Preços agropecuários avançam no atacado

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Os preços agropecuários no atacado voltaram a se acelerar nos primeiros dez dias de janeiro, depois da trégua registrada em dezembro. No Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) deste mês, as cotações desses produtos subiram 0,6%, acima do 0,18% registrado no IGP-DI de dezembro. O movimento reflete principalmente a renovada pressão sobre as commodities agrícolas, como fica claro na alta das cotações no atacado do café em grão, do milho, do trigo e do açúcar e do algodão. O impacto das chuvas neste começo do ano, que afeta os alimentos in natura, foi bem mais modesto, porque esses produtos têm um peso bem menor no índice de preços no atacado (IPA).

Divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o IGP-10 mede a inflação entre o dia 11 do mês anterior o e dia 10 do mês de referência, enquanto o IGP-DI (Disponibilidade Interna) retrata a evolução dos preços no mês fechado. Isso mostra que a nova aceleração dos preços agropecuários no atacado se deu nos dez primeiros dias do mês.

O economista André Braz, da FGV, diz que o comportamento das commodities é a principal explicação para o repique das cotações agropecuárias no começo de janeiro. No IGP-10 de janeiro, o café em grão, por exemplo, subiu 8,63%, uma alta ainda mais forte que os já salgados 7,42% do IGP-DI de dezembro. O milho, cujas cotações dispararam no mercado internacional, subiu 1,34%, mais que o 0,9% de dezembro. O algodão em caroço, por sua vez, viu as suas cotações aumentarem 5,22% no IGP-10 de janeiro, acima dos 3,99% do IGP-DI de dezembro. Já o açúcar subiu 1,94% e o trigo, 0,64%.

"Esse movimento dos produtos agropecuários no atacado está relacionado mais às commodities", concorda o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, para quem os próximos IGPs a serem divulgados mostrarão altas mais fortes das cotações desses bens. Ele acredita que, no IGP-DI de janeiro, os produtos agropecuários no atacado vão subir 2,17%. Romão ressalta, porém, que não trabalha com uma esticada nos preços semelhante à registrada entre setembro e novembro do ano passado.

Em novembro, as cotações agropecuárias no atacado avançaram 5,56%, depois de terem subido 4,13% e 5,15% nos dois meses anteriores. "Não acho que haverá aumentos dessa magnitude", afirma ele. No IGP-10 de dezembro, a alta desses produtos foi de 3,39%.

Braz vê pouca influência das chuvas recentes para explicar o repique agrícola no atacado registrado pelo IGP-10. Ele observa que todos os alimentos in natura têm peso de apenas 2,82% do IPA, uma participação muito menor que os 11,11% da soma do café em grão, algodão em caroço, trigo, açúcar, milho e soja em grão.

O comportamento dos preços do tomate no IGP-10 reflete em alguma medida o impacto das chuvas, afirmam Braz e Romão. O produto teve alta de 42% em janeiro, uma forte aceleração em relação ao aumento de 18% captado pelo IGP-DI de dezembro. O ponto é que o peso do tomate no IPA é muito pequeno, de apenas 0,1%.

No entanto, ainda que o efeito dos in natura seja pouco relevante no IPA da FGV, as chuvas pressionam as cotações de um grupo importante de alimentos, movimento que deve atingir em breve o varejo. Para o economista Pedro Paulo Silveira, diretor de administração de recursos de terceiros da Gradual Investimentos, a combinação de explosão dos preços de grãos no mercado internacional e do impacto do ciclo as chuvas sobre hortaliças e leguminosas exerce uma pressão sobre as cotações de alimentos, os grandes vilões da inflação em 2010.

"Não haverá refresco nos produtos agropecuários", acredita ele, observando, porém, que os preços de alimentos in natura flutuam muito. Uma alta forte num mês pode ser devolvida totalmente no mês seguinte. A maior pressão, segundo ele, vem mesmo das commodities, já que há uma forte demanda nos países emergentes, num cenário em que há problemas de oferta em alguns produtos.

O IGP-10 de janeiro teve variação de 0,49%, abaixo do 1,27% do IGP-10 de dezembro de 2010, mas acima do 0,38% do IGP-DI do mês passado. Os produtos no atacado – que incluem também os bens industriais e têm peso de 60% no IGP- subiram 0,35%.

Já o Índice de Preços ao Consumidor, que responde por 30% do IGP, avançou 0,9%, uma alta forte, mas inferior ao 1,05% de dezembro. Alimentos e bebidas tiveram variação de 1,52%, abaixo dos 2,52% do mês passado, mas ainda uma taxa incômoda, na definição da LCA. Os grupos educação e transportes subiram com força – 1,68% e 1,07%, pela ordem -, influenciados pela alta das mensalidades escolares e pelo aumento de tarifas de ônibus. Para completar, o custo da construção, que responde pelos 10% restantes do IGP, avançou 0,49%.

Fonte: Valor Econômico

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