Cooperação internacional está presente nas pesquisas em café

Imprimir

A Embrapa Café, coordenadora do Programa de Pesquisa Café, comemorou o Dia Internacional do Café fazendo um apanhado dos principais projetos em andamento que têm parcerias estratégicas com países em todo o mundo.

“O Programa Pesquisa Café, executado pelo Consórcio Pesquisa Café que reúne instituições de pesquisa, desenvolvimento, ensino e extensão brasileiras, nasceu genuinamente brasileiro. Intacta em sua natureza nacional, o programa hoje possui vários trabalhos em colaboração com instituições na África, Europa e América Latina. Além disso, os pesquisadores de café brasileiros têm visitado e recebido delegações de vários países, como Timor Leste, Zimbábue, Equador, El Salvador e Angola, para troca de conhecimentos mútuo e agregação de valor à cafeicultura”, informa a gerente geral da Embrapa Café, Mirian Eira.

Esse é o caso do projeto da Embrapa Café de cooperação internacional com a Venezuela. Já foram realizadas ações de prospecção e diagnóstico da cafeicultura local prevista no projeto “Produção de Mudas e Beneficiamento Ecológico de Café”. O projeto é parte do Acordo Básico de Cooperação Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Bolivariana da Venezuela, assinado em 2007, que contempla ainda outras culturas. A coordenação é da Secretaria de Relações Internacionais da Embrapa – SRI e o financiamento da Agência Brasileira de Cooperação – ABC. O objetivo é contribuir para a organização de comunidades cafeicultoras por meio do uso de tecnologias agroecológicas para a produção de mudas de variedades melhoradas e do beneficiamento ecológico em pequena escala.

Entre as primeiras ações previstas, estão a transferência de material genético e a capacitação de multiplicadores em propagação e técnicas de boas práticas agroecológicas para manejo da lavoura e pós-colheita, tratos culturais e controle de pragas e doenças. A Embrapa Café também vai auxiliar no planejamento experimental para verificar quais variedades são mais adequadas para gerar alternativas tecnológicas que melhorem o quadro da cafeicultura local. Outra ação prevista é a sensibilização de produtores e técnicos para percepção da qualidade em café, um bem precioso hoje em dia para a sustentabilidade do negócio café em qualquer lugar do mundo.

Para a Embrapa, o projeto traz como benefícios o fortalecimento das relações internacionais Brasil-Venezuela e a troca de material genético, variedades de café adaptadas ao sistema produtivo sombreado orgânico/agroecológico. Segundo Paulo César Afonso Junior, gerente adjunto técnico da Embrapa Café, essa troca poderá contribuir para o desenvolvimento de novas cultivares tolerantes a temperaturas mais elevadas e à deficiência hídrica.

Ainda são exemplos de pesquisas realizadas em parcerias internacionais no âmbito do Programa Pesquisa Café o projeto em conjunto com Portugal e França, países com trabalhos reconhecidos na área do café.

O pesquisador da Embrapa Café, Carlos Henrique de Carvalho, participou de um projeto de pesquisa em conjunto com o Centro Internacional da Ferrugem do Cafeeiro (CIFC). Foram estudadas as variedades de ferrugem que vinham atacando plantações de café no sul de Minas. Segundo o pesquisador, “o trabalho trouxe muitas contribuições para a pesquisa brasileira, uma vez que a instituição portuguesa é especialista na pesquisa da doença”.

Em Portugal, a pesquisa da ferrugem enfrenta menos dificuldades, pois a região não é produtora, portanto, o estudo da doença não representa riscos para o País, como representaria para o Brasil, com vastas plantações em diferentes estados. “Nós coletávamos o material contaminado e mandávamos para que eles fizessem a análise, identificando as espécies de ferrugem, se eram as já existentes ou novas espécies. As descobertas ajudaram bastante na geração de mais conhecimento sobre a doença. Essa parceria da Embrapa Café pode ser um trabalho contínuo, aproveitando a especialidade dos portugueses na área e a necessidade de cuidado constante com as plantações brasileiras”, detalha Carlos Henrique.

A parceria com o CIFC vem trazendo excelentes resultados também para os trabalhos de melhoramento genético e biotecnologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), de acordo com os pesquisadores da Embrapa Café Antonio Carlos Baião de Oliveira e Eveline Teixeira. Os estudos da interação entre o patógeno causador da ferrugem do cafeeiro (Hemileia vastratrix) e a planta de café levaram ao desenvolvimento de cultivares resistentes a essa doença.

A Embrapa Café mantém parceria estabelecida há três anos com a Fundação Procafé e com o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), da França, trata do desenvolvimento de um protocolo para produção em larga escala de mudas clonais do Coffea arabica. O pesquisador Carlos Henrique Carvalho ressalta os bons resultados alcançados. “O protocolo desenvolvido já vem sendo testado com sucesso”.

Em parceria com o Cirad da França, o pesquisador Luiz Filipe Protásio Pereira inicia, este ano, outro projeto de pesquisa.  O pesquisador conta que esta não é a primeira vez que uma parceria entre a Embrapa Café, o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), instituição participante do Consórcio Pesquisa Café, e o Cirad ocorre. “Vários projetos e publicações nos últimos dez anos foram frutos dessa parceria”, diz. Só Luiz Filipe já contabiliza cerca de sete publicações científicas de relevância na área resultado dessa parceria com o centro de pesquisa francês. “São trabalhos técnicos e científicos que geram conhecimento e tecnologias para o agronegócio café brasileiro”, enfatiza.

O novo projeto, iniciado este ano, prevê viagens de cooperação técnica e envio de bolsistas entre Brasil e França com o objetivo de promover esforços para analisar a diversidade e a estrutura de recursos genéticos de Coffea arabica oriundos da Etiópia, para fornecer subsídios aos programas de melhoramento do cafeeiro.

Já o projeto dos pesquisadores da Embrapa Café Aymbiré Fonseca e Maria Amélia Ferrão, realizado em parceria com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e com a Nestlé, desde 2004, se concentra na análise da qualidade de variedades clonais do café conilon no Espírito Santo. Em sua segunda fase, está buscando aumentar a qualidade das variedades utilizadas pela indústria de café solúvel.

A partir de cinco variedades clonais, foram definidos os materiais de melhor qualidade para a produção de café solúvel. Dessa forma, a produção de conilon no estado teria quantidade agregada à qualidade do produto. “A pesquisa começou a partir de dúvidas sobre a qualidade do café conilon. Hoje sabemos que todas as variedades têm qualidade, mas observamos que umas variedades continham alguns materiais mais interessantes para a produção do que outros”, explica o pesquisador Aymbiré Fonseca. Um dos resultados dessa pesquisa, segundo ele, é demonstrado pelo aumento de mais de 200% da produtividade do conilon no estado desde 1993.

A maior integração com países produtores e consumidores de café no âmbito da Organização Internacional do Café – OIC, também tem aberto novas oportunidades de pesquisa integrada. “A perspectiva do mundo atual é de ajuda mútua entre as regiões e países do globo, o que só tende a aumentar nos próximos anos. Percebemos que a parceria é a melhor forma de convívio para garantir a sustentabilidade do planeta e das relações entre as pessoas, além da construção coletiva do conhecimento e a qualidade de vida para a maior parte da população”, conclui Mirian Eira.

 

Por Flávia Bessa
Fonte: CNC

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *