Preço da saca de café deve ficar estável em R$ 1,2 mil com início da safra, dizem especialistas do setor

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Depois de ter alcançado valores próximos a R$ 1,5 mil no início de 2022, a saca de café arábica teve uma queda de valor em março e deverá ficar em torno de R$ 1,2 mil ao final de abril. Segundo especialistas, é provável que o preço fique estabilizado a partir de maio, com o início da safra 2022 e chegada das novas sacas de café no mercado.

Conforme demonstrativo da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), a maior do mundo no setor, é possível acompanhar a trajetória do preço da saca do café arábica desde 1981. Olhando para a trajetória do preço da saca em 2021, é possível ver que, em janeiro, o valor era de quase R$ 640. Em julho, o preço chegou a cerca de R$ 763 e fechou o ano em exatos R$ 1.446,66. Portanto, ao longo de 2021, o café teve um ganho de preço de R$ 807,43. Uma alta de 126,31% se comparado ao preço de janeiro.

café, cafezal em minas gerais — Foto: André Cruz / Imprensa MG

Já em 2022, o valor da saca de café bateu seus recordes. Também de acordo com esta tabela, a saca fechou janeiro sendo comercializada a R$ 1.480. E em fevereiro o valor pago na saca foi de quase R$ 1.489,00. Ainda em fevereiro, a Cooperativa Agrária de Machado (Coopama) chegou a comercializar a saca de arábica em R$ 1.550.

Para o especialista em cafés da Coopama, Kevin Mai, a alta do café em 2022 foi provocada por vários fatores como aumento dos custos de produção por adubos e defensivos. Ele fala ainda da tendência do mercado em estabilizar os preços assim que as sacas colhidas em 2022 começarem a chegar.

“Hoje o mercado mudou um pouquinho porque o dólar está tendo muita variância. O café bom está valendo uns R$ 1.240 hoje. Como está entrando na safra nova, é muito difícil que o preço suba. O preço deve se manter no valor que está. A tendência é o preço começar a cair assim que houver oferta dos novos produtos que estão chegando no mercado”, apostou.

Mesmo com as tendências, Mai reforçou que é difícil fazer previsões. “O mercado tem mudado muito rápido. É difícil prever com exatidão. O dólar tem caído e subido muito rápido”, ressaltou.

Para o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Celírio Inácio da Silva, todo início de safra provoca uma queda de preço.

Para o especialista em cafés da Coopama, Kevin Mai, a alta do café em 2022 foi provocada por vários fatores como aumento dos custos de produção por adubos e defensivos. — Foto: Arquivo Pessoal

“Estamos entendendo que esse preço não tem expectativa de queda e nem de subida. Entendemos que, até no início de junho, os preços devem se manter. O café tem se mostrado muito resiliente a todas as dificuldades apresentadas”, disse.

Ele também comentou que, em novembro e dezembro de 2021, “todos entendiam que a safra seria muito mais complicada do que está se desenhando agora. Já surgiram expectativas de uma safra melhor. E estamos com um mundo ainda em expectativa. E temos uma safra que vai iniciar agora”, falou.

O CCCMG

O presidente do Centro de Comércio de Café de Minas Gerais (CCCMG), Archimedes Coli Neto, falou sobre os preços do arábica nos primeiros meses de 2022 e a expectativa futura. Segundo ele, o mercado teve uma queda devido a vários fatores, principalmente, por causa da guerra.

“Houve um deslocamento geral em operações de bolsa e fundos e o mercado ficou um pouco perdido nas consequências da guerra. Automaticamente, o mercado sentiu um pouco e, nos últimos dias, vem se recuperando dentro de uma expectativa de normalidade e de uma safra de arábica um pouco menor”, explicou.

Archimedes também acredita que os preços vão achar um patamar de consolidação.

Archimedes Coli Neto, presidente do Centro de Comércio do Café — Foto: Divulgação / CCCMG

“Vai depender muito do frio, se vai ter um inverno rigoroso ou não. É muito difícil falar o que vai acontecer amanhã com o mercado de café mas ele tem se mostrado dentro de uma normalidade, de um patamar de estabilidade nos preços. Isso é bom porque não provoca mudanças muito rápidas que possam atrapalhar o consumo. O mercado trabalhando de uma maneira mais previsível é bom para todos nós”, disse.

A visão dos industriais

Durante entrevista coletiva no início de abril, o presidente da Abic, Ricardo Silveira, falou sobre as expectativas do mercado em 2022.

“Se considerarmos tudo que passamos no ano passado, o café navegou e saiu-se muito bem. Tivemos uma geada que dizimou cafezais em 2021 mas, mesmo assim, conseguimos superar as expectativas. O mercado dizia que faltaria café. E hoje nós temos café. Talvez não daquela qualidade que muitos desejam mas temos ainda muitos cafés da safra passada. Ou seja, a expectativa do mercado foi desfeita e isso resulta em preço”, disse.

Ele também comentou que o café “não alavancou como muitos imaginavam”.

“A saca de café chegou a ser citada até R$ 1.500, R$ 1.600 e até mais. Mas a saca hoje já caiu razoavelmente. As chuvas ajudaram e muito. Tivemos chuva na hora certa, no momento exato – o que beneficiou muito as lavouras. E isso vai nos disponibilizar uma safra bem razoável”, emendou.

Silveira também disse que o preço dos fertilizantes não influenciará a produção porque os produtores só vão comprar adubo em setembro. “Acredito que até lá as coisas voltarão ao normal com relação a preço de fertilizantes”, afirmou.

Presidente da Abic, Ricardo Silveira, fala sobre o mercado do café — Foto: Divulgação / Abic

Ainda segundo ele, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) falou algo sobre a produção de cafés em 2022 no Brasil. A expectativa é de 58 a 60 milhões de sacas para esse ano.

“Tem bancos trabalhando com previsão de mais de 60 milhões de sacas. Então, eu acredito que o cenário para o industrial no momento é um pouco melhor. Há seis meses, o cenário estava muito ruim e o mercado dizendo que faltaria café. Eu acredito que teremos menos dificuldades até o final do ano”, apostou.

Safra

Um Levantamento Sistemático da Produção Agrícola de março, divulgado na primeira semana de abril de 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), prevê uma produção estimada para o café arábica de 2,3 milhões de toneladas, ou 38,7 milhões de sacas de 60 kg. Isso representa um aumento de 0,6% em relação ao mês anterior, e crescimento de 20,9% em relação ao ano passado.

Ainda segundo informações do levantamento, 2022 é ano de bienalidade positiva. Porém, o clima seco e frio do inverno de 2021, aliado à ocorrência de geadas em algumas regiões produtoras, diminuirá o potencial da produção.

Em janeiro de 2022, a Conab divulgou seu primeiro levantamento sobre a safra de café em 2022. A companhia estimou a produção de arábica em quase 39 mil sacas de café beneficiado.

A região Sul de Minas e o Centro-Oeste apresentavam juntas uma área cultivada de cerca de 491 hectares e com produção de 13.968,5 mil sacas beneficiadas no levantamento.

Fonte: g1 Sul de Minas (Por Jonatam Marinho)