Sensoriamento remoto é alternativa para ajudar produtores na gestão das lavouras de café

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Técnica também serviu para pesquisador do IF Sul de Minas mapear áreas atingidas pela geada.

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Foto: Allan Arantes Pereira

Produtores de café estão sempre em busca de tecnologias que possam melhorar a produtividade e ajudar na gestão das lavouras como um todo. Nesse sentido, o sensoriamento remoto, que utiliza de imagens de satélite para analisar áreas de vegetação de acordo com objetivos específicos, pode ser uma alternativa.

No Sul de Minas, campus Muzambinho do IF Sul de Minas tem realizado pesquisas utilizando essa técnica através do trabalho do professor Allan Arantes Pereira, graduado em Engenharia Florestal, doutor em Ciências Florestais e que atua nas linhas de pesquisas de sistemas de informações geográficas e sensoriamento remoto aplicados ao monitoramento da vegetação nativa. Segundo o professor, o sensoriamento remoto se utiliza de imagens de satélite para extrair informações conforme o objetivo que se quer avaliar. No caso das lavouras de café, por exemplo, é possível analisar o vigor das lavouras se utilizando dessa técnica.

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Pesquisador mapeou áreas atingidas pela geada no Sul de Minas, Triângulo Mineiro e Centro-Oeste — Foto: Allan Arantes Pereira

“Temos trabalhado agora com os mapas de tendências, que mostram se a área de café está em declínio ou melhorando. Se as imagens mostram que o café está em declínio, então eu posso propor para o produtor que ele faça uma poda para que esse café dê uma revigorada e possa melhorar a sua produtividade. Pela imagem da lavoura você consegue ver quais os talhões têm mais vigor de vegetação e qual tem menor vigor de vegetação e com isso, o produtor pode trabalhar essa área para que ela possa chegar à mesma média dos outros talhões. Essas ações irão nortear os trabalhos de campo, eu costumo dizer que é como se gente tivesse tirado um raio-x de cima e através dele você faz a investigação, vê as áreas que estão melhores do que outras. Aí você vai para campo já com um norte, você tem um direcionamento e isso facilita o trabalho de campo”, explicou.

O professor explica ainda que através de imagens de satélite é possível enxergar com o infravermelho, que mostra o que não é visível ao olho humano. Através dele é possível perceber mais detalhes da vegetação.

“É como se eu colocasse aqueles óculos de visão noturna e enxergasse a vegetação com ‘superpoderes’”, contou.
De acordo com Allan, o sensoriamento remoto é a primeira parte do trabalho. Após extrair as imagens, o projeto entra na fase da construção dos mapas, gerados através do geoprocessamento.

“Com o sensoriamento eu vou analisar as imagens para extrair a informação e o geoprocessamento vai trabalhar essa informação. Por exemplo, se eu quero saber quanto geou por município, quanto tem de café no município, isso tudo é feito através de um sistema de informações geográficas, são duas coisas distintas. Um é o sensoriamento remoto, que é a parte de análise de imagens de satélite, o outro é o sistema de informação geográfica, que é trabalhar essa informação extraída, uma complementa a outra”, comentou.

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Imagens de satélite mostram lavouras de Alfenas, bastante atingidas pelas geadas — Foto: Allan Arantes Pereira

Mapeamento das geadas

As geadas que ocorreram em julho de 2021 afetaram muitas lavouras de café do Sul de Minas. Segundo levantamento feito pela Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), a área total afetada pelas geadas foi de aproximadamente 173,6 mil hectares, ou seja, 19,1% da área ocupada por cafeicultura na região onde foi feita a pesquisa.

Para entender como o fenômeno atmosférico atingiu as lavouras e auxiliar nas tomadas de decisões diante dos prejuízos causados pelas geadas, Allan, em parceria com os professores Walbert Júnior Reis dos Santos e Lucas Eduardo de Oliveira Aparecido, mapearam as áreas atingidas utilizando as técnicas de sensoriamento remoto. Dentro do mapeamento liderado pelo professor Allan, 75.250 hectares de área de café foram atingidos no Sul de Minas.

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Através do sensoriamento remoto é possível ver detalhes das lavouras não visíveis a olho nu — Foto: Allan Arantes Pereira

“Nós mapeamos toda a região do sul de Minas, Triângulo Mineiro e Centro-Oeste. Da nossa região aqui, Campos Gerais foi a mais atingida, com 28% dos cafezais atingidos, Alfenas também foi uma das mais atingidas, com 27%, Três Pontas aparece com 24%. Boa Esperança, Piumhi, Machado, Nepomuceno e Carmo do Rio Claro, são cidades da região que também estão entre os 10 municípios mais atingidos. Da área geral mapeada, a gente estima que 15% dos cafezais foram atingidos”, destacou.

Como quantificar os danos em campo não é uma tarefa fácil e rápida e por se tratar de grande extensão atingida, o professor acredita que a ferramenta pode auxiliar este tipo de monitoramento.

“A gente consegue mostrar para o computador os padrões e o computador consegue reconhecer isso através de inteligência artificial e fazer esse mapeamento de forma automática. Imagine você ter fazer cada área dessa de geada, ir lá e circular uma por uma, ia gastar a vida. Então, a gente faz isso de forma automática, ‘ensinado’ o computador, mostrando qual é o padrão de geada, vai pegando amostras e mostrando e com isso ele faz o mapeamento da área toda”, disse.

“O sensoriamento remoto não é o mais comum entre as técnicas utilizadas voltadas para o café, mas com ele nós temos uma visão mais ampla da lavoura e isso pode auxiliar o produtor na gestão do negócio. Por isso, nos colocamos à disposição caso alguém queira fazer uma parceria em algum projeto”, finalizou Allan.

Por Tatiana Espósito. Fonte: G1 Sul de Minas