Saiba quais as diferenças entre os cafés conilon e arábica e como são consumidos

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As duas principais espécies de café cultivadas no Brasil do gênero “Coffea” são o “canephora” e “arábica”. No Sul de Minas, o mais conhecido e cultivado é o arábica. Mas as duas espécies estão presentes na vida dos consumidores de café através dos produtos oferecidos pela indústria na forma de pó, granulados e em grãos.

A professora adjunta da Universidade Federal de Lavras (Ufla) Dalyse Toledo Castanheira que desenvolve estudos na área da cafeicultura desde 2009, falou sobre as principais diferenças entre as plantas. O primeiro aspecto que ela tratou foi sobre a bebida.

Café conilon em propriedade de Itarana, no Espírito Santo. — Foto: Vinícius Gonçalves / TV Gazeta

Segundo ela, o arábica é o mais consumido e mais complexo. “O arábica é mais valorizado pelo mercado e traz uma complexidade um pouco maior se comparada ao canéfora. São bebidas com tendências a ter o lado sensorial voltado para nuances de achocolatados, frutados, herbários e florais. Possui mais açúcares presentes e uma acidez mais interessante”, contou.

Já o canéfora é mais utilizado pela indústria para o café solúvel e misturas com o arábica nos chamados “blends”.

“O café canephora pode ser apreciado por suas peculiaridades como menos açúcares, menor acidez e maior teor de cafeína e de sólidos solúveis. Ele oferece uma bebida mais encorpada.”, explicou Dalyse.

O canephora é mais utilizado em blends e como café solúvel. — Foto: Jonatam Marinho

Ela conta que para identificar as bebidas nos supermercados é possível buscar por selos e informações complementares nos rótulos que dizem se aquele produto é 100% arábica e quais as cultivares presentes.

“As espécies canephora e arábica podem aparecer em todas as formas de consumo de café [desde cápsulas até almofadas]. Mas, de todas elas, o canéfora aparece mais nos “blends” e nas bebidas solúveis”, afirmou.
Diferenças

A professora explicou que existem mais de 104 espécies de café. E dessas, apenas Coffea canephora e Coffea arábica são as mais importantes.

“As outras espécies como Coffea liberica e Coffea racemosa são exploradas para melhoramento genético. Servem para buscar características de qualidade, tolerância às variações ambientais e resistência a pragas e doenças”, disse.

Entre os grupos de arábica e canephora existem algumas diferenças morfológicas. Dalyse contou que o arábica tem tendência a ter um único caule de crescimento vertical enquanto o canephora possui muitos caules. E, por essa razão, as podas são esquematizadas para cada espécie.

O café arábica tem crescimento vertical de um único caule. — Foto: Jonatam Marinho

Outra diferença marcante é que o canephora precisa de fecundação cruzada e, por isso, dentro do mesmo talhão, é preciso ter plantas com material genético diferente. Já o arábica precisa apenas de uma única cultivar para produzir.

E, quanto aos frutos e as folhas, também existem diferenças. No arábica, as folhas são menores e mais lisas. Enquanto que no canephora, os frutos são menores, porém a produção é quase o dobro se comparada ao arábica.

Ainda existe a diferença em relação ao número de espécies. O canephora possui apenas duas cultivares: O robusta e o conilon.

“Dentro de cada espécie temos diferenças entre as cultivares. E, em algumas delas, temos um pouquinho mais de características de canephora devido a misturas para melhoramento genético. Dentre os cultivares de arábica, podemos citar o Catuaí, Acaiá, Mundo Novo e Catucaí”, detalhou.

O arábica é mais doce e possui menos cafeína que o cenephora. — Foto: Jonatam Marinho

Produção

O Coffea arábica veio das regiões mais altas da Etiópia com temperaturas mais amenas entre 18 e 22 graus. Já o canephora, teve origem em regiões do Congo com temperaturas mais elevadas entre 23 a 26 graus. É o que explicou a professora Dalyse. Ela contou ainda que em função do clima, o cultivo das duas espécies difere entre regiões.

O arábica é cultivado em vários estados, sendo Minas Gerais o maior produtor. O canephora também é cultivado nas regiões mais quentes do país. O destaque é para o Espírito Santo com a variedade conilon e Rondônia com o robusta.

A professora Dalyse que estuda cafés na Ufla. — Foto: Arquivo Pessoal

Safra

Segundo o primeiro boletim da safra de café divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), as estimativas iniciais para a safra brasileira de café em 2022 para o arábica são de 38,7 mil sacas de café beneficiado. Esse número representa um acréscimo de 23,4% em comparação à safra anterior.

Para o canephora, a expectativa de produção é de cerca de 16,9 mil sacas de café beneficiado, o que significa um aumento de 4,1% em relação à safra passada.

Segundo o segundo boletim da safra de café divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) nesta quinta-feira (19), as estimativas para a safra brasileira de café em 2022 para o arábica são de quase 35,8 mil sacas de café beneficiado. Esse número representa um acréscimo de 13,6% em comparação à safra anterior.

Para o canephora, a expectativa de produção é de cerca de 17,8 mil sacas de café beneficiado, o que significa um aumento de 8,7% em relação à safra passada.

Os números apresentados pela Conab em maio, quando a colheita já começou no país, são um pouco menores que a previsão inicial divulgada em janeiro. Os problemas climáticos de 2021 são os fatores apontados pela Conab para a diminuição da produção de arábica mesmo em ano de bienalidade positiva.

Fonte: g1 Sul de Minas – Coluna Grão Sagrado (Por Jonatam Marinho)