As commodities integram um ambiente especulativo e volátil, no qual bolsas de valores ditam preços e influenciam seu valor tanto no mercado físico quanto no futuro. O café é parte deste círculo, com sua cotação estabelecida pela Bolsa de Valores de Nova York. Portanto, é importante que o cafeicultor entenda alguns movimentos que interferem diretamente em suas negociações, como a relação do câmbio e do preço nas bolsas de valores.
Essa relação é histórica, mas o ajuste do câmbio e das cotações nas bolsas não acontece na mesma proporção. Além disso, outros fatores fundamentais influenciam muito no mercado, como o clima, volume de exportações e previsões de safra.
No período de 5 de junho a 11 de novembro de 2015, o dólar subiu 18,7% em relação ao real e os contratos futuros do arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) com vencimento em dezembro/15 caíram 15% – de 137,4 centavos de dólar por libra-peso para 116,8 cents/lb. Já os preços no mercado físico aumentaram 7,4% – de R$ 437,00 para R$ 469,3 – o que mostra que a alta do dólar diante do real ajuda os preços no Brasil.
Quando a moeda norte-americana se valoriza aqui, o preço do café em Nova York tende a cair porque no mercado externo ele é cotado em dólar, o que estimula os exportadores a vender mais, visando a maiores ganhos em real. Mas a correção é quase que automática, já que quem compra quer pagar o mesmo valor. E, na maioria das vezes, os produtores precisam fazer caixa e custear a safra seguinte.
Na verdade, essa correção não deveria ocorrer, e a valorização da moeda deveria ser repassada para o produtor, pois muitos insumos aplicados nas lavouras têm os preços fixados em dólar, pesando sobre os custos de produção, que também são alterados pelos aumentos dos salários, dos valores de manutenção dos maquinários agrícolas, da energia elétrica e dos combustíveis.
Expectativas
A formação do câmbio e a cotação do café continuarão sob a influência das incertezas políticas e econômicas do Brasil; das especulações a respeito da elevação dos juros nos Estados Unidos; da instabilidade climática provocada pelo El Niño; da forte inflação dos custos de produção do café no Brasil; do aumento do consumo mundial; e das expectativas quanto ao desenvolvimento da safra 2016/17.
Nesse cenário, é fundamental que o produtor esteja preparado para períodos de forte volatilidade. Para minimizar os impactos, duas alternativas vêm sendo utilizadas: gestão da qualidade e de custos de produção.
Qualidade
Um fator que contribui de maneira direta para o aumento da lucratividade do cafeicultor é a produção de um café com qualidade superior. Produzir um café de qualidade começa pela escolha da espécie e variedade, passa pelas condições de solo, altitude, relevo e clima, e incluem os cuidados durante o cultivo, colheita, secagem, classificação, armazenamento e transporte. Os produtores que conseguem produzir um grão diferenciado certamente têm vantagem comercial sobre aqueles atuantes no mercado de cafés comum.
Os cafés de alta qualidade têm acesso a canais distintos de comercialização, com significativos prêmios sobre as cotações básicas do Contrato C, negociado na Bolsa de Nova York, e não enfrentam a instabilidade que predomina no mercado das commodities.
De acordo com dados do CeCafé, os cafés arábica especiais tiveram ágio médio de 35,5% entre janeiro e outubro de 2015 em relação ao natural – comercializado em média a US$ 236,82 por saca. No mesmo período, o café commodity foi exportado ao preço médio de US$ 175,27/saca.
O setor pode produzir um café cada vez mais adequado ao desejo do consumidor final. A tendência de longo prazo é positiva, uma vez que o consumo mundial cresce de maneira consistente, principalmente nos países emergentes.
No mercado de café especial não é a demanda global que determina o preço, mas a qualidade do produto que é oferecido. E o consumidor tem pagado por qualidade, origem e sustentabilidade.
Gestão de custos
O setor necessita de boa gestão, pois os custos da cafeicultura, em parte atrelados ao dólar, subiram muito e o café pouco aproveitou a alta da moeda americana. Conhecer o custo de sua lavoura, administrar os recursos produtivos a fim de melhorar a eficiência e competitividade e utilizar estratégias comerciais para garantir o lucro necessário para manter a atividade. Estes são pontos cruciais para minimizar os impactos macroambientais da cafeicultura.
A FAEMG, por meio de parcerias nas mais diversas localidades do estado, coordena e desenvolve o Programa Café + Forte, que tem o objetivo de ajudar o produtor mineiro a administrar o custo da produção e identificar o momento mais vantajoso para negociar o café. Há seis anos o Programa vem evoluindo positivamente para o fortalecimento da cafeicultura mineira, levando mais conhecimento e informações para tornar o cafeicultor cada dia mais competitivo e eficiente em sua atividade.
Relação Arábica X Conilon – Safra 2015
No decorrer da safra 2015, a diferença de preço entre café arábica e conilon tem diminuído, variando entre R$ 211,45/saca, em 12 de janeiro, e R$ 83,10/saca, em 13 de novembro de 2015.
A aproximação de preço entre os dois tipos de café ocorre pela forte valorização do conilon, que teve sua disponibilidade interna reduzida, influenciada pela quebra da safra brasileira em 2014/15, pela falta de chuvas no Espírito Santo e pelo aumento das exportações brasileiras em razão da redução da oferta vietnamita.
* Ana Carolina Alves Gomes – analista de agronegócios do Sistema FAEMG
Fonte: Canal do Produtor