Polinização assistida inteligente: conheça a técnica que pode aumentar a produtividade nas lavouras de café

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Projeto desenvolvido por uma startup também busca promover uma agricultura sustentável e pode, segundo os responsáveis pela técnica, auxiliar cafeicultores que foram atingidos pelas geadas.

Por Tatiana Espósito / 12/09/2021 11h19

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Uma técnica inovadora dentro do agronegócio pode beneficiar as lavouras de café no sul de Minas. A polinização assistida inteligente, desenvolvida por uma startup que promove a integração no campo entre produtores rurais e criadores de abelha, se mostra como uma forma de trazer ganhos em produtividade, qualidade e promover agricultura sustentável.

Criada em 2016, a startup surgiu com o intuito de introduzir colônias de abelhas, de espécies adequadas e eficientes para cada tipo de cultura, em locais adequados e também em quantidade ideal.

“Fazemos todo um estudo da área, do local de instalação das colmeias e essa instalação é toda planejada e assistida. A gente insere dentro da lavoura, em área delimitada, as espécies de abelhas cientificamente comprovadas que são eficientes para o café. Avaliamos o entorno, o tamanho da área, se tem ou não reserva legal próxima, sem tem presença de abelhas nativas, para só depois inserirmos essas abelhas dentro da lavoura,” explica Joyce Almeida Dias, bióloga e coordenadora do departamento técnico científico da startup.

Segundo a empresa responsável pela técnica, a média de aumento na produtividade das lavouras de café é de 20%. Joyce explica ainda que a polinização cruzada traz também melhora na qualidade dos grãos.

“A gente sabe que o café arábica é uma planta autógama, que não precisa de polinização cruzada, mas geneticamente e evolutivamente a gente sabe que a planta reserva até 15% deste material genético, dessa flor, para essa troca, para evitar mutações e manter a espécie. É aí que a abelha entra, ela faz esse cruzamento genético e aumenta essa produtividade. Além disso, temos estudos científicos comprovando que a polinização cruzada diminui o abortamento dos frutos e lá no final, no café beneficiado, a gente consegue ver diminuição de grãos chochos, diminuição de grão moca, aumento de peneira, então temos aí um aumento de produtividade relacionado sim à polinização,” destacou.

Para os cafeicultores que tiveram suas lavouras atingidas pelas geadas do mês de julho, a coordenadora aponta que a técnica também pode ser benéfica.

“A polinização ajuda o produtor que perdeu uma parte de sua lavoura, porque na parte que ele não perdeu, na parte dos talhões que ele vai ter produção para o ano que vem, a gente consegue aumento de até 20%, sem necessariamente aumentar a área de plantio, então naquela área que não foi atingida a gente consegue inserir as abelhas e ter esse aumento, porque ele vai ter um ganho na produtividade para ajudar nessa perda da geada,” acrescentou.

Sul de Minas
A cafeicultora Carmem Lúcia Chaves de Brito, tem duas fazendas em Três Pontas (MG). Somadas, as duas propriedades têm 380 hectares, sendo 220 hectares só de lavouras de café. A família está na cafeicultura há mais de 100 anos e Carmem atua como gestora das propriedades há 14 anos. Há pouco mais de um ano, a produtora conheceu a polinização assistida inteligente e interessada no projeto, logo quis levá-lo para sua lavoura.

Prestes a começar o segundo ano de trabalho com a equipe da polinização assistida, Carmem conta que mais do que aumento da produtividade, a questão socioambiental do projeto foi o que mais chamou sua atenção. Segundo ela, a possibilidade de unir a cadeia do café aos apicultores, gerar renda e promover uma agricultura sustentável e a preservação do meio ambiente, foram fatores fundamentais para inserir a técnica em sua lavoura.

“Eu acho que ele tem uma série de benefícios e mais do que isso, acho que ele agrega muito valor. Se vier aumentar a produtividade ótimo, mas, na verdade, se a gente for pensar, a cadeia do café é muito grande e se nós conseguirmos fazer uma integração bacana com a cadeia dos apicultores, principalmente pequenos apicultores, melhorar a renda deles, eu acho isso simplesmente sensacional. Sem contar a parte ecológica, as abelhas chegam, ficam ali e depois são retiradas sem problema de mortalidade, ou seja, isso demonstra que gente está fazendo uma cafeicultura sustentável, equilibrada e isso para mim tem valor imensurável,” destacou.

Números
Mesmo focada em agregar valores ao seu negócio, a produtora destaca que já é possível perceber uma diferença com relação aos números. Após levantamentos e medições realizados juntamente à empresa responsável pelo projeto, a cafeicultora aponta uma certa evolução. Além de estudos da própria startup que demonstram aumento na casa de 18% na produtividade, Carmem destaca que houve também ganho na renda do café, mas que ainda pretende continuar analisando as áreas onde as abelhas atuam para entender como funciona todo o processo de polinização nas lavouras.

“O que a gente percebe é que nas áreas onde as abelhas atuaram tivemos um ganho na renda do café. Você pega dois litros de café, colhido ali na hora, da área onde as abelhas atuaram e dois litros de uma área onde elas não atuaram. Seca esse café, descasca e no final vê qual pesou mais. É o que a gente chama de renda e o café que teve mais renda foi realmente de onde as abelhas atuaram, tivemos uma renda superior na casa de 2,4%. São números fidedignos que a gente pode falar com muita propriedade,” analisou.

Segundo Joyce, a empresa começou atuando em quatro hectares em 2018, passando para 127 hectares na safra seguinte. Já na safra 2020/2021 o projeto esteve presente em 21 fazendas, totalizando 350 hectares, concentrados no Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Alta Mogiana.

A polinização assistida inteligente
Segundo a coordenadora do departamento técnico científico da startup, as abelhas são inseridas na lavoura, em espaço previamente selecionado, durante o período da flora principal e por lá ficam cerca de 10 dias. Ela explica que a polinização é uma forma de reprodução das plantas sexuadas, onde há a troca de gametas masculino, o pólen e feminino, o néctar. Quando abelha é inserida ou mesmo na natureza, ela se alimenta nessas plantas, atraída pelo néctar. Se a flor tiver gameta masculino e feminino, a abelha automaticamente consome também o pólen e ao migrar para outras flores, ela carrega esses grãos, momento em que ocorre a fecundação.

“A gente tem esse cruzamento genético, que é o pólen masculino caindo dentro de uma flor feminina. Biologicamente falando, quando a gente tem uma fecundação considerada perfeita ou uma fecundação com essa variabilidade genética, a planta investe mais nesse fruto, então ela investe mais açúcar, ela investe mais proteína, investe em tudo nesse fruto. O resultado são frutos maiores, grãos com mais doçura e em maior quantidade, porque planta vê naquele grão, que tem uma variabilidade genética, uma potência para manutenção da espécie. É aí que nós vemos todos esses benefícios na lavoura de café,” explicou.

As abelhas são responsáveis por cerca de 70% da polinização de todo alimento mundial. Por isso, a bióloga destaca que, ao introduzir abelhas em uma lavoura de café, existe uma preocupação ambiental agregada. Segundo Joyce, a sustentabilidade do agronegócio é assunto que vai além da produtividade.

“Existe todo esse marketing verde que a abelha remete, porque ela pode ser utilizada como um bioindicador, se tem abelhas, o ambiente está controlado e está sendo feito todo o manejo adequado, com uso de produtos corretos. Além disso, a gente pode utilizar as abelhas como bioinsumo também. Então, pensando nessa parte de sustentabilidade, as abelhas entram sim com aumento de produção e melhora na qualidade do grão, mas principalmente, tem papel fundamental na questão da sustentabilidade, que hoje em dia é de importância fundamental,” enfatizou.

Veja matéria completa: Polinização assistida inteligente…

Fonte: G1

Foto: Marcos Almeida