuma intervenção do governo para retirar café da praça – o que certamente não deve acontecer depois de tantas outras prioridades terem surgido com os protestos que tomam conta das ruas de praticamente todo o país.

Enfim o cenário não está para os altistas. Ainda assim mantenho a opinião de que o rompimento dos US$ 110 centavos por libra não deve acontecer neste momento – salvo é claro se o real desvalorizar acima de 2.30 – enquanto uma recuperação deve perder força antes de chegar a US$ 130 centavos por libra.

Vale o registro de que o primeiro lote de café brasileiro (320 sacas) foi aprovado para compor os certificados da ICE, o que não significa que alguém vai entregar este café que vale muito mais no spot. Quem o fez acessa dinheiro mais barato, e acima de tudo deve estar testando o critério dos árbitros da bolsa. Uma boa semana e muito bons negócios a todos.

* Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

Fonte: Archer Consulting